segunda-feira, 2 de julho de 2007

Cidadãos/utentes ou clientes?

«Está a perder-se esse sentido de solidariedade?
Este Governo está a perder...Não é só este governo; tem vindo a perder-se. As pessoas hoje aceitam coisas que não aceitavam. A ideia liberal de que tudo se compra e vende, de que a saúde pode ser uma mercadoria. Hoje fala-se nos doentes como clientes. Cria-se uma terminologia de mercado. Mas não é a economia de mercado que me preocupa; é a vida ser um mercado
».

António Arnaut, militante do PS, em entrevista recente ao JN. Arnaut foi, enquanto ministro dos assuntos sociais, um dos pais fundadores do Serviço Nacional de Saúde. Responsável pela notável aceleração da melhoria dos indicadores de saúde em Portugal. Isto era no tempo em que os socialistas ainda recusavam o liberalismo.

Hoje, Arnaut tem vindo a apontar as ameaças políticas que pairam sobre o SNS. E chama justamente a atenção para aquilo que os economistas comportamentais designam por «efeito de enquadramento». O uso de certas palavras, a introdução no quadro da provisão pública de mecanismos de tipo mercantil, tem um impacto na forma como as pessoas percepcionam o serviço a que estão a aceder. De facto, não há nada melhor para criar no SNS uma perversa cultura de mercado, em que progressivamente se aceita que tudo se pode comprar e vender, do que a generalização de «uma terminologia de mercado». As palavras nunca são neutras.

2 comentários:

  1. Ver crónica aqui:

    http://obitoque.blogspot.com/2007/07/sicko-2007.html

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  2. As palavras nunca são neutras.

    As palavras em si são. O suo que é dado (ou não)é que é neutro.

    Ao tornar-se explícito que muitos serviços "públicos" têm um custo as pessoas começam a questionar-se se esse custo reflecte o seu real valor. O estado omni presente tem um custo. E o acordar para essa realidade é muito importante. É muito bom que as omissões que "adormecem" os contribuintes acabem...

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