quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Lucros e salários

Jcd do blasfémias questiona-se sobre a preocupação da esquerda com os «lucros privados». Não é só a esquerda que anda precupada com a questão que importa: «Tenho esperado e continuo à espera de alguma normalização na partilha do lucro e dos salários (. . .) a parte dos salários no valor acrescentado é historicamente baixa ao contrário da produtividade que está incessantemente melhorar». Alan Greenspan, um economista com credenciais neoliberais mais do que suficientes. É evidente que para os liberais do romance de mercado nada disto importa. Um «somatório de transacções voluntárias de mercado» não pode ser ser questionado e de qualquer forma tudo correrá pelo melhor no longo prazo. Acontece que isto é uma ficção. Porque o resultado que Greenspan identifica é o produto dos processos de engenharia social que alteraram as regras do jogo e as instituições que influenciam quem se apropria do quê e porquê. Nada disto é natural ou amoral. E depois temos as consequências destes padrões. Crescimento insuficiente do investimento (é paradoxal o que acontece quando os capitalistas são bem sucedidos como classe), promoção de maior recurso ao endividamento para superar os défices de procura, aumento da fragilidade financeira e crises recorrentes. É interessante ler as revistas ditas liberais da área: por exemplo, defendem a «liberalização» do mercado de trabalho, ou seja a alteração das regras do jogo a favor dos patrões, e depois espantam-se quando a procura não é suficiente porque o crescimento dos salários é estranhamente comprimido. Contradições. A serem superadas por uma política económica de esquerda.

3 comentários:

  1. Será que todas estas desgraças vão-se abater em breve sobre a classe operária?

    Crescimento insuficiente do investimento; promoção de maior recurso ao endividamento para superar os défices de procura; aumento da fragilidade financeira; alteração das regras do jogo a favor dos patrões; política económica de esquerda.

    Estamos entregues à bicharada………. de esquerda.

    ResponderEliminar
  2. O Neoliberalismo, versão blasfémias, pode ser entendido como um mito na medida em que recupera para o mercado o papel do eleito e do justo. No cristianismo o redentor é Deus, no comunismo o redentor é o proletariado, no neoliberalismo o redentor é o mercado. Nesta ideologia o mercado tem um papel profético já que nele está compreendido um processo natural de convergência de rendimento: o paraíso está ao alcance dos homens!!

    A gente tem que se rir, mesmo que não queira.

    4 Hero

    ResponderEliminar
  3. Subscrevo o que o anónimo diz: Há uma forte componente religiosa e de fanatismo ideológico na direita portuguesa.

    Greenspans, Martin Wolfs e companhia são de uma estirpe completamente diferente: práticos, pragmáticos - influenciados mais pela realidade (especialmente o Wolf) do que por algum delírio fanático-extremista.

    A maioria da direita portuguesa (e alguns libertários americanos) lembram-me o Cunhal e o PC: Cassete, cegueira, repúdio pela realidade, dogmatismo e uma noção de redenção.

    Por outro lado, lembro-me que há alguns anos atrás a minha leitura preferida era o Luís Delgado - ria-me tanto... bem melhor que os Gatos. Não há nada melhor que o humor involuntário.

    ResponderEliminar