quarta-feira, 16 de abril de 2008
Liberalização financeira e crise
Até há relativamente pouco tempo, só alguns economistas heterodoxos, com conhecimento de história económica e das dinâmicas do capitalismo realmente existente, defendiam que os processos de liberalização financeira tendem a gerar um acréscimo da turbulência. A realidade das últimas três décadas confirmou as suas «previsões de padrões». No final dos anos noventa, o Banco Mundial, com Joseph Stiglitz como economista-chefe (antes de ser alvo de uma purga), começou a publicar estudos onde se podia ler: «as crises financeiras tornaram-se mais frequentes desde o início dos anos oitenta» e isto «tem sido associado ao aumento dos fluxos internacionais de capitais - especialmente fluxos privados - para os países em desenvolvimento e à crescente integração desses países nos mercados financeiros internacionais». O FMI, timidamente, começou a dizer a mesma coisa. Sem mudar as suas prescrições. Agora, Carmen M. Reinhart e Kenneth S. Rogoff (ex-economista-chefe do FMI) publicaram um estudo na série de documentos de trabalho do NBER que dá «uma visão panorâmica de oito séculos de crises financeiras». Um dos resultados: «os períodos de elevada mobilidade de capital produziram repetidamente crises bancárias, não só nos anos noventa, mas historicamente». A liberalização tende a gerar um aumento da instabilidade sistémica. Martin Wolf do Financial Times, o meu economista liberal preferido, tem toda a razão: «A concorrência não funciona bem na finança. Os ‘produtos’ da indústria financeira são promessas para um futuro incerto, vendidas como sonhos que se podem transformar em pesadelos». John Maynard Keynes, John Kenneth Galbraith ou Hyman Minsky não diriam melhor.
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