Na posta anterior desta série viu-se que a ideia de que as empresas públicas são necessariamente mais ineficientes do que as privadas tem pouca sustentação teórica. Tão ou mais importante do que os argumentos teóricos são os exemplos históricos. Olhemos para alguns casos de economias de crescimento rápido nos últimos anos.
O governo de Singapura através da sua agência de participações públicas, é accionista maioritário de empresas de: aviação comercial (Singapore Airlines, provavelmente a empresa mais bem sucedida do sector a nível mundial), semicondutores (onde são líderes mundiais), telecomunicações, imobiliário (a quase totalidade dos terrenos do país e 85% da habitação são propriedade do Estado) e engenharia (e.g., a multinacional SembCorp).
Até 1996, o governo do Taiwan controlou directamente 1/6 do produto nacional do país. Nas privatizações realizadas a partir desse ano (que afectaram apenas uma parte das empresas públicas), o Estado manteve participações que atingem em média 35.5% do capital dessas empresas e nomeia directamente cerca de 60% dos administradores.
O caso paradigmático da importância do sector público empresarial na Coreia do Sul é a empresa metalúrgica POSCO - central para o desenvolvimento do país desde a década de 1950, tornou-se a 3ª maior empresa mundial do sector. Só foi privatizada no final da década de 1990, como resultado da crise asiática (e não por ser considerada ineficiente enquanto empresa pública).
Na China o processo de desenvolvimento iniciado no final dos anos 70 foi todo ele baseado na actividade das empresas públicas; ainda hoje, 40% da produção industrial é controlada pelo Estado – e se o seu peso relativo diminuiu, tal tem mais a ver com o crescimento do sector privado do que com a contracção do público.
No Brasil, a Petrobrás (petróleo) e a Embraer (aeronáutica) ainda hoje nos mostram como empresas públicas podem apoiar as estratégias nacionais de desenvolvimento e, simultaneamente, afirmar-se como referências internacionais.
Renault (automóveis), Alcatel (equipamento de telecomunicações), St Gobain (materiais de construção), Usinor (Aço), Thomson (electrónica), Thales (defesa), Elf (petróleo e gás), Rhone-Poulenc (farmacêutica) e Volkswagen (automóveis) são nomes que nos lembram que também na Europa as empresas públicas têm sido fundamentais para o desenvolvimento económico, tendo em muitos casos a capacidade de tornar-se líderes mundiais nos respectivos mercados. Na maioria dos casos, a privatização (total ou parcial) de algumas destas (e outras) empresas teve mais a ver com convicções ideológicas, com a pressão da Comissão Europeia e com apertos orçamentais dos Estados, do que com a demonstração empírica da sua irrelevância ou ineficiência.
meu caro, depois do estado controlar a maioria das empresas da mesmo vontade de la espetar o santana lopes ou o berlusconi a ver o resultado... se a unica coisa que te interessa e a eficiencia economica, entao o teu estilo e o da piramide: de cima para a baixo.
ResponderEliminarOra eu ca em baixo nao gosto muito de ver nem o Menino nem o Partido nas alturas...
Creio que o comentador acima incorre no erro frequente de identificar Estado com "governo".
ResponderEliminarDe qualquer modo, a questão da eficiência é precisamente a que é apontada normalmente como favorecendo a privatização. E apenas se demonstra no post que não é necessariamente assim.
Ricardo, e com simpatia pela posição do autor (cujo livro li com interesse): o facto de essas empresas terem tido um papel importante no desenvolvimento dos países não prova nada quanto à sua eficácia. Podem até ter sido altamente ineficientes, porque é bem provável que tenham, pelo menos algumas delas, subsidiadas até às "orelhas" (como, note-se, aliás, acontece em muitos casos com 'n' empresas ditas privadas: veja-se o caso da Boeing, que, historicamente, não ficará atrás da Airbus nos favores e fundos gentilmente cedidos). Ao nível dos exemplos a vulso, nao seria dificil encontrar exemplos pelo mundo fora de empresas públicas que foram fracassos inacreditáveis (ou que contam no seu currículo enormes buracos ao nível da sua performance).
