quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Variedades de capitalismo e dinâmicas de inovação

O livro Varieties of Capitalism: The Institutional Foundations of Comparative Advantage, da autoria de Peter Hall e David Soskice e publicado em 2001, constituiu um marco para a ciência política comparada. O trabalho procedia a uma análise detalhada das diferentes estruturas institucionais de alguns países capitalistas avançados, recusando a ideia de que estaríamos a assistir a uma trajectória de convergência entre diferentes formas de capitalismo. Segundo os autores, mesmo em tempos de globalização e de alargamento contínuo das esferas de actuação dos mecanismos de mercado, haveria diferentes caminhos para o bom desempenho das economias. Por outras palavras, não obstante os discursos acerca do «fim da história» ou da «nova economia», Hall e Soskice defendiam que os sistemas capitalistas estariam longe de convergir para um mesmo modelo (nomeadamente para o que os autores designam por «economias liberais de mercado»).

Um dos argumentos do livro que mais repercussão teve foi o de que haveria uma diferença crucial nos modos predominantes de inovação entre «variedades de capitalismo»: as «economias liberais de mercado» (que incluem os EUA e o Reino Unido) tenderiam a produzir inovações mais radicais (novos produtos e processos que tiram partido de avanços científicos e tecnológicos de ponta), enquanto as «economias de mercado coordenado» (onde cabem a Alemanha e o Japão) baseariam o seu bom desempenho económico em inovações incrementais (ou seja, modificações e melhorias em tecnologias já existentes).

Um documento de trabalho acabado de publicar por investigadores da Universidade de Groningen vem pôr em causa os resultados obtidos por Hall e Soskice, mostrando ser impossível tirar tais conclusões acerca dos padrões de inovação. Mais especificamente, mostra-se ser impossível identificar diferenças significativas nos padrões de inovação de países como a Alemanha ou os EUA com base nos dados usados por estes autores.

Quem quiser pode ver nisto a demonstração de que o capitalismo não tem variedades - logo, mais uma acha para o questionamento da tese central de Hall e Soskice. A alternativa é ver nestes resultados um reforço desse argumento: ou seja, não só o capitalismo assume diversas formas com diferentes «graus de impureza», como a capacidade de inovação radical não é característica específica das versões mais liberais do sistema.

Tendo em conta a variedade ideológica dos leitores deste blogue, há explicações para (quase) todos os gostos.

3 comentários:

  1. Se o que é questionado é o padrão de inovação e não as diferenças entre sistemas, não vejo onde possa haver espaço para duplas interpretações... mas se calhar é a minha ideologia a falar.

    ResponderEliminar
  2. «Variedades de capitalismo e dinâmicas de inovação - Um dos argumentos do livro que mais repercussão teve foi o de que haveria uma diferença crucial nos modos predominantes de inovação entre ‘variedades de capitalismo’»


    O que parece estar a acontecer é que os modos predominantes de inovação vão estoirar com todas as variedades de capitalismo:

    From Wikipedia

    The End of Work: The Decline of the Global Labor Force and the Dawn of the Post-Market Era is a non-fiction book by American economist Jeremy Rifkin, published in 1995 by Putnam Publishing Group.

    In 1995, Rifkin contended that worldwide unemployment would increase as information technology eliminates tens of millions of jobs in the manufacturing, agricultural and service sectors. He traced the devastating impact of automation on blue-collar, retail and wholesale employees. While a small elite of corporate managers and knowledge workers reap the benefits of the high-tech global economy, the American middle class continues to shrink and the workplace becomes ever more stressful.

    ResponderEliminar
  3. Caríssimos,
    apesar da minha história nada ter a ver com este texto, não resisto a contá-la, achando até que deveria ter grande divulgação na blogosfera. Aqui vai ela:
    Mão amiga fez-me chegar há alguns dias uma cópia de uma entrevista dada por Maria de Medeiros no último número da edição francesa da revista "Elle".
    Maria de Medeiros, "chanteuse, cinéaste, comédienne", respode assim à pergunta "Que transmettez-vous de votre histoire?". Diz ela:
    "- La vigilance contre le fascisme heritée de mes parents, exilés politiques, revenues au Portugal après la révolution(...)".
    É obra!! para quem já não se lembra ou para quem ainda não tinha memória nessa época, é bom recordar que o pai da "chanteuse" ocupava, já há algum tempo antes de 74, o cargo de adido cultural na Embaixada de Portugal em Viena (onde fora colocado a pedido, por cunha de um primo muito influente no regime de então, como toda a gente sabia) e mantinha um programa (bastante bom, para a época, diga-se) semanal na então RTP de Ramiro Valadão, sobre a história da música clássica.
    Quanto à mãe, basta ter a paciência de pesquisar nos arquivos da então Emissora Nacional...
    Haja decoro e, sobretudo, respeito por aqueles que eram, de facto, exilados politicos!!
    Depois do desastre cinematográfico que Maria assinou (ou assassinou) sobre o 25 de Abril, mais uma achega notável para a revisão pós moderna da nossa História mais recente!
    Obrigado, Maria.

    ResponderEliminar