Como escrevi na semana passada no esquerda, a desconfiança actual, ao contrário do que acontece com os activos criados pelos alquimistas da finança, tem um preço claro: a taxa de juro dos títulos do tesouro norte-americanos de curto prazo tornou-se, há alguns dias atrás, negativa, ou seja, os especuladores preferiram o prejuízo seguro dos activos do Estado às forças obscuras da incerteza dos mercados monetários. James Galbraith assinala que é agora possível aos EUA financiarem uma estratégia de investimento público com emissão de dívida de longo prazo a taxas mais reduzidas. Isto oferece uma pista para sair da crise: «new deal verde».
Na Europa, como propôs há já algum tempo Stuart Holland, um economista de esquerda, a União Europeia deve poder emitir «euro-obrigações», como parte de uma estratégia europeia coordenada de investimento público. Se temos moeda única e mercados integrados, temos de ter um orçamento federal com peso e dívida pública europeia. Para não falar de um sistema fiscal e de mecanismos públicos de controlo dos mercados financeiros comuns. E de um banco Central com outro mandato. O tempo do Estado mínimo europeu tem de acabar. Precisamos de muito mais planeamento e de coordenação a esta escala. Do desenvolvimento de tecnologias amigas do ambiente, ao reforço das infra-estruturas de transporte ferroviário, passando pelo combate à pobreza e às cavadas assimetrias regionais, há muitos projectos de curto, médio e longo prazo para desenvolver. Políticas públicas europeias para combater a crise. É preciso pensar nisto e já agora ler João Pinto e Castro: «o que o mercado nos diz é que, neste momento, os investidores estão dispostos a financiar projectos estatais, mas não privados». Ideias não faltam.
A esquerda tem que ter iniciativa. Há muito a aprender com Milton Friedman: « Estou convencido que esta é a nossa principal função: desenvolver alternativas às políticas existentes, mantê-las vivas e disponíveis até que o politicamente impossível se torne politicamente inevitável».
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