A taxa de juro de referência voltou a subir, contra a vontade de “sindicatos, federações patronais, grandes empresas exportadoras e alguns líderes de Governo europeus” e, acrescento eu, apesar das críticas bem fundamentadas de vários académicos (ver por exemplo Bibow). Recordemos J-C Trichet no seu melhor: “Já disse vezes suficientes que eu sou o Senhor Euro. Que não haja dúvidas: emitimos a moeda e eu assino as notas.”
Claro que esta arrogância só é possível porque a arquitectura da política económica da União Europeia tem o cunho da ortodoxia monetarista. Dela faz parte a absoluta independência do BCE e a primazia do objectivo “estabilidade dos preços” sobre o do crescimento e emprego. Éloi Laurent, economista do OFCE , fez uma leitura crítica do “Tratado de Lisboa” e concluiu: “No seu conjunto, o “Tratado Reformador” traduz-se numa reforma conservadora do governo da zona euro, no duplo sentido do termo. Não mudará a arquitectura actual das instituições da política económica da zona euro e, por conseguinte, não corrigirá as suas deficiências. Mas também confirma o enviesamento restritivo do actual sistema: reforçando a independência do BCE, inclusive (por omissão) no domínio da política cambial; reforçando a disciplina orçamental sem promover uma melhor coordenação; finalmente, falhando na construção de uma soberania económica coesa necessária à consistência política de uma zona euro economicamente integrada.”
Assim, em flagrante contraste com os EUA, a Zona Euro está desprovida de política orçamental e política cambial e, para agravar a situação, tem um Banco Central "lento a baixar as taxas e rápido a subi-las." Éloi Laurent remata o seu texto com a seguinte pergunta: “Será que uma grande crise é a única forma de convencer os estados-membros da zona euro a governarem a sua economia?”
Talvez a crise que hoje vivemos na UE (também política) se possa converter numa boa oportunidade para essa mudança institucional. Mas, para isso, a esquerda europeia terá de ultrapassar divisões estéreis e assumir finalmente que também é sua responsabilidade governar a economia, o que implica mudar a actual “constituição económica” da UE.
É o resultado de ter um monopólio de estado. O BCE dá à rotativa, decreta a aceitação coerciva do seu papel fiduciário, cobra o juro que lhe apetece, alegando motivações esquisitas e obscuras tais como o controlo da inflação e o controlo dos ciclos económicos.
ResponderEliminarComo em qualquer monopólio, arrecada em detrimento dos consumidores. Como qualquer monopólio apenas sobrevive porque o estado assim o estipula.
O Filipe Sousa tem tanta falta de curiosidade para questionar os seus dogmas que nunca percebeu a natureza desta coisa que ee a moeda, e porque ee que as sociedades proosperas evoluiram para um monopoolio coercivo na emissao monetaaria...
ResponderEliminarO Filipe Sousa anda a ler estes novos libertaarios de quem Hayek e Mises teriam tanta vergonha...
Nao faria ao Filipe Sousa mal nenhum ter um choque de Abba Lerner e ler um pouco sobre Functional Finance para perceber o que ee esta coisa da moeda, da sua procura, e da sua oferta...
State money meu caro...
"motivacoes esquisitas e obscuras"?!?!
Joao Farinha
Um dos argumentos favoritos que eu gosto de ler entre as pessoas que não têm argumentos é "falta-te leitura, está tudo nos livros"
ResponderEliminarMeu caro Filipe Sousa, nao estaa tudo nos livros, de facto... mas muita coisa que estaa ajuda a perceber a realidade, e muita outra coisa que estaa ajuda a alimentar dogmas...
ResponderEliminarMas os livros ajudam as pessoas a perceber a realidade sobre a qual formam e emitem opiniao, e quando se quer perceber algo, faz todo o sentido questionar "over and over again" aquilo em que acreditamos...
