Não falha: quem usa a expressão “wokismo” não passa de vira-latista de extrema-direita ou a caminho da extrema-direita. O artigo de João Tovar Jalles no Eco patronal, wokismo e economia, é a enéssima confirmação disso mesmo. Sinal dos tempos, confesso que não lia um artigo tão extremista há algum tempo.
No fundo, Jalles disfarça mal a vontade de imitar Trump nas universidades portuguesas. E isto num contexto, a economia, onde há décadas que está em curso no nosso país uma purga de tudo o que coloque os estudantes de licenciatura a pensar criticamente sobre o mundo que os rodeia, com a progressiva exclusão de todas as ricas áreas, métodos ou correntes que desafiem um neoliberalismo gerador de tantos custos sociais. No fundo, eles não aguentam um debate de igual para igual.
Basta conhecer um pouco da história intelectual e institucional do nosso país, no meu caso por estudo e por introspecção. Até apostaria que o fundamentalismo de Jalles parte de uma ignorância fundamental dessa história, mas, francamente, não tenho vontade de fazer apostas.
Os resultados estão à vista em tantas licenciaturas, autênticos viveiros de individualismo possessivo, de liberais até dizer chega, com vieses ideológicos notáveis e estudados.
Felizmente, há quem insista no pluralismo, quem seja fiel a uma certa ideia de universidade e de economia política, na linha de José Teixeira Ribeiro (história partilhada por António Avelãs Nunes): um estudante disse um dia ao velho Mestre que todos sabiam que ele era de esquerda, porque era o único professor que não fazia política na sala de aulas.
Entretanto, o monopólio do louquismo de Jalles está mesmo a ser desafiado em vários países, com mudanças positivas em curso. Os estudantes merecem melhor.
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