segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Simplesmente não sabemos (I)

Vitor Constâncio, governador do Banco de Portugal, em entrevista ao Diário Económico: «Mas admite que possam haver implicações desta crise financeira para a economia real?
Se a duração for curta, não muitas. Se a crise nos mercados se resolver ao fim de pouco tempo, então retoma-se o cenário central [para o crescimento económico] ( . . .) Ainda não estamos na situação em que temos a certeza que haverá consequências negativas para a economia. É necessária mais informação (. . .) Se o problema na economia mundial fosse apenas o ‘subprime’, seria absorvível sem grandes consequências. O problema é que tudo isto foi titularizado, objecto de derivados e vendido em todo mundo e, logo, ninguém sabe quem é que vai ter as perdas e em que dimensão. É esta falta de informação e de transparência que está a criar o problema de falta de liquidez de mercado. Há uma quebra de confiança».

A incerteza irredutível face ao futuro deve ser sempre o ponto de partida para explicar os comportamentos dos agentes económicos, as limitações e a precariedade do seu conhecimento, a sua maior ou menor preferência pela liquidez, a emergência de convenções e os comportamentos miméticos, a alternância de fases de euforia e de pânico nos mercados financeiros, o papel da confiança ou as consequências, muitas vezes negativas, da descoordenação e descentralização das decisões mercantis. Em momentos de crise isto torna-se particularmente saliente. Para grande embaraço dos economistas ortodoxos.

4 comentários:

  1. «economistas ortodoxos». Keynesianos ou neoclássicos?

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  2. Neoclássicos evidentemente. Os que compreenderam a mensagem de Keynes não têm problemas com a incerteza. Ela é o ponto de partida das suas explicações.

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  3. Pensava que o que dividia (mais) os neoclássicos dos keynesianos era a racionalidade dos agentes. Bem, por essa via a incerteza terá naturezas diferentes em cada uma das escolas. Mas olhe que os neoclássicos não negam a incerteza. Até considera os propensos,neutros e avessos ao risco. Está lá, na curva de indiferença (abstrata e inútil, mas existe).

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  4. Não percebo porque é que a quebra de confiança e a falta de informação criam falta de liquidez no mercado.

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