David Frum é um «ideólogo» que ficou conhecido como escrevinhador de discursos de Bush. Parece que a expressão «eixo do mal» foi cunhada por si. Agora é investigador do American Enterprise Institute, um desses bem financiados «think-tanks» que fazem parte do que o economista Philip Mirowski chamou recentemente a «tecnologia de persuasão» do «colectivo intelectual neoliberal». Ontem em artigo no Financial Times Frum faz uma interessante radiografia da hegemonia alcançada pelo tal colectivo nos EUA. Reconhece que, desde os anos oitenta, é ele que domina o debate e define os «limites do possível»: «Quais foram as maiores realizações da presidência de Clinton? Equilíbrio orçamental, reforma dos apoios sociais [corte seria mais apropriado] e expansão da NATO [o desmantelamento de parte importante do sistema de regulação financeira herdado do New Deal também não pode ser esquecido]. E de Jimmy Carter? A liberalização da aviação e do gás natural».
O resto do artigo tenta mostrar que este ciclo de hegemonia está esgotado com o notório avanço democrata e com as reformas que estão a ser propostas para as áreas da saúde e da finança. Tenho muitas dúvidas e acho que há aqui uma tentativa para gerir e suster o recuo inevitável depois do desastre de Bush. Uma coisa parece certa: haverá sempre dinheiro a correr para financiar os combates ideológicos da direita intransigente. Neste campo nada é deixado ao «mercado». Esquecendo o dinheiro por um momento: a esquerda tem algumas coisas a aprender com o construtivismo intelectual da direita. Além disso, esta gente não confunde derrotas políticas com derrotas no campo das ideias. Mais uma lição. Não é que as ideias não se revejam, mas há que fazê-lo porque concluímos que estávamos errados e não porque perdemos politicamente. Aliás o facto desta direita nunca tender a fazê-lo pode ser uma das suas grandes fragilidades.
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