quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Inflação, crises petrolíferas e FMI


Neste vídeo explico as causas da inflação, para além da despesa pública excessiva perto do pleno emprego. Em relação com a desvalorização da moeda, faço referência às crises de balança de pagamentos que motivaram o recurso ao FMI em 77 e 83.

Portanto, ao contrário da vulgata que domina a comunicação social, a despesa pública não é a causa primeira da grande inflação, é um efeito desta que retroalimenta as restantes causas, e essas são a desvalorização continuada e a luta sindical pela manutenção do poder de compra dos salários.

Sim, o recurso ao FMI naqueles anos não foi o resultado de uma bancarrota na dívida pública. Foi o resultado de um escoamento das divisas num contexto (internacional e interno) específico, gerador de um défice externo insustentável. No caso de 1983, agravado pela política de Cavaco Silva como ministro das finanças.

19 comentários:

  1. Em última análise a inflação é um imposto como outro qualquer.

    ResponderEliminar
  2. "Em última análise a inflação é um imposto como outro qualquer."

    Disparate! Não, não é! A inflação é o custo de se acelerar a circulação do dinheiro.

    Nenhum imposto tem esse efeito! Pelo contrário, ao retirar massa monetária de circulação todos os impostos travam a actividade económica. Daí a necessidade de se usar a criação de moeda para controlar a inflação e estimular ou arrefecer a actividade económica. E compensar a massa monetária diminuída pelos impostos.

    Por isso, de forma moderada e controlada a inflação é benéfica para o todo da economia. Quando a inflação surge de uma situação de pleno emprego significa que os assalariados têm poder negocial para negociarem uma parte mais substancial das mais-valias geradas pela actividade económica.

    S.T.

    ResponderEliminar
  3. " American economist Ellis Winningham says he lies awake at night worrying about the resources left idle and output forever lost in the global economy, because people across the developing world are lying awake at night worrying about inflation.

    Inflation rates in high income countries have been remarkably low and stable across almost the whole of modern economic history. Increasing spending when there is spare capacity doesn’t lead to significant inflation. And gradual increases in prices over time have not led to decreases in living standards.

    “Why do you need bread to cost 5 cents per loaf, and a new car $2,000?,” says Ellis. “Are you saying you also want your paycheque to be smaller? If bread was $5, and the unskilled worker earned $3,000 per month, what the f*** do you care about the price of bread?”

    “When the price of bread goes from $2 to $2.20, that is not inflation,” he said. “When the price of bread goes from 50 cents to $2.50 cents over a period of 55 years, that is NOT inflation. If the price of bread was $5, and on average, the unskilled worker earned $3,000 per month, what the f*** do you care about the price of bread? Besides, why do you need bread to be 5 cents per loaf, and a new car to cost $2,000? Are you saying you also want your paycheque to be smaller?”

    In other words, inflation isn’t just about the money.

    This story was originally published on Hello Humans."

    "O economista americano Ellis Winningham diz que fica acordado à noite preocupado com os recursos deixados inactivos e a produção perdida para sempre na economia global, porque as pessoas em todo o mundo em desenvolvimento estão acordadas à noite preocupadas com a inflação.

    As taxas de inflação nos países com altos rendimentos têm sido notavelmente baixas e estáveis ​​em quase toda a história econômica moderna. Aumentar os gastos quando há capacidade não utilizada não leva a uma inflação significativa. E aumentos graduais nos preços ao longo do tempo não levaram a reduções nos padrões de vida.

    "Para que é que precisa que o pão custe 5 centavos cada, e um carro novo US $ 2.000", diz Ellis. “Você está a dizer que também quer que seu ordenado seja menor? Se o pão custava US $ 5, e o trabalhador não qualificado ganhava US $ 3.000 por mês, qual seria o preço do pão? ”

    "Quando o preço do pão passa de US $ 2 para US $ 2,20, isso não é inflação", disse ele. “Quando o preço do pão passa de 50 centavos para 2,50 centavos de dólar ao longo de um período de 55 anos, isso NÃO é inflação. Se o preço do pão fosse de US $ 5 e, em média, o trabalhador não especializado recebesse US $ 3.000 por mês, qual seria o preço do pão? Além disso, para que é que precisa que o pão custe 5 centavos cada, e que um carro novo custe US $ 2.000? Está a dizer que também quer que o seu ordenado seja menor?

    Por outras palavras, a inflação não é só acerca do dinheiro.

    Esta história foi publicada originalmente no Hello Humans. "

    https://www.facebook.com/australianwelfarenews/posts/taxes-control-inflation-they-do-not-fund-spending-says-professor-steve-keen-thes/1944746939128664/

    S.T.

