quinta-feira, 8 de maio de 2008

Cartas reais

Este artigo de Tariq Ali ajuda a compreender a trajectória da terceira via, movimento agora em crise terminal: «Espantados com Margaret Thatcher, Blair e Brown copiaram as suas medidas para dentro do seu próprio partido, espremendo para fora de si próprios, gota a gota, as velhas ideias social-democratas. Todos se tornaram fundamentalistas do mercado». A promoção política da entrada das forças de mercado no espaço dos serviços públicos é uma das mais perniciosas heranças da terceira via. Em Portugal, com um dos partidos socialistas mais à direita da Europa, a terceira via foi, e continua infelizmente a ser, parte do ar do tempo. Agora vejam esta notícia: no Reino Unido, e num dos serviços públicos mais cruciais e simbólicos, os correios, o processo de comercialização e de abertura aos privados não gerou quaisquer benefícios para os consumidores ou para as empresas e coloca em risco o serviço público. Conclusões de um relatório independente. Como diz Neal Lawson do Compass: «a comercialização dos serviços postais representa um triunfo do dogma do mercado livre sobre o senso comum». Recuperando as melhores tradições do socialismo britânico, que sempre se preocuparam com o tema das relações entre as instituições públicas e os valores prevalecentes, Lawson afirma: «Instituições sociais como o correios contam. São os locais onde os valores sociais podem florescer. O Royal Mail não é um bastião do socialismo. Mas trata-se aqui do universalismo, da igualdade, do acesso e do ethos público». Que têm ido erodidos no Reino Unido. Em Portugal vamos poder um dia contar uma história com algumas semelhanças. O ponto de partida é bem mais frágil. Aqui está um bom projecto de investigação.

17 comentários:

  1. Boa tarde a todos,

    Estou neste momento a iniciar um "dossier" sobre o liberalismo que irei desenvolver ao longo deste mês no meu blogue (é só seguir o link no meu nome) e gostaria de vos convidar a participar.

    Visto que nesta temática vocês têm opiniões mais acertivas e fundamentadas seria bastante interessante a vossa participação.

    A vossa participação pode ser através de comentários, ou envio de artigos para publicação ou outras sugestões.

    Desculpem ter utilizado este espaço para este fim.

    Obrigado a todos,

    Stran

    ResponderEliminar
  2. Certo. Os governos que se dizem socialistas, e que estão simplesmente com a palavra socialismo, mas não com a prática, costumam desenvolver estas obscenidades. Não falo apenas do correio real britânico, mas dos serviços mesmo muito mais próprios de qualquer sistema de bem-estar, como a saúde ou a gestão de emergências. Podo pôr um exemplo: na Galiza, os serviços de emergências estão privatizados mediante concessões de exploração, embora haver um governo de coligação de tipo socialista. É certo que nas políticas de bem-estar, o governo galego está a marchar por diante do resto da Espanha, vindo de muito atrás e já marchando à cabeça, mas, na questão económica a população observa uma vez após outra a multidão de traições que o PSOE exercita. Alguém acredita, nesta altura, que qualquer partido socialista vai ser socialista para além do âmbito das políticas sociais? Porque, se as políticas sociais não são socialistas, onde é que se para?

    ResponderEliminar
  3. Todos se tornaram fundamentalistas do mercado

    se o mercado é a ausência de coacção, foram fundamentalistas em quê?

    ResponderEliminar
  4. Tadinho do Flip -- só tem um martelo na caixa de ferramentas.

    ResponderEliminar
  5. "se o mercado é a ausência de coacção..."
    Coacção fisíca ou psicológica?

    ResponderEliminar
  6. De qualquer tipo de coação, física ou psicológica.

    ResponderEliminar
  7. parece-me que o mercado é a ausência da coação psicológica quando é a ausência dos seus intervenientes...

    ResponderEliminar
  8. De forma alguma. Os intervenientes são meus parceiros apenas se eu assim o decidir. Alguém que produz um bem caro, não me coage psicologicamente a não o comprar.

    ResponderEliminar
  9. "Os intervenientes são meus parceiros apenas se eu assim o decidir. Alguém que produz um bem caro, não me coage psicologicamente a não o comprar."

    Quase todas as decisões que tomamos são condicionadas, essa liberdade que defendes existir só existe realmente para uma franja da população muito diminuta, o resto são relações de dependências.

    ResponderEliminar
  10. Enganas-te. Eu defendo uma sociedade sem qualquer tipo de coacção. Quem não se quiser associar a um terceiro, é perfeitamente livre de não o fazer.

    ResponderEliminar
  11. "Eu defendo uma sociedade sem qualquer tipo de coacção. Quem não se quiser associar a um terceiro, é perfeitamente livre de não o fazer."

    Uma sociedade liberal não é sinónimo de uma sociedade mais livre. Quando existem relações de dependência é dificil uma pessoa ser-se livre.

    O caminho para essa sociedade mais livre não passa necessariamente pelo liberalismo (eu defendo mesmo que numa primeira fase não passa) pois dessa forma apenas reforças as relações de depêndencias e retiras liberdade a uns para a entregares a outros.

    "Quem não se quiser associar a um terceiro, é perfeitamente livre de não o fazer"

    Vejo que utilizas este tipo de argumentação aqui e noutros exemplos, no entanto mesmo com tantas criticas que tens a esta sociedade e a este modelo não sais de Portugal. Será que realmente és livre de o fazer?

    ResponderEliminar
  12. Não sei que raio de país livre preconizas, em que a única liberdade que tem é a de sair de algo tão mau.

    ResponderEliminar
  13. "Não sei que raio de país livre preconizas, em que a única liberdade que tem é a de sair de algo tão mau."

    Desculpa Filipe mas este teu comentário foi resposta a que frase minha?

    ResponderEliminar
  14. Pela tua definição de liberdade, Cuba é um país livre. Afinal os Cubanos não livres de fugir de lá.

    ResponderEliminar
  15. "Cuba é um país livre. Afinal os Cubanos não livres de fugir de lá."

    Pelo contrário esse é normalmente o argumento que utilizas para defender a tua visão de sociedade.
    Acredito precisamente o contrário e que Cuba não é livre.

    ResponderEliminar
  16. mesmo com tantas criticas que tens a esta sociedade e a este modelo não sais de Portugal.

    mas quando se fala de Cuba
    Acredito precisamente o contrário e que Cuba não é livre.

    ResponderEliminar
  17. Julgo que as descontextualizaste as frases.

    Dizias que eu achava que Cuba era livre, eu disse-te que não e que julgo que não é livre.

    Já a frase de Portugal está relacionado com a tua visão de liberdade.

    ResponderEliminar