sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Um caso interessante

Portugal é um caso interessante: numa época de instabilidade financeira, o nosso país foi dos poucos que não passou por uma crise bancária digna desse nome. Tem razão Saboteur quando diz que a «prova final de que Vítor Constâncio fez um bom trabalho, fazendo aquilo que a banca e o capital financeiro esperam que ele faça, é o facto de não ter havido nenhuma corrida ao BCP, apesar de se ter descoberto e tornado público que o Banco viveu os últimos anos de esquemas pouco claros». A presença pública forte na banca terá ajudado a esta estabilidade sistémica. Está tudo bem? Não. É preciso que o Banco de Portugal exerça muito maior vigilância sobretudo agora que a turbulência alastra. Isto é questão de regras. Mas também de atitude: a complacência é filha da ideologia da bondade ilimitada da iniciativa privada. Isto tem de ser superado. Mais «idoneidade» também ajudaria no sector privado, assim como no público. Mas esta não se decreta. E dificilmente se cultiva quando, para falar como se fosse economista ortodoxo, os incentivos existentes tornam o seu «preço» muito elevado e são muitas as oportunidades para comportamentos pouco virtuosos. Mas claro que neste campo, e por muitos grandes que sejam os constrangimentos, há acções individuais que podem fazer a diferença: afinal de contas alguém decidiu denunciar o que se passava no BCP. É mesmo difícil de perceber a relação entre o comportamento, virtuoso ou não, e as «regras do jogo». No final (provisório) acho que Medeiros Ferreira resume o fica para além da espuma: «o primeiro grande banco privado nascido neste regime democrático precisou do aval do Estado para sair da sua primeira grande crise vinte anos depois». Mas ainda há muito para esclarecer.

7 comentários:

  1. «o facto de não ter havido nenhuma corrida ao BCP»

    Eu nunca estive preocupado com a crise do BCP.

    Tenho lá conta ordenado e estou sempre no vermelho.

    Tenho lá o crédito da minha casa.

    Se o banco estoirasse, eu não perderia nada. Era só ganho.

    Era o mesmo que se desse um enfarte a um tipo (sem familiares) a quem eu devia dois mil contos.

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  2. O Diogo agora disse tudo. Bom fim-de-semana.

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  3. Está muito enganado Diogo. Para além de ter de continuar a pagar o empréstimo da sua casa (a taxas de juro mais altas), teria ainda de sofrer o impacto sobre a actividade económica em geral que resultaria de uma crise bancária.

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  4. Para que a credibilidade conte e' preciso que exista "sancao." Antes tivesse havido uma corrida ao BCP, ficava marcado que existe um "publico" atento que nao aceita ser enganado.

    Infelizmente nao e' assim. Sera talvez o nosso "chico espertismo", a ideia de que se o BCP roubar muito sobre algum para os seus depositantes, e que ha' vantagem na cumplice falcatrua.

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  5. Não me parece A. Cabral. Sanção, sanção tem que ocorrer agora. Dos responsáveis. Corridas a bancos são pânicos descoordenados que acabam por prejudicar os próprios. Eu gosto das sanções mais direccionadas...

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  6. Vai aos livros de historia e compara o que era o Fed antes da "sancao desorganizada" de 1907 e o que se tornou depois. Garanto-te que a serenidade de 2007 em Portugal mantera tudo como esta': sigilo, nepotismo, e politizacao do sistema financeiro nacional.

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