    ResponderEliminar
  4. Eu deveria ter dito: A inflação é a inconveniência de se acelerar a circulação do dinheiro.

    Porque de facto não é um custo.

    Também deveria ter explicitado que os impostos, ao retirarem massa monetária de circulação reduzem a inflação.

    Portanto digam adeus ao mito urbano de que "a inflação é um imposto como outro qualquer".
    E quem tenha medo da inflação deveria olhar para o abismo da deflação para ver se se cura.

    S.T.

    ResponderEliminar
  5. Disse o ST:

    (...) "os impostos, ao retirarem massa monetária de circulação reduzem a inflação."

    Será que os governos guardam o dinheiro dos impostos num cofre? ou o destroem?

    ResponderEliminar
  6. Talvez o Sr. Unabomber queira explicar como é que o dinheirinho que faz Ó-Ó no berço do Ministério das Finanças "cria" inflação. LOL

    Se a inflação fôsse como os ratos Dragui investia logo uma Rat-Farm. LOL

    S.T.

    P.S.
    Agora mais sériamente, só quando, por via de despesa, despesa essa obedecendo a um orçamento, a massa monetária é novamente colocada a circular no mercado é que pode gerar inflação.
    Até lá, está a fazer Ó-Ó. :)

    ResponderEliminar
  7. Então estamos de acordo :), a desvalorização continuada da moeda cria inflação, que funciona na prática como um imposto sobre o consumo, já que retira poder de compra aos trabalhadores (chamam-lhe o que quiserem).

    Portanto, eu gostaria que nos explicasse muito bem como pretende retirar Portugal do Euro garantindo que essa desvalorização continuada não vai passar a moeda corrente, passo a expressão (a desvalorização inicial será inevitável, é aliás esse o objetivo da saída da moeda única).

    A capacidade de desvalorizar não é necessariamente má, mas é a típica política de governos laxistas (ou sem alternativa imediata, como aconteceu nos anos 80 em Portugal) para aumentarem a competitividade da Economia (caso da Itália antes do Euro) e para pagarem salários no setor público.

    Na verdade o que ela garante é que não é necessário inovar, porque há outros meios de aumentar a competitividade... E investir é sempre a última alternativa na Indústria...

    É que me parece que toda a gente escarnece dos alemães pela seu pavor anti-inflacionário, quando na verdade a Alemanha foi dos poucos países capazes de manter uma indústria nacional intacta (baseada num Mittelstand robusto, bem entendido), enquanto os britânicos fizeram o favor de despachar a deles (o que também levou à adesão à CEE nos anos 70, depois de de Gaulle ter saído de cena), muito antes das políticas de Thatcher... Os carros britânicos dos anos 70 eram simplesmente atrozes...

    Se calhar o ordo-liberalismo não é tão mau como isso...

    ResponderEliminar
  8. Como de costume Jaime Santos tem uma percepção falseada das realidades económicas.

    Ignora olímpicamente que não se pode falar de imposto sobre o consumo, visto que não há qualquer arrecadação de receita pelo estado e nenhuma redução da massa monetária em circulação.

    Em caso de desvalorização cambial o que acontece é um realinhamento dos preços dos produtos importados para o que de qualquer forma é um ponto de maior equilíbrio económico. E escamoteia que é a situação actual que é mórbida e atentatória dos interesses da generalidade do todo nacional porque a sobrevalorizão monetária em que vivemos rouba rentabilidade às produções nacionais. As bugigangas que importamos muito baratinho bem caras nos saem em dificuldades para as nossas empresas e enfraquecimento geral do tecido empresarial português.

    A ignorância do Sr Jaime Santos vai ao ponto de louvar o ordo-liberalismo alemão escamoteando o facto de o sucesso industrial alemão ser feito à custa da nossa forçada perda de competitividade e tem origem em distorções monetárias. A "virtude" alemã é batota cambial, não fruto de qualquer superioridade de doutrina económica.

    Essa é a triste realidade e ainda mais triste é ver um português defender os interesses de um país estrangeiro contra os do seu próprio país.

    S.T.

    ResponderEliminar
  9. Como parece que Jaime Santos não leu um artigo que eu referi em comentário a outro post, aqui fica de novo o link:

    https://www.marketwatch.com/story/germany-is-a-diminished-giant-and-that-spells-trouble-for-europe-2019-01-28

    Vem isto a propósito de Jaime Santos dizer que com desvalorizações competitivas não é preciso inovar. Eu contraponho que pelo contrário, é quando se beneficia de uma vantagem cambial injusta e de poder de influência junto das instâncias reguladoras que as empresas se podem tornar displicentes.