ResponderEliminarUma análise estatística seria útil: mas o Chang não a fornece.
abraço
Hugo
Hugo,
ResponderEliminarRelativamente a este assuntos Chang pretende mostrar duas coisas (que nos dias que correm soam estranhas para alguns): primeiro, que as estratégias de desenvolvimento bem-sucedidas passaram quase sempre (e em muitos casos ainda passam) pela existência de empresas públicas em sectores-chave da economia; segundo, que a ideia de que as empresas públicas são necessariamente ineficientes não é consistente com muitos casos da realidade.
Há empresas públicas ineficientes? Há, tal como no caso das empresas privadas. Chang não mostra estatísticas? Não, mas quem acusa as empresas públicas de serem «ineficientes por natureza» também não o faz (se tiver referências em sentido contrário eu agradeço); a estratégia é quase sempre a de pegar em casos em que as coisas correm mal e generalizar para todas as empresas públicas.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarRicardo,
ResponderEliminarA questão é que o Chang, com esses exemplos, nem sequer mostra que as SOE são "eficientes" (usando a palavra com o mínimo de rigor). De facto, podem perfeitamente ser uma máquina de enterrar de dinheiro - e continuar a ser a ter um papel importante no desenvolvimento. E podem-no ter sido por outros motivos também: por ex. por assegurarem situações de monopolio de facto ou de jure, nada dizendo sobre como teria, hipoteticamente, funcionado uma empresa privada no seu lugar.
«Há empresas públicas ineficientes? Há, tal como no caso das empresas privadas.»
Claro. Mas é que não é preciso invocar nenhuma "natureza" inerente a alguma delas para sabermos que, quando uma empresa é ineficiente durante algum tempo, tende a morrer. E se as privadas são ajudadas de vez em quando - quando são importantes -, as públicas são-no quase sempre , ajudando por vezes a protelar situações de enorme ineficácia - dinheiro que seria melhor usado noutros lados...
Apenas quis dizer que, se o objectivo é 'defender' as SOE, então esse artigo do livro - e a argumentação nele seguida - não me parece mesmo nada convincente. Não se trata de nenhum 'lição' do autor.
Hugo
Hugo,
ResponderEliminarVamos por partes.
1. Vários exemplos que o Chang aponta são casos de sucesso nos mercados respectivos, tonando-se não apenas líderes de nível munidal (passando pois o 'teste de emrcado') como sendo alvos apetititosos de investidores privados. Isto acontece com muitas empresas públicas, inclusive em Portugal. Na maioria dos casos, essas empresas são os primeiros alvos da privatização, não porque sejam ineficientes, mas pelo contrário - porque são as que garantem o maior 'encaixe financeiro' aos Estados. Isto é muito mais 'evidência empírica' do que os críticos das empresas públicas são capazes de apresentar.
2. Existe um erro na sua análise que é a ideia de que as empresas ineficientes no sector privado acabam por morrer. É raríssimo uma empresa de grande dimensão no sector privado desaparecer, mesmo quando está demonstrada a sua ineficiência. Quando as grandes empresas privadas têm problemas de eficiência, elas são reestruturadas, refinanciadas (às vezes pelo Estado), muda-se a equipa de gestão, mas raramente eles 'morrem' simplesmente. Há muitas razões para que isto seja assim, mas o que interessa neste contexto é que o que tende acontecer - e o que deve acontecer - às grandes empresas que funcionam mal é a introdução das necessárias alterações para que passem a funcionar melhor. Isto pode acontecer - e, na verdade, acontece - tanto no sector privado como no público, e ainda bem.
3. Como já escrivi antes, a lição de Chang neste domínio é a de devemos recusar o raciocínio linear de que para uma economia se modernizar e desenvolver é necessário acabar com as empresas públicas. Não há nenhuma razão, nem teórica nem histórica, para aceitar essa posição. Isto é uma lição de Chang. Pode não ser suficiente para transformar os mais cépticos em fervorosos defensores das empresas públicas. Mas teremos outras oportunidades para incentivar essa conversão.
Falácia da "Janela partida" .
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