É por isso que é importante ter atenção à forma como esta é feita. Um relatório recentemente publicado sobre o jornalismo económico da BBC (versão completa aqui), que cobriu mais de 11.000 peças transmitidas pela estação britânica em televisão, rádio ou online, contraria algumas ideias comuns: embora possam não ter um viés partidário sistemático, muitos jornalistas têm menos conhecimentos de Economia do que se supõe e a análise que fazem das opções orçamentais é tudo menos objetiva.
De acordo com o relatório, a cobertura jornalística é frequentemente feita com base em hipóteses como "aumentar a dívida pública é mau", "cortar impostos é bom", etc., que são assumidas como se se tratassem de verdades universais. Isso reflete-se na forma como algumas opções são apresentadas como inevitáveis, dando a ideia de que um governo “será obrigado a” tomar certas medidas. Raras vezes se reconhece a natureza contestável de determinadas visões e a incerteza associada à evolução da economia e aos resultados de determinadas políticas.
Além disso, a cobertura deste tipo de assuntos nem sempre é feita com a preocupação de chegar a um público vasto e os jornalistas parecem focar-se demasiado no estrato social em que se inserem. Isso contribui para reforçar a ideia de que o debate económico é demasiado complexo para quem não é formado na área, afastando boa parte das pessoas da discussão e prejudicando especialmente os grupos sociais com menores rendimentos e menos acesso a livros, revistas e outras fontes de informação.
Este problema está longe de ser exclusivo do jornalismo. O debate económico é feito de hipóteses e estas variam consoante o posicionamento de cada um. No entanto, o ensino de Economia nas faculdades é quase exclusivamente focado na corrente teórica dominante na disciplina – a síntese neoclássica/neo-keynesiana –, apresentada como visão única e definitiva da disciplina, ao mesmo tempo que se omite a existência de perspetivas alternativas. É expectável que isso acabe por se refletir no comentário económico e na cobertura jornalística.
Não é realista esperar que exista imparcialidade na avaliação de políticas que afetam de forma diferente grupos sociais diferentes. As opções orçamentais são isso mesmo – opções –, baseadas nas prioridades de cada governo, pelo que existem argumentos a favor e contra e medidas alternativas disponíveis. E existe incerteza na evolução de boa parte dos indicadores económicos, como o crescimento do PIB, a inflação ou a dívida. Era bom que isso fosse reconhecido mais vezes por quem estuda, ensina, comenta e reporta assuntos económicos.
Que grande novidade. Basta olhar para a formação académica dos nossos jorrnalistas económicos para ver que muitos deles nem sequer são de economia mas de coisas como sociologia e comunicação. Fora que o patrão é quem paga e é melhor que pensem bem.
ResponderEliminarEm todo o caso, com a net basta surfar. Há anos que não dou 1€ para um jornal português, e com os estrangeiros já vou pelo mesmo caminho.
E como quer que DN, Público, Expresso e companhia tenham o que quer que seja de qualidade com o número de assinantes que têm? Basta comparar com o FT, um milhão de assinantes, cada a quase 70€; e é o que é, também a fazer spin.
Por cá os jornais não têm como fim informar mas sim fazer lobbying. Haja patrão, haja interesse e há jornal.