Já está nas bancas mais um número da edição portuguesa do Le Monde Diplomatique. No panorama desolador da imprensa portuguesa, o Mdiplo oferece-nos todos os meses algumas chaves para uma leitura crítica do nosso mundo. Isto é cada vez mais raro em Portugal.
Este mês, o editorial de Ignacio Ramonet revisita o fenómeno Sarkozy com uma lucidez a toda a prova. Argumenta que o seu governo é a expressão de uma ampla aliança que, ao incluir alguns socialistas, reflecte a extensão da direitização da sociedade francesa. Assinala também que Sarkozy representa sobretudo a derrota da esquerda no campo das ideias. Ao contrário da interpretação convencional, Ramonet assinala que a abdicação dos socialistas francesas nos anos oitenta e noventa, ao aceitarem passivamente ser os condutores de políticas neoliberais, abriu o plano inclinado que conduziu a Sarkozy. Com a ajuda da esquerda à esquerda que com a sua balcanização se tornou incapaz de aproveitar o balanço de algumas vitórias políticas recentes. A ler com atenção.
Acho que o Ramonet, no que toca à esquerda, em certas questões, se engana redondamente - ou melhor, engana-se mais no que não diz do que no que diz. A direitização da França não tem a ver com a luta entre o capital e o trabalho, mas entre o "trabalho" no sector público e no séctor privado. A fissura é esta. Sarkozy percebeu-a, explorou-a, e ganhou. O PSF meteu a durante a maior parte do tempo a cabeça debaixo da areia e perdeu.
ResponderEliminarContinuar a aplicar desta forma as categorias criadas há 150 anos - sobretudo a de "trabalho" como se fosse homogéneo - vai continuar a dar na eleição de Sarkozys no futuro, como no passado deu na eleição de vários Gaullistas.
Isso sim, é imobilismo.