Os defensores da globalização neoliberal gostam de transmitir a ideia de que a adesão aos princípios da liberalização do comércio e do investimento internacionais resultam da demonstração histórica da superioridade desta via para o desenvolvimento.
No imaginário neoliberal a Inglaterra teria adoptado desde o século XVII uma política de comércio livre, sendo essa decisão a fonte da sua ascensão a grande potência económica mundial. A superioridade da opção inglesa ter-se-ia tornado tão óbvia que outros países teriam seguido as suas pegadas no século XIX, dando origem a um período de grande prosperidade baseado no laissez-faire, que perdurou até à 1ª Guerra Mundial. Depois da guerra, muitos países caíram na tentação do proteccionismo, conduzindo à contracção e à instabilidade da economia mundial, as quais estão na origem do desastre que foi a 2ª Guerra Mundial. Assim reza a história neoliberal da globalização.
Na verdade, o livre comércio só foi adoptado em Inglaterra em meados do século XIX (quando esta era já a nação mais industrializada do mundo) e a hegemonia britânica entre 1870 e 1913 foi conseguida mais à custa da força militar e do que das forças de mercado. Exemplo máximo disto são as Guerra do Ópio, a forma encontrada pela potência imperial para combater o deficit comercial com a China (associado, nomeadamente, à importação de chá).
Neste período, tirando a Grã-Bretanha, a generalidade dos países que aderiram ao comércio livre eram países mais fracos (as únicas excepções são a Holanda e a Suiça), os quais foram forçados a prosseguir tais políticas através de regras coloniais ou de tratados desiguais. E o desempenho económico destes países no período em causa foi tudo menos brilhante.
Ao mesmo tempo que impunham o comércio livre às nações mais fracas, os países ricos mantinham elevadas taxas aduaneiras. À custa disto, países como os EUA e a Alemanha conseguiram desenvolver as suas indústrias, acabando por ultrapassar a Grã-Bretanha em poder económico. O que leva este último país a abandonar o comércio livre em 1932 é precisamente a constatação do sucesso do recurso ao proteccionismo por outros países industrializados.
Será então o liberalismo a via superior para o desenvolvimento? Terá sido a adesão a esta via uma opção para a generalidade dos países do mundo?
É verdade. Tenho andado a reparar que as vossas postas se andam a tornar cada vez mais consistentes. Parabéns.
ResponderEliminarAs lições a aprender com a história acabam por ser sempre selectivas. Eis um exemplo perfeito de tal fenómeno. E por mais que se tente contrariar, a suposta legitimação história já conseguiu um efeito bolo de neve que a transformou em legimação per si.
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