sábado, 16 de fevereiro de 2008

Um só combate

«Manuel Carvalho da Silva associa desigualdades sociais a corrupção» (Público). E associa muito bem: «o combate às desigualdades e à corrupção, a exigência do exercício do poder com ética de forma a dar espaço para que todos os portugueses tenham voz e influenciem as decisões e acção política, são imprescindíveis». Como já aqui procurei argumentar, existe evidência empírica e argumentos plausíveis mais do que suficientes para associar estes dois problemas. Sociedades com desigualdades de rendimento e de riqueza muito acentuadas são sociedades que dão livre curso à insolência do poder do dinheiro concentrado que tende a extravasar a sua esfera politicamente delimitada. Hoje, o programa neoliberal do «socialismo moderno», que entrega ao sector privado a gestão de áreas que correspondem a funções sociais do Estado, só acrescenta novos mecanismos a estes processos. A luta pela defesa da provisão pública deve traçar linhas claras. Em nome da igualdade e da decência.

1 comentário:

  1. A associação das desigualdades sociais à corrupção é mais que legítima, quer como causa quer como consequência. O desequilíbrio social cria um desfasamento que permite que exista uma classe "bem informada" sobre os mecanismos de contornar a lei, e que exista, em simultâneo, uma classe que ainda nem sequer se apercebeu de como isso a lesa.
    Por outro lado, a corrupção aumenta o fosso entre classes por isso mesmo, porque são as classes mais altas que têm os mecanismos e o conhecimento para corromperem o sistema, enquanto as classes mais baixas, nem que tenham o conhecimento, não estão na posição em que possam de facto ter uma actividade lucrativa pela via da corrupção.

    Os pobres não têm terrenos aliciantes para permuta, não trabalham no mundo do futebol, não tem muitas casas para especular no mercado, não trabalham em altos cargos de decisão, não podem pagar a advogados para conhecer melhor os buracos (negros) da lei, não têm dinheiro para entrar no mercado da especulação bolsista (nem a informação privilegiada).

    A corrupção só faz sentido se tiver alguma exclusividade, caso contrário não podia ser lucrativa, o lucro desta advém dos prejuízos que se causam aos demais...obrigado contribuintes.

    A corrupção é um eufemismo de roubo, o pobre rouba, o rico é suspeito de corrupção.

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