A julgar por alguns comentários que têm sido feitos neste blog há quem esteja convencido que as posições de natureza económica aqui defendidas são incompatíveis com aquilo que as correntes dominantes (ou 'mainstream') da ciência económica defendem.
De facto, a generalidade dos autores deste blog não se revê naquilo que a ciência económica se foi tornando: uma prática científica que sobrevaloriza o formalismo e subvaloriza a análise histórica e institucional concretas, que tende a ignorar os contributos dos grandes pensadores económicos do passado sempre que estes não traduziram (reduziram?) o seu pensamento em fórmulas matemáticas (como revelam comentários como este), que privilegia a sofisticação técnica em detrimento da relevância do conhecimento produzido, que se reivindica da tradição positivista e ao mesmo tempo se recusa sistematicamente a discutir a pertinência empírica de algumas hipóteses basilares, que revela uma tendência sistemática para racionalizar o real em termos de conceitos de eficiência e para evitar a noção de causalidades complexas, racionalidades múltiplas e processos irreversíveis, enfim, uma ciência que protege a todo o custo uma herança de métodos e técnicas peculiares e questionáveis, como se dela dependesse o seu estatuto auto-declarado de 'rainha das Ciências Sociais'.
No entanto, a crítica às correntes dominantes na ciência económica não se confunde necessariamente com o desacordo com as implicações que derivam de análises específicas. Até porque aquilo que define o paradigma dominante da Economia têm mais a ver com os métodos que são reconhecidos como legítimos do que com as conclusões a que se chega. Na verdade, é necessário reconhecer esta capacidade contorcionista à Economia Dominante: alterando ligeiramente as hipóteses de base, mesmo mantendo-as no domínio do paradigmaticamente aceitável, é quase sempre possível dizer uma coisa e o seu contrário.
Por exemplo, com a mesma aparência de cientificidade máxima, é possível defender a optimalidade de um sistema fiscal baseado num imposto único sobre o consumo (como é feito por este artigo, já bastante discutido neste blog) ou, pelo contrário, concluir pela superioridade de um sistema baseado num elevado imposto sobre os lucros (com é feito por este recente texto). Não obstante a simpatia que possamos nutrir pelo resultado alcançado, este segundo texto não nos merece menos críticas do ponto de vista metodológico do que o primeiro.
Mas chama mais uma vez a atenção para algo que parece não ser ainda claro para todos: por detrás da sofisticação técnica de algumas análises económicas estão sempre escolhas mais ou menos arbitrárias, as quais determinam os resultados obtidos. Sugere-se, pois, aos nossos prezados leitores que tirem a Ciência Económica do pedestal em que alguns a colocaram.
Têm toda a razão. É incrível como é possível passar quatro anos numa licenciatura em economia dando tão pouca ou nenhuma atenção à importância do "poder" na determinação das relações económicas. A matemática tem de facto uma influência excessiva nos curriculuns. A "economia das instituições" deveria ganhar mais relevo.
ResponderEliminarMais incrível ainda é passar-se por um ano no agrupamento de Ciências Socio-Económicas (no ensino secundário, onde eu ando...) e parecer que se está num comício do CDS...
ResponderEliminarPorque é que um economista não pode ser socialista?
Caro Baldassare,
ResponderEliminarÉ evidente que um economista pode ser socialista ou pelo menos social-democrata: Stiglitz, Arrow, Rodrik, Sen, Myrdal, Bowles. Todos prémios nobel ou a caminho de o serem. Mas é verdade que são ainda uma minoria.
Caro Nuno Teles,
ResponderEliminarRetorquido e devidamente linkado em:
http://small-brother.blogspot.com/
CAro José m. Sousa,
O "poder" é analisado. Simplesmente não são inventadas relações de poder onde elas não existem. Por outro lado tenta-se dar um pouco mais de raciocíneo lógico e capacidade crítica. Dão-se ferramentas de análise. Mas acho que o Nuno Teles percebe bem o ponto.