O Filipe Sousa tem uma aberracao aa palavra monopoolio, mas sem perceber essa realidade, e por isso usa esse "blanket argument" contra qualquer coisa (bem ou servico) que de facto "necessite" de um soo produtor... a menos que o Filipe Sousa saiba algo que todos os que teem tentado explicar as origens da poliitica monetaaria, e esta realidade que ee uma economia monetaaria nao conseguem, entao tem mesmo que ler um pouco mais sobre o que essa palavra significa quando aplicada aa emissao de moeda...
Nas palavras de Modigliani, esse "radical" que era Abba Lerner podia ser um ponto de entrada... basta um pouco de curisidade intelectual... o tempo que passa a opinar, passava-o a ler, e a perceber a coisa mais interessante que existe em economias modernas: fiat money.
Boas leituras, se for curioso
Joao Farinha
Claro Filipe Sousa, que se tiver preguica intelectual para perceber esta realidade chamada fiat money e porque ee que um monopoolio do estado ee crucial para uma sociedade, pode sempre deixar o estudo recomendado de lado e simplesmente (i) continuar a opinar, ou (ii) ainda pior, ficar-se pela explicacao que se segue.
ResponderEliminar"Fiat money" e as economias monetaarias modernas sao o culminar de uma longa evolucao institucinal que experimentou muitas outras solucoes para um conceito de moeda que facilite o desenvolvimento nao soo das trocas mas tambeem da producao... um monopoolio do estado emergiu como solucao ideal pela natureza e papel desta coisa fascinante a que chamamos moeda.
Ao contraario de uma laranja, o benefiicio que eo detenho em deter moeda numa economia ee dependente de quantos outras (dentro ou fora dela) a querem usar nas trocas (mas tambeem como reserva de valor). Isso dita "network effects" que ditam porque ee que este ee um monopoolio natural.
A excepcao sao economias dolarizadas (ou eurorizadas, no sentido em que uma moeda emitida por um monopoolio estrangeiro impera) onde a moeda nacional nao beneficia de qualquer procura, ou porque a irresponsabilidade imperou no passado, ou porque haa poucos motivos para eu a deter (e.g. riel no Cambodja). Estes processos teem benefiicios, mas custos enormes tambeem (jaa que as economias passam a ser reguladas por choques externos)...
Normalmente, um processo de des-dolarizacao (que nao seja coercivo) comeca com um dos principais ingredientes de suporte de "state money": aa medida de que a colecta de impostos e tarifas de "utilities" tem que ser feita com moeda nacional, a funcao procura dessa moeda aumenta, possibilitando maior emissao monetaaria sem alterar taxas de juro...
Economias modernas sao economias monetaarias que chegaram ao auge deste processo institucional, em que o "state money" impera, e em que a moeda escolhida por todos estaa completamente estabelecida. Se eu aparecer em Portugal com 100 doolares para pagar um almoco, o gajo do restaurante diz-me para dar uma volta ao bilhar grande, que em Portugal usa-se o euro. O ganho tinha que ser muito grande para ele se dar ao trabalho para ir ao banco trocar a moeda.
Como em qualquer monopoolio, o preco da emissao nao ee exterior aa decisao do emissor, e o emissor tem mesmo que escolher a que preco expande a massa monetaaria necessaaria aa economia... melhor que seja o estado (com uma funcao objectivo perfeitamente identificada), a uma qualquer outra entidade nao?
Que tal este niivel de abstracao Filipe Sousa? Repara que fica muito melhor servido se tiver curiosidade para estudar por voce mesmo o "porque" destas coisas? Haa muitas coisas que jaa estavam estabelecidas quando nascemos... mas nem por isso sao erradas... apenas teem que ser estudadas...
Quer mais exemplos?
Nem interessa O QUE ler, apenas LER. Eu sei citar muitos autoores sei láa
ResponderEliminarQuanto ao exemplo do dolar, bem esse falha redondamente. existe sempre um montante para o qual o comerciante está disposto a aceitar os dólares. de qualquer forma tanto o euro como o dolar são pedaços de papel que ganha valor por dia da força bruta (aceitação coerciva) dentro dos seus respectivos santuários. Fosse permitida a emissão de uma segunda moeda privada que essas notas emitidas pelos falsários de frankfurt iam ser despachadas mais depressas que qq moeda preta. Gresham explica.
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