    No caso alemão foi o lobbying pelo diesel, a cargo da dona Merkel, a falta de investimento em infraestruturas e em novas tecnologias, etc. O artigo explica...

    Apareça sempre Jaime Santos! As suas boutades dão sempre ocasião a que agucemos o nosso didático sentido crítico. É sempre um regalo!

    S.T.

    ResponderEliminar
  10. Disse o ST:
    "(...) o dinheirinho que faz Ó-Ó no berço do Ministério das Finanças "cria" inflação."

    Pelos vistos o amigo ST acredita mesmo que o dinheirinho dos impostos fica guardado num cofre do Ministerio das Finnaças (a fazer "Ó-ò") até entrar novamente no circuito!!!
    Qual será a quantia de o Min.Finnças tem a fazer ò-Ó, amigo ST?

    ResponderEliminar
  11. A sua citação truncada do que eu escrevi pode induzir em erro e não espelha a pergunta que formulei e a que não respondeu.
    O montante que faz Ó-Ó nos cofres do Ministério das Finanças varia ao ritmo das arrecadações e dos pagamentos. Mas o ponto não é esse.

    O ponto essencial é como o montante arrecadado deixa de participar no ciclo económico e o efeito monetário disso.

    Não estou a perorar contra os impostos. Estou apenas a querer salientar que os impostos, e sobretudo os que incidem sobre o consumo e os decis mais baixos da pirâmide de rendimentos têm um efeito deflacionista porque afectam especialmente os grupos sociais que mais rápidamente fazem circular o dinheiro. Hipotéticamente, se a mesma soma fosse arrecadada em impostos sobre os ultra-ricos o efeito sobre a inflação seria muito menor porque a velocidade de circulação do dinheiro é inversa à acumulação. Dá para entender?

    Outro ponto essencial é como o desendividamento privado não compensado por crescimento económico afecta a liquidez nos países periféricos. É que quando um empréstimo é pago a massa monetária sofre uma contracção equivalente. Contracção essa que deveria ser compensada!

    S.T.

    ResponderEliminar
  12. Disse o ST:

    "Também deveria ter explicitado que os impostos, ao retirarem massa monetária de circulação reduzem a inflação."

    "O ponto essencial é como o montante arrecadado deixa de participar no ciclo económico e o efeito monetário disso."

    - Amigo ST: òbviamente que o dinheiro dos impostos não é retirado da circulação, pois o Estado vai redistribui-lo, e boa parte dessa distribuição vai para os mais pobres (ex: rendimento minino, pensões sociais, etc..)

    ResponderEliminar
  13. Amigo ST:

    Quanto às suas certezas sobre a inflação e sobre o Euro:

    De Eugénio Rosa:

    "Um outro aspeto a salientar é a estabilidade dos preços que a existência do euro deu, uma questão vital mesmo para as classes de baixos rendimentos e também para os detentores de pequenas poupanças que são aqueles que mais sofrem, por terem menos poder negocial, em situações de inflação elevada como Portugal viveu em vários anos antes de existir o euro.
    Este é um aspeto que muitas vezes não é valorizado nas análises das consequências do abandono do euro, até porque muitos dos analistas não viveram esses períodos ou, se viveram, tinham poder para contornar a “ilusão monetária” que “comia” salários, pensões e pequenas poupanças sem que os atingidos compreendessem com clareza como isso acontecia.

    "É importante recordar que Portugal, antes da entrada na Zona do euro, era detentor da “soberania monetária” mas isso não impediu, depois do 25 de Abril, por duas vezes (1977 e 1983), intervenções do FMI (a “troika” da altura) com consequências dramáticas para os trabalhadores, reformados e também para o país.
    A “soberania monetária”, ou seja, a capacidade de criar moeda própria, de que muitos falam e consideram o remédio para todos os males do país é, sem dúvida, um bem precioso, um símbolo e instrumento de independência nacional, mas não resolve por si mesmo todos os grandes problemas do país. É importante não esquecer a história económica recente portuguesa."

    in: https://criticaeconomica.net

    ResponderEliminar
  14. @Unabomber

    Julgava eu que as pensões sociais eram pagas com fundos das contribuições para a Segurança Social, que não são um imposto strictu senso...
    Será que estou enganado?

    E de qualquer forma não está em questão o efeito redistributivo dos impostos. O ponto que quero vincar é como durante um prazo mais ou menos longo o montante dos impostos é retirado mesmo que temporáriamente de circulação.

    E vejo que nada tem a dizer ao meu argumento que a desalavancagem causa um excesso de liquidez no centro da EMU e uma falta na periferia com efeitos recessivos.

    E sabemos que a forma de resolver esse problema numa zona monetária "normal" seria com transferências fiscais.