Baldassare,
Um economista e dos bons pode ser Socialista. O socialismo não é uma ciência nem a economia uma ideologia. Isso do socialismo científico já nem nesta casa se defende...
Agora...não vai encontrar muitos Economistas a defender o socialismo como caminho para o desenvolvimento económico. É um facto.
Oh, meu caro RICARDO FRANCISCO
ResponderEliminarse é verdade que a ciência económica não é uma ideologia, também é verdade que uma parte substancial do que é ensinado nas nossas escolas baseia-se em modelos cujas hipóteses são fabricadas, com muita sofisticação é certo, para se obter um determinado resultado. Isto porque a "ciência económica" não vive num mundo abstracto, mas num mundo onde há muito em jogo e onde as regras desse jogo são demasiado importantes para alguns para se deixarem confinar a um esforço de análise objectiva (na medida do possível) dos factos.
Essa sua conversa sobre a liberdade é um pouco simplista. è preciso perguntar, liberdade para quem?
Eu também sou pela liberdade, só que a liberdade que parecesse defender pode revelar-se assaz opressiva.
O socialismo não é uma ideologia politíca? O Capitalismo não é uma ideologia politíca? A economia não é um dos sectores de acção politíca de ambos? Tal como o socialismo científico foi uma invenção dos marxistas, assim como capitalismo selvagem foi uma invenção dos neoliberais? Se um economista pode ser capitalista, porque não pode ser um capitalista socialista? Que Algo é esse que o impede? A economia enquanto relação de causa versus efeito objectiva unicamente o desenvolvimento? Mas então porque está o desenvolvimento económico de uma maneira geral desiquilibrado? Sou um banal historiador, embora ache que nem a história explica tudo nem a economia consegue explicar os seus fracassos face ao que dela pretendem os economistas.
ResponderEliminarCaro José M. Sousa,
ResponderEliminarAs hipóteses que aponta são refutáveis. De qualquer forma é indiscutivel que a Economia ainda é permeável à ideologia e à política. A abordagem científica protege-a, e cada vez mais.
Isto não retira mérito a outras disciplinas como a História. Agora, a César o que é de César.
Em relação à liberdade. Liberdade para todos. Mesmo. Liberdade para cada indivíduo poder dispôr de si próprio, das suas ideias, dos frutos do seu trabalho e iniciativa da forma que entender desde que não entre nas liberdades alheias.
Eu nem sou dos mais extremistas e faço várias concessões a esta definição. Acabo por ser mais Rawlsiano...
Manual de Economia A, 10º Ano, da Plátano Editora, escrito por Elsa Silva e Helena Mendes:
ResponderEliminarTema: "Desafios Económicos" pág 166:
"Também o controlo do Orçamento de Estado poderá levar a uma menor intervenção do estado, principalmente na área social."
Isto é lavagem política para os futuros economistas e líderes deste país. A Escola é o melhor meio de propaganda ideológica, e eu digo-o várias vezes no meu blog. A Escola de Hoje determina a Sociedade de Amanhã. Propaganda política, feita a alunos de 16 anos, num agrupamento por onde passam muitos líderes políticos, é querer determinar a Sociedade futura.
E isto vem no manual... imaginem lá o que dizem os professores, nas aulas... para mim, é insoportável.
Baldassare,
ResponderEliminar""Também o controlo do Orçamento de Estado poderá levar a uma menor intervenção do estado, principalmente na área social.""
Esta frase não é política. É uma evicência, excpeto para quem acredite na actualidade do milagre das rosas. E a ter conteúdo político é de esquerda.
Se o estado controla as despesas isso pode ser feito do lado das receitas ou das despesas. Se é do lado das despesas pode ser no item transferÊncias sociais, por exemplo (repara na sequência de hipóteses). Logo, se há controlo orçamental pode haver menos intervenção social.
Acredite que quem estudou economia há 20 anos atrás como disciplina de secundária apanhava com banhos de ideologia. Na altura a estrutura de análise económica ainda era a marxista...
Entretando evoluiram os conteúdos na secundária. Que sorte.