sexta-feira, 4 de julho de 2008

Finança com rédea mais curta

Até aos anos noventa, a existência de controlos de capitais, que permitiam aos governos gerir os fluxos que mais convinham às suas economias, foi um dos segredos do bem sucedido modelo de desenvolvimento do sudeste asiático. Depois veio a liberalização e a crise asiática. Uma das razões para o sucesso económico chinês foi ter sempre evitado a liberalização da sua conta de capital e ter retido um vasto sistema de controlo de capitais. Tal como tinham feito a esmagadora maioria dos países europeus, do pós-guerra até à década de oitenta. Lições da história e, entre outros, de Keynes. Isto foi antes da neoliberalização da esfera financeira ter gerado uma crescente e perniciosa hegemonia da finança de mercado. A evidência empírica e teórica não mente. Apesar de alguns economistas, como Campos e Cunha, continuarem rendidos a um insustentável fundamentalismo, que vê a especulação como um elemento estabilizador das economias. A fé não se discute. Felizmente, o governo chinês não aderiu a este romance do mercado de manual e, face ao maciço e potencialmente desestabilizador influxo de capitais especulativos, prepara-se para reforçar o seu sistema controlo de capitais (Financial Times). Diminui assim a probabilidade de uma crise de grandes dimensões.

2 comentários:

  1. De facto João, os capitais especulativos podem ser bastante destabilizadores da economia.
    E eu penso que os economistas cometem um erro. Quando alguns economistas afirmam que a especulação assegura a eficiência, talvez queiram dizer antes que a arbitragem assegura a eficiência. A arbitragem, sim, leva a que os preços de mercado sejam os correctos. Enquanto a arbitragem é uma actividade que não envolve qualquer risco, a especulação é uma actividade por natureza arriscada e que potencia o aumento do risco. Veja-se o que acontece presentemente no mercado das matérias-primas e bens alimentares, onde os especuladores causam uma externalidade negativa sobre toda a economia, apenas em nome do lucro individual. Por isso, eu concordo com George Soros, quando defende que os Hedge Funds não deveriam poder negociar no mercado das commodities. Este mercado deveria ficar reservado a empresa ligadas ao sector.

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