quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Até na pátria do liberalismo há imposto sucessório

«Um pacote social-democrata apropriado teria implicado que os trabalhistas enfrentassem os conservadores na questão do imposto sucessório e usassem o dinheiro poupado para reduzir a pobreza infantil».

Larry Elliot, editor de economia do The Guardian numa excelente análise da proposta para o próximo orçamento britânico. Em Portugal, será mais fácil ouvir um liberal intransigente reconhecer que a busca de lucros não é necessariamente coincidente com qualquer noção de bem comum do que ouvir um editor de economia a analisar um orçamento pelo prisma da redistribuição, do combate à pobreza ou às desigualdades, ou seja, pelo prisma da criação de condições de vida decentes para todos. Mas afinal de contas Lerry Elliot é um editor genuinamente social-democrata crítico do modelo económico neoliberal do «novo trabalhismo» (vejam o seu último livro). E está na boa tradição britânica que, desde John Stuart Mill (prometo arranjar citações do meu liberal de eleição), sabe que não há imposto mais justo e necessário do que o imposto sucessório. Um imposto que atinja os estratos privilegiados e que bloqueie parcialmente um dos canais para a transmissão intergeracional das desigualdades. Transmissão que torna a igualdade de oportunidades e o valor do mérito numa quimera.

Apesar do seu alcance ter sido reduzido por Brown, numa demonstração adicional da extensão da incorporação pelos trabalhistas da agenda conservadora, o imposto mantém-se. Em Portugal, a sociedade mais desigual da Europa, ele foi abolido quase sem discussão pelo último governo da direita partidária. Fica o desafio para os socialistas, aparentemente resignados a assistir ao aumento das desigualdades e a julgar o sucesso da sua política económica pela evolução de um instrumento (o défice): tenham a coragem de desenhar um novo imposto sucessório.

3 comentários:

  1. O imposto sucessório é moralmente errado. O principal propósito em fazer dinheiro é em muitos casos pensar no futuro dos seus sucessores, e NÃO dos filhos daqueles que em nada contribuem para o orçamento de estado.

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  2. Todos os rendimentos devem ser tributados, logo não me parece justo receber valores/património não sujeitos a imposto! Posto isto e pelas razões expostas no post penso q é 1 imposto justo!
    Julgo tb ser abusivo pensar que os filhos dos outros em nada contribuiram para o orçamento do estado! Abusivo é tb haver filhos da p*** que não pagam impostos!

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  3. não tributado? Todo o património acumulado para os seus descendentes já é o resto concedido pelo estado, após espólio durante uma vida inteira.

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