segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Mais um perigoso esquerdista a receber o prémio Nobel

Nobel da Economia atribuído a Paul Krugman. O motivo apresentado não poderia ser outro: o seu trabalho no âmbito da geografia económica. No entanto, o prémio tem o cheiro a oportunidade política. É que Krugman tornou-se, na última década um dos divulgadores de economia mais eficazes na crítica ao fundamentalismo de mercado (sendo ele um liberal de sempre), em particular na versão neo-conservadora da administração Bush (incluindo McCain no lote). Não estou certo qual será o impacto deste prémio nas eleições americanas, mas Obama viu catapultado para as primeiras páginas dos jornais um dos seus mais influentes apoiantes.

Tal como a sua prosa de divulgação, os trabalhos académicos de Krugman são caracterizados por um misto de inovação, simplicidade e eficácia. Criticado pelos entusiastas da formalização, Krugman não revela dotes de grande sofisticação matemática - sendo que a força dos seus modelos passa por pequenas coisas como a utilização de funções de utilidade pouco conhecidas que, aplicadas a novos domínios, permitem atingir resultados muito mais sensatos na análise da realidade (seja na explicação dos comércio entre países com níveis de desenvolvimento semelhante, ou nas tendências de polarização geográfica das actividades observadas em certos contextos e não noutros).

No entanto, os trabalhos de Krugman que mais prazer me deram ler foram aqueles em que o novo prémio Nobel despe o fato de académico e se torna num divulgador de assuntos de economia didático, claro, directo e quase sempre polémico. Peddling Prosperity (sobre história económica, em especial Keynes), The Return of Depression Economics (sobre as crise financeiras dos anos 90) e o mais recente The Conscience of a Liberal (sobre a evolução desigualdade nos EUA e o papel das políticas federais neste processo) fizeram-me acreditar que também a Economia ser objecto de divulgação científica. Nos últimos anos a sua coluna no The New York Times (e o blog associado) tornaram-se leituras regulares, principalmente em tempos de crise financeira.

A julgar pelos padrões habituais do comité do Nobel, não estou certo que o trabalho científico de Krugman forneça motivos suficientes para este prémio. E, no entanto, parece-me muito bem-vindo.

PS: poucos sabem isto, mas Krugman integrou uma missão do MIT (onde era na altura estudante de doutoramento) que, a pedido de João Cravinho, veio apoiar o governo português por alturas da primeira intervenção do FMI em Portugal, em finais da década de 1970. Ouvi-o uma vez dizer que essa experiência foi marcante na sua forma de olhar para as crise cambiais.

3 comentários:

  1. "mas Obama viu catapultado para as primeiras páginas dos jornais um dos seus mais influentes apoiantes."

    Influentes mas não entusiastas. Krugman sempre preferiu Clinton nas primárias. Nomeadamente por ter, na sua opinião, um melhor plano para a Saúde.

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  2. acho que foi o silva lopes que o convidou.

    nuno

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  3. O que ele diz da sua estadia:

    "What I learned from that experience was the power of very simple economic ideas and simultaneously the uselessness of theories that cannot be given operational content. In particular, my experience in a country in which it was a major challenge even to decide whether output was rising or falling gave me a lasting allergy to models that tell you that a potentially useful policy exists without giving you any way to determine what that policy is."

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