Confesso, que ao ler o Insurgente e esta posta, em particular, me sinto um pouco confuso. Mas antes de ir às fontes da minha confusão vale a pena responder aos pontos levantados sobre a não origem monetária do recente aumento da inflação. Carlos Guimarães Pinto facilmente poderia ter notado que no post que cita tem no título um (I), se calhar é porque existe um segundo post (II). Aí encontrará a explicação de como foi a especulação de mercado a responsável pela recente inflação, com exemplos e tudo. Aliás, a realidade das últimas semanas veio confirmar o que aí foi dito, com os preços dos bens alimentares a caírem abruptamente com os receios de recessão global. Também aí a bolha especulativa implodiu.
Mas vamos às fontes da minha confusão. Quando leio o insurgente fico com a impressão que usam os argumentos da escola austríaca e da escola monetarista, alternativamente, conforme dê jeito na sua defesa fundamentalista do mercado. Assim, se os argumentos são os austríacos e o que defendem é uma privatização da moeda, sugiro que olhem para a história do século XIX nos EUA, quando a moeda estava quase privatizada pelos bancos e se seguia o padrão-ouro à escala internacional. A segunda metade do século foi uma sucessão de recessões e depressões que não ficam nada atrás da de 1929. Se o entendimento monetário for monetarista, fica uma dúvida: a recente inflação seria causada por excessiva massa monetária, mas o que a actual crise financeira mostra é que existe falta de liquidez nos mercados devido à falta de confiança entre os bancos, com a consequente contracção do crédito. O próprio Friedman apontava a falta de resposta do Fed ao oferecer insuficiente massa monetária para a grande depressão de 1929. A inflação não é, pois, a consequência das injecções de liquidez por parte das autoridades monetárias. Aliás, estas têm vindo a crescer ao mesmo tempo que a inflação dá sinais de diminuir.
Razão tem o Pedro Sales quando diz que isto «de ser um gajo do Bloco a repetir os argumentos da Economist ou do FT, num blogue onde passam a vida a citar obscuros think thanks de fundamentalistas liberais, tem o seu quê de piada». É o que dá andar a responder a delírios oriundos da extrema-direita norte-americana do sul profundo.
Julgo que ainda é cedo para aferir acerca do efeito das injecções de liquidez sobre a inflação. Acresce que estas injecções para reanimar o mercado financeiro moribundo estão a ser apoiadas por descidas de taxas de juro concertadas. Se o petróleo voltar a subir de preço, no Inverno, julgo que estão reunidas as condições para a inflação começar a galopar.
ResponderEliminarEntretanto aguardemos que estas injecções e medidas, tomadas num momento de pânico bolsista, surtam efeito e vejamos o resultado.
Além disso, já se pensam noutras medidas concertadas (amanhã, domingo! vão reunir os responsáveis políticos dos países da UE, para concertarem mais medidas).
Com tanto remédio e tratamento, é melhor esperar esperar para ver como reage o moribundo, principalmente, quando a liquidez lhe começar a correr nas veias.
AMCD