Paulo Pinto Mascarenhas fica muito incomodado cada vez que alguém usa a expressão neoliberal. Não percebo porquê. Está mal quem não conhece a história das ideias que defende. Nos anos quarenta e cinquenta, os ideólogos de referência deste movimento intelectual e político - F. Hayek e Milton Friedman - usavam-na. Depois deixaram-se disso. Ainda não percebi porquê. Mas ela continuou a circular, como tantas outras, entre o discurso político e académico. Está tudo neste longo artigo de Jamie Peck que traça a história intelectual dos primórdios do neoliberalismo, essencialmente nas décadas de quarenta e cinquenta, antes da conquista da hegemonia nos anos oitenta. Existe hoje trabalho académico sério e rigoroso no campo da história das ideias e da teoria social. Este usa a expressão para se referir a um conjunto vencedor de ideias assentes na reconfiguração do Estado para o subordinar à promoção de processos de engenharia mercantil à escala global com o correspondente reforço do poder da empresa capitalista. Ideias que recriaram uma «mentalidade de mercado» que legitima as desigualdades que estes processos «inevitavelmente» geraram.
Nota: a fotografia mostra o primeiro encontro da Mont Pelerin Society. Um dos momentos charneira da história do neoliberalismo. Um punhado de académicos, jornalistas e políticos com ideias derrotadas e impopulares, mas com a ajuda de alguns financiadores privados generosos, reúne-se pela primeira vez, depois da 2ªGM, para «pensar o impensável».
Hipótese: será que deixaram de usar o titulo de neo-liberais para não terem um rótulo político e assim passarem por politicamente neutros, baseados apenas na "ciência das leis naturais do mercado"?
ResponderEliminarSe foi isso, resultou. A quantidade de gente supostamente inteligente que vê tudo isto a acontecer, e encolhe os ombros e diz: "È assim mesmo...é a vida...são as regras do jogo..." nunca deixa de me espantar.
João, não terão deixado de usar a expressão neoliberalismo porque a expressão "liberal" nos Estados Unidos está associada quase ao oposto do que é defendido por Friedman e Hayek e porque foi neste país que as suas obras encontraram expressão durante as décadas de 50 e 60?
ResponderEliminarRealmente convém saber alguma coisa sobre a história das ideias.
Ngc, é uma explicação possível. Já tinha aludido a isso aqui para outra discussão:
ResponderEliminarhttp://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2007/12/liberalismos.html. O Hayek tem um texto em que fala desse problema da "apropriação" da expressão.
De qualquer forma, o uso da expressão neoliberal foi ocasional, tanto quanto me apercebo. Coisa de discursos e de textos de jornal. Houve uma altura em que Hayek se preocupou com designações. Depois deixou-se disso. Se calhar pelas razões que o L. Rodrigues aponta. De qualquer forma os neoliberais sempre se reclamaram da ideia da chamada neutralidade axiológica. Quanto ao "naturalismo", sempre foi fonte de tensões. Como é que pode ser natural aquilo que tem de ser construido e defendido com tanta tenacidade?
A questão central é mesmo a das "regras do jogo". Há uma frase do Hayek de que gosto particularmente e que citámos no primeiro post deste blogue: "nada é inevitável na existência social e só o pensamento faz com que as coisas sejam o que são".
João Rodrigues, não seja tão maçador com essa sua pretensão de que dá lições aos outros sobre as ideias que defendem. Para quem exige rigor académico convém não passar os dias a inventar neoliberalismos em tudo o que não é socialismo radical - como por exemplo nas políticas sociais-democratas de Sócrates. E, depois, essa tendência para a citação alheia - mesmo que seja fora do contexto - a cada parágrafo que escreve, do prémio Nobel de 1965 ao seu camarada do lado, afasta qualquer possível disposição que pudesse alguma vez ter para debater consigo. Assim, as suas lições ficam para si e para os seus amigos. Passe bem.
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ResponderEliminarEste PPM é um mauzão! Se calhar é mais pândego. Diz ele: "Passe bem". Ficou ofendido como um puto de 10 anos! Que falta de classe, meu Deus!
ResponderEliminar4 Hero
Já não há pachorra para Paulo Pinto Mascarenhas mais a sua "Atlântico", uma espécie de "Pravda" soviético às avessas...
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