    Quanto à citação de Eugénio Rosa, é a opinião dele, eu, baseado noutras cabeças que considero melhores, tenho outra.

    Aliás, que a soberania monetária só por si não resolve todos os problemas nacionais já nós sabemos. Qual é a novidade? LOL

    É ponto assente entre qualquer economista que mereça o sal que come que a desvalorização monetária é a forma mais rápida e eficaz de enfrentar uma crise de balança de transacções.
    Basta invocar a recuperação da Islândia de uma crise ainda mais grave que a nossa. As limitações e defeitos de concepção da UMU são também quasi universalmente reconhecidas.

    Não vejo portanto nenhum argumento de peso nos seus comentários.

    Francamente não percebo porque é que o Unabomber insiste em dar graxa ao cágado...

    S.T.

    ResponderEliminar
  15. Unabomber

    A propósito da sua citação do Eugénio Rosa (PCP), ningúem minimamente sério, muito menos o Jorge Bateira, alguma vez afirmou que bastava sair do Euro para resolver todos os nossos problemas. Além disso, o Eugénio Rosa refere a importância da soberania monetária! E muito mais ameaçadora do que a inflação registada nos períodos referidos pelo Eugénio Rosa, é a deflação que se tem arrastado ao longo da última década. É sobretudo isso, e nem tanto as fraudes, como salientava o Ricardo Paes Mamede no DN )https://estatuadesalnova.com/2019/02/05/as-fraudes-dos-banqueiros-nao-explicam-a-crise/) que tem obrigado o Estado a injectar milhares de milhões no sistema bancário, com um custo brutal para o país. E sem fim à vista!

    ResponderEliminar
  16. Ainda em relação a Eugénio Rosa, ele escreveu o seguinte texto, com o título
    "AS VANTAGENS DA SAÍDA DO EURO:- contributos para a reflexão e debate"

    Como pessoa séria que é, tem noção das dificuldades. Mas a ideia fundamental é que a saída do euro é condição sine qua non para a recuperação da nossa soberania económica.

    «A recuperação da soberania e, por essa via, dos instrumentos fundamentais de política macroeconómica não resolve de uma forma automática os grandes problemas estruturais que enfrenta atualmente o país, pois já tivemos esses instrumentos no passado e os problemas mantiveram-se. Cria apenas condições para isso. Existem muitos países fora do euro com crescimento anémico (ex. Inglaterra, Suécia, Dinamarca). Para além disso uma eventual saída do euro terá lugar num quadro muito mais difícil do que no passado. Nunca tivemos um país, um Estado, empresas e famílias tão endividadas como atualmente, e nunca tivemos uma economia e uma sociedade tão dominado por grandes grupos económicos e financeiros estrangeiros como agora. E não tínhamos no passado uma globalização capitalista dominante e uma tão grande concorrência internacional. Como procuramos mostrar no nosso estudo anterior, a saída do euro, se abre possibilidades de crescimento económico e de desenvolvimento que não existem enquanto se mantiver o “Novo Memorando” que é o chamado “Tratado orçamental”, também coloca questões, que tornamos a enunciar no inicio deste estudo, que se não forem devidamente estudadas, debatidas e controladas poderão determinar, a nosso ver, custos muito elevados para o pais e para os portugueses, com reações muito grandes.»

    ResponderEliminar
  17. O Estado endivida-se para investir e distribuir; o aumento de importações de equipamentos e bens de consumo torna o défice externo insustentável, daí a crise...que nada tem a ver com a dívida pública!
    Ó vai deroda...

    ResponderEliminar
  18. A ligação : https://www.eugeniorosa.com/Sites/eugeniorosa.com/Documentos/2014/48-2014-saidaeuro.pdf

    ResponderEliminar
  19. Esclareçamos aqui alguns granéis.

    José M. Sousa já se encarregou em parte de contextualizar parte das frases de Eugénio Rosa citadas por Unabomber.

    O meu pomo de discórdia com Eugénio Rosa situa-se mais na questão da inflação, fundamentalmente por duas razões.

    Primeiro porque a perda de poder de compra em conjunturas de inflação moderada não é uma fatalidade. Países como a Itália e a Bélgica resolveram essa questão com legislação que actualizava automáticamente os salários de acordo com a inflação.

    Segundo, porque como Mark Blyth refere, o regime inflácionário limita muito mais a acumulação de riqueza pelos titulares de altos rendimentos. Nesse sentido o regime inflácionário é muito mais vantajoso globalmente para as classes trabalhadores do que regimes de baixa inflação como na Grande Moderação. E era precisamente Mark Blyth que eu tinha em mente quando disse que baseava a minha opinião noutras cabeças.

    S.T.

    ResponderEliminar