segunda-feira, 23 de abril de 2007

Que não fazer!

Como previsto, as eleições francesas correram mal à esquerda da esquerda. Se no total os candidatos à esquerda do PSF têm mais de 10%, a pulverização do voto e o voto útil na Ségolène – justificado pelo fantasma do 21 de Abril de 2002 –, condenaram este espaço político à irrelevância. Dada a falta de informação nacional sobre este espaço político, vale a pena dar conta do seu triste percurso.


Depois do desastre que foram as últimas eleições presidenciais em França, já em 2004, a revista Les Inrockuptibles lançava um manifesto subscrito por numerosos intelectuais onde se pedia aos partidos de esquerda que se concentrassem em dois candidatos, um do espaço do PSF, outro do chamado pólo anti-liberal (Verdes, LCR, PCF, Lutte Ouvrière, Radicais de Esquerda, Les Alternatifs, etc). Os tempos de seguintes foram promissores. Com o referendo à Constituição Europeia criaram-se colectivos de campanha pelo «não» de esquerda, que agrupavam gente que ia desde a ala esquerda do PSF à trotskista LCR, passando pela participação activa de associações não partidárias como a ATTAC. A dinâmica conseguida e a vitória no referendo afiguravam, por isso, uma convergência das esquerdas para estas eleições. No entanto, se todos os líderes partidários juravam compromisso com esta agenda, cedo se percebeu que o futuro não era promissor. Na tentativa de hegemonizar o espaço criado pelo «não» à Constituição Europeia e com o pretexto de não poder pactuar com quem se mostrava disponível para viabilizar um do governo do PS, a LCR cedo avançou com o seu próprio candidato (Besancenot). A resposta foi pronta por parte do PCF, que impôs a sua líder (Buffet). O caminho abriu-se então para que cada pequeno partido tivesse o seu candidato. Entretanto, fruto desta deriva sectária, um conjunto de militantes destes partidos, aliados àqueles que, sem partido, tinham participado nos colectivos contra a Constituição, decidiram manter a sua agenda de convergência e agruparam-se à volta do simbólico José Bové na vã esperança de conseguirem um resultado que esvaziasse as candidaturas partidárias e criasse um novo pólo político.


O final da estória é agora conhecido: Besancenot (4%); Buffet (2%); Voynet (1,5%); Laguiller (1,3%); Bové (1,3%). A LCR ficou com a vitória de pirro, ultrapassando todos os outros, mesmo que os seus resultados sejam piores do que os das últimas eleições. Entretanto, todos os restantes ficaram condenados à irrelevância política. Obrigados a unirem-se a Ségolène na segunda volta, não têm qualquer influência política na candidata que, para ganhar as eleições, irá provavelmente «virar» à direita.

5 comentários:

  1. na verdade, a LCR aumentou o número total de votos (à volta de 400,000) em relação às últimas eleições. Os seus 4% não deixam de ser impressionantes num contexto de voto útil. Nada disto retira validade ao teu argumento.

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  2. é verdade que a LCR teve mais votos, mas isso deveu-se sobretudo à elevada taxa de participação. Em termos percentuais a LCR recua duas décimas.

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  3. Olivier Besancenot da LCR conseguiu 9% entre os jovens (18-24 anos) e 7% entre os operários. Será, sem dúvida, a referência central de uma corrente anti-capitalista. Isto se a restante esquerda tiver o bom senso de perder os tiques sectários que a tem caracterizado.

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  4. Mesmo depois do Non ao tratado constitucional, todas estas forças estiveram juntas e a trabalhar em unidade no combate contra o CPE, que acabou há pouco mais de um ano (o PM Villepin recuou a 10 de Abril de 2006).
    Portanto há um ano esta gente estava junta a conseguir pôr na rua cerca de 5% da população francesa...

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  5. mas mais giro que tudo isso é ver o PCF na categoria dos pequenos partidos. Merecidamente, diga-se.
    :)

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