quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
Aprender com os especuladores
George Soros é um dos mais conhecidos especuladores, agora transformado em filantropo e crítico do «fundamentalismo de mercado», ou seja, crítico da crença de que os mercados tendem para o equilíbrio se dermos rédea solta aos impulsos egoístas dos indivíduos. Hoje, o Público tem um artigo escrito por si que vale a pena ler (aqui está uma versão em inglês já que a tradução não só não está disponível como é péssima). Soros diz que estamos perante a crise «mais grave dos últimos sessenta anos». Sublinho os seguintes pontos: (1) a importância da ideia keynesiana da «reflectividade» (sim, não é ele o autor da ideia) para explicar as dinâmicas desestablizadoras dos mercados financeiros alimentados a crédito o que origina, em contexto de incerteza inevitável sobre o valor fundamental dos activos, uma interacção perversa, e que se alimenta mutuamente, entre a valorização dos activos e a disponibilidade de crédito; (2) esta interacção alimenta inovações financeiras que prolongam o ciclo de crédito e que aumentam a fragilidade financeira do sistema e a sua opacidade; (3) a desregulamentação e a liberalização financeiras geraram um incremento da especulação (de que Soros muito beneficiou diga-se), ou seja, aumentaram os canais para o comportamento que consiste em deter activos com o único objectivo de os revender mais tarde; (3) neste contexto as possibilidades da política monetária sustentar os mercados estão muito diminuídas e esta pode até ter efeitos perversos. Fundamentalismo de mercado e desregulamentação. As causas profundas dos desequilíbrios profundos na economia global. Se a política económica não tiver em conta estes dois elementos servirá para muito pouco. Reduza-se a taxa de juro, use-se o défice e, ao mesmo tempo, ataque-se o problema de fundo e as suas causas estruturais: a hegemonia da finança de mercado, os padrões de distribuição gerados e a ideologia que os legitima.
Mais ideologia da treta...
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