segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A adaptabilidade do neoliberalismo

«É óbvio que a adaptabilidade vai permitir às empresas poupar nos custos com as horas de trabalho extraordinário». Strecht Ribeiro, destacado deputado do Partido Socialista, a reconhecer a austeridade assimétrica permanente que está inscrita nas políticas laborais deste governo. O trabalho como variável de ajustamento. Fala-se muito da crise do neoliberalismo. Se é verdade que a colossal crise económica aponta para a necessidade e para a possibilidade de alternativas robustas, também é verdade que, em Portugal, ainda quase nada mudou no campo das políticas públicas. O neoliberalismo está intelectualmente moribundo e só sobrevive à custa de truques cada vez mais desgastados. O romance do «mercado livre» não passa, aliás nunca passou, no crivo da veracidade. O progressivo reconhecimento disto e a recuperação de outras tradições intelectuais são um excelente sinal. O clima de opinião conta e muito. No entanto, a correlação das forças sociais e políticas ainda não se alterou significativamente. Isto é «apenas» questão de poder. A arte do neoliberalismo tem aliás consistido na capacidade de forjar estruturas de constrangimento que asseguram a continuidade das dinâmicas de polarização social e de mercadorização do trabalho e de outras esferas da vida. É sempre a mesma política: do BCE «independente» aos códigos de trabalho que aumentam a segurança dos patrões. É esta política que tem de ser derrotada à esquerda.

6 comentários:

  1. Concordo plenamente com o J. Rodrigues em que é uma questão de poder. Mas, a questão é ver se a população tem esse poder ou se, pela contra, não vai dar. Eu não acreditaria em mudanças muito rápidas. Já o disse aqui:

    http://aconjuradosnescios.blogspot.com/2008/10/o-mundo-vai-continuar-na-mesma.html

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  2. Qual a alternativa que defende ? As empresas fecharem por não acompanharem a concorrência, só pode.

    Talvez aí deixasse de haver a "mercadorização do trabalho". Igualzinho a Bento XVI, de facto.

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  3. Esta crise poderia de facto ser a grande oportunidade de uma boa parte da esquerda voltar à arena das decisões políticas. Poderíamos mesmo começar pela ideia fundamental de que é indesejável um sistema em que o "arrefecimento" salarial é supostamente compensado pelo crédito fácil...

    Mas não me apercebo de nenhuma estratégia relevante pela qual essa esquerda possa ter um papel activo na decisão política. Pelo contrário, acredito que mais facilmente teremos um ataque impiedoso da direita ao que resta do estado social do que essa viragem à esquerda do mainstream ideológico. Ao contrário do que se tem sugerido aqui, não me parece que o neo-liberalismo esteja derrotado e inerte.

    Aliás, nem sei se algumas das soluções que aqui no Ladrões de Bicicletas têm sido defendidas (os défices "incalculáveis", por exemplo) não acabariam por ser trunfos entregues ao adversário...

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  4. "For although the market cult has suffered a cataclysmic defeat in the last few weeks, it is by no means dead. It has 30 years of entrenchment in power to fall back on. And the leader of every major political party in the West has spent their entire political career within the cult's confines. It has been the atmosphere they breathed, it has been the sole ladder by which they have climbed to prominence. They will be loath to abandon it, once the immediate crisis is past; most will not be able to. "

    Chris Floyd

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  5. Que os políticos têm o rabo preso neste projecto económico já se sabia... basta ver quais são as recompensas que são oferecidas pelo sector privados aos políticos que se reformam (presumo que por serviços prestados enquanto ao seviço do "povo").

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  6. Este Sr Strecht é de facto um individuo sinistro.
    Tão depressa diz como desdiz e sempre com uma arrogância insuportável e mesquinha.
    Ele é, aliás, junto com o seu chefe-o ...Pinto de Sousa- um dos icones da arrogância deste PS(D) miseravel,quer em si mesmo quer das suas politicas neo-liberais.

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