domingo, 2 de dezembro de 2007

Liberalismos

Será que na Europa o novo livro de Paul Krugman, que o Ricardo discute na posta anterior, não deveria antes intitular-se «a consciência de um social democrata»? Se calhar sim, só para evitar confusões. Ou talvez não: afinal há quem ache, com alguma razão, que a social democracia é a melhor forma de alcançar uma parte dos objectivos liberais de autonomia, liberdade e de «carreiras abertas aos talentos». Assim parece ser nos EUA. Ainda não sei bem por que portas e travessas, a palavra «liberal» serve aqui sobretudo para designar alguém que se filia na tradição do «New Deal» de Roosevelt, das liberdades positivas e do capitalismo temperado. Isto sempre incomodou, e muito, os chamados «liberais clássicos» intransigentes, adeptos da utopia de um capitalismo sem impurezas, que acham que os defensores do «intervencionismo» lhes roubaram a bandeira do «partido da liberdade». Alguns, sobretudo nos EUA, deram a expressão como perdida e preferiram passar a usar outras como libertário ou conservador que se prestam a muitos equívocos. Na Grã-Bretanha, provavelmente graças a figuras como John Stuart Mill (um liberal, «o mais eficaz defensor do socialismo», segundo Ludwig von Mises, ou talvez um pouco das duas coisas), a expressão liberal também ganhou conotações ambíguas muito interessantes. No resto da Europa, sobretudo em França, um liberal é um adepto do mercado sem fim. Ou talvez não. Daí que muita gente tenha começado a usar a expressão neoliberal para designar uma nova espécie que reinventa parte do que imagina ser a herança liberal «original» do «estado como guarda nocturno» e a cruza com novos contributos da economia e da filosofia políticas. São mesmo sinuosos os caminhos das ideologias. Mas sem elas estamos perdidos.

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