quarta-feira, 9 de julho de 2008

Desgoverno da política económica é o principal inimigo da UE

O BCE tornou-se um aliado do Não irlandês ao Tratado de Lisboa. No meio de uma crise do imobiliário, os Irlandeses vêm os seus empréstimos tornarem-se mais caros e sabem que isso se deve à política monetária da UE. Depois da última subida da taxa de juro é preciso ser muito optimista para acreditar que a Irlanda aprovará o Tratado dentro de um ano, mesmo que acompanhado de um anexo clarificador de aspectos polémicos.

Por outro lado, este aumento da taxa de juro vai reforçar a corrente de opinião que na Itália pondera o abandono do euro. Uma eventual recessão na Zona Euro em 2009, em boa parte imputável à orientação do BCE, poderia criar um clima favorável ao aparecimento deste mesmo debate noutros países. Neste contexto, só espanta que analistas encartados e governantes continuem a insistir na tese de que o problema da UE está na falta de “comunicação” entre as elites e os cidadãos.

Em Portugal a esquerda (ainda) não foi capaz de questionar o argumento da “espiral inflacionista” que o BCE utiliza para justificar a sua política restritiva. Num tempo de estagnação económica na Zona Euro, e após décadas de terciarização das economias acompanhada de um enfraquecimento generalizado do sindicalismo, o BCE gere a política monetária com se estivesse nos anos 70. Não reconhece que as estruturas económicas e sociais de hoje estão longe de favorecer a conversão de uma inflação importada numa inflação puxada pelos salários. Segundo George Irvin, “é altamente improvável que venhamos a assistir à repetição de uma estagnação acompanhada de inflação a dois dígitos (estagflação). O que é mais provável é uma estagnação com baixa inflação. O pior cenário para a UE é que o excessivo zelo anti-inflacionista [do BCE] nos conduza a uma deflação de tipo japonês por uma década ou mais.”
É caso para dizer que o monetarismo do BCE se tornou num perigoso incendiário das sociedades europeias (ver a análise de Patrick Artus, professor de política monetária na Sorbonne).

8 comentários:

  1. Não pondo em causa a qualidade desta ultima decisão, julgo que é benéfico para todos termos o poder orçamental e o poder monetário separados.

    Até o "melhor" dos nossos economistas - Cavaco - se deu mal com estas duas juntas.

    Talvez o maior problema com o BCE não é tanto o seu objectivo ou poder mas sim os seus dirigentes (mas esse fomos nós que indirectamente colocamos lá).

    "Uma eventual recessão na Zona Euro em 2009, em boa parte imputável à orientação do BCE, poderia criar um clima favorável ao aparecimento deste mesmo debate noutros países."

    Julgo que é uma estupidez defender-se o fim do euro por causa de uma recessão, mas essa seria uma discussão diferente.

    Mas para o problema actual o que farias:

    1-Baixavas?
    2-Aumentavas?
    3-Mantinhas igual?

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  2. Entretanto, os bancos continuam a ganhar muito dinheiro com a contínua subida das taxas de juro. E continuo sem saber quem é Trichet nem para quem trabalha.

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  3. Cada vez há mais aliados do Não irlandês. Vá acompanhando as breves mas (espero que) destaques e comentários do meu No To Lisbon Treaty - Europa Libera (http://notolisbontreaty.blogsome.com)

    O problema da UE, enquanto super-estado federativo, está mesmo "na falta de "comunicação" entre as elites e os cidadãos". Ou, dito de outro modo que prefiro, na falta de democracia das suas estruturas de poder.

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  4. "Cada vez há mais aliados do Não irlandês. Vá acompanhando as breves mas (espero que) destaques"

    Passei para ver se havia reacções ao meu comentário e deparei-me com o texto sem sentido acima. Deve ler-se:

    "... Vá acompanhando os breves, mas (espero que) incisivos destaques..."

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  5. "...na falta de democracia das suas estruturas de poder."

    Alguém encontra uma outra alternativa viável? É que parece que se aponta demasiadas vezes os defeitos sem nunca apontar uma alternativa viável.

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  6. As alternativas são ideológicas, jamais puramente lógicas, e partem do exercício de darmos para a vista os problemas. Como ideologia, sou dos que não acreditam no internacionalismo (também não no autarquismo social), nem na necessidade de haver um mercado exterior potente, quando nem temos mercado interior saudável. Como mercado, também temos é que volver potenciar as relações, digamos, intracomunitárias acima das relações intercomunitárias. Eis a minha proposição, mas, claro, é apenas uma proposição. E também tem problemas.

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  7. Caro Oscar,

    Embora não concorde com a sua opinião, achei muito interessante a sua análise.

    No entanto julgo que apresenta a sua visão como alternativa quando parece-me que não o tenha que ser obrigatoriamente...

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  8. Por suposto, caro Stran: acima assinalei que também apresenta problemas. É uma visão pessoal, acho que saudável, mas reconheço também o que poda haver de saudável noutras propostas. Um dos buracos pretos deste mundo é, de facto, a tendência a irmos uniformizando tudo. Diferentes necessidades deveriam dar diferentes alternativas, convivendo assim uma multidão delas. Mas, isso é outro tema.

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