Desde a adesão à CEE que os comunistas portugueses alertam para os efeitos desindustrializadores da integração de feição neoliberal desta periferia com economias estruturalmente mais capazes, ainda para mais num quadro de europeização com mecanismos de compensação manifestamente insuficientes.
Desde os anos 1980 que os comunistas portugueses alertam para os projetos descaracterizadores da nossa mais radicalmente democrática Constituição, a de 1976, com particular incidência para a revisão de 1989.
Desde aí que os comunistas portugueses alertam para os efeitos negativos no desenvolvimento soberano, no controlo democrático da economia e logo no resto da vida social, da reconstituição de grupo económicos privados em setores estruturalmente geradores de poder e de superlucros, provando-se de resto que aí só a propriedade pública é propriedade nacional.
Desde os anos 1990 que os comunistas portugueses alertam, em livros e panfletos luminosos, para os efeitos desdemocratizadores do Tratado de Maastricht e suas cada vez mais graves sequelas, incluindo o crucial euro, tendo sido os primeiros a chamar a atenção para as suas tendências estagnacionistas.
Desde sempre que alertam, em particular durante a troika, para os efeitos depressivos das políticas de austeridade orçamental, laboral e monetária, para usar o desdobramento luminoso de Clara Mattei.
Desde há alguns anos que alertam contra os efeitos perversos do desmantelamento do SEF e contra a ideia de que se pode agir em matéria migratória ao serviço do capital mais explorador, como se o país tivesse capacidades de acolhimento ilimitadas.
Desde há muito que alertam que o neoliberalismo alimenta o neofascismo, sendo este uma das expressões políticas das frações mais reacionárias do capital.
Desde há anos que vêm alertando, inicialmente brutalmente isolados, que a cultura imperialista da guerra só alimenta o desperdício armamentista à custa dos Estados sociais e da vida, fazendo do anticolonialismo, do anti-imperialismo e logo do antirracismo modo de atuação, identidade.
Posso continuar. Mas estão a ver o ponto: não há em Portugal quem tenha alertado tanto e acertado tanto, seja na academia, nos movimentos sociais ou em outras expressões de inteligência coletiva. Desafio-vos a comparar.
Já estou a ver uma réplica: e estão cada vez mais fracos, o que é que isso interessa? Interessa muito. Podemos perder e ter razão. A política que interessa é a razão feita movimento. Quem desistir da análise séria está perdido. Quem desistir de distinguir validade e poder está perdido, já perdeu tudo.
Não nos percamos. Haja sempre novo iluminismo radical.
Infelizmente, e digo isto com dor, só não acertam é numa linguagem que consiga chegar ao coração das pessoas. A começar pelo uso de "burguesia" e semelhantes, que indicia que há algo importante que, apesar de acertarem tanto, ainda não compreenderam
ResponderEliminar