quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Alinhamento de uma entrevista na RTP

Eu sei que nem sempre uma entrevista se alinha de acordo com a importância dos temas que se quer debater ou ouvir ou "sacar" de um entrevistado.

Mas estando o país numa encruzilhada apertada, em que não se sabe como vai Portugal crescer no futuro, em que não se sabe como se vai absorver centenas de milhares de desempregados, como se vai atrair de novo os emigrados recentes, como se vai equilibrar o envelhecimento da população, como vamos nos integrar no mundo do ponto de vista produtivo, como dar a volta à economia sem cair de novo em desequilíbrios externos, dizia eu, havendo toda esta situação de complicadas questões para as quais deve haver uma ideia clara - ou no mínimo um debate aprofundado - e as perguntas que o jornalista Vítor Gonçalves achou por bem fazer são as que se vêem em baixo.

1) Um eleitor de esquerda que queira mudar de governo pode correr o risco de votar no Bloco?

2) Catarina, mas não acha que vai passar pela cabeça dos eleitores de esquerda esta ideia: "De que vale votar no Bloco ou no PCP se essa minha decisão pode pôr em risco a vitória do PS nestas eleições e a continuidade de um Governo PSD/CDS"?

3) Ontem, no debate com Jerónimo de Sousa, a Catarina Martins explicou por que é que é muito difícil haver uma coligação no Governo do Bloco com o PS. Se essa hipótese é remota, que possibilidade existe de acordos com o PS em determinadas matérias, caso seja necessário para viabilizar a governação?

4) Nessas áreas, o PS poderá contar com o Bloco no Parlamento?

5) Na análise que foi feita no debate de ontem com o Jerónimo, a maior parte dos comentadores considerou que havia uma grande proximidade entre as duas forças políticas, quase que não se distinguiam. Houve mesmo quem achasse que mais pareciam duas personagens do Tintin - Dupont e Dupond. Pergunto: acha que esta proximidade entre os dois partidos pode levar a uma ligação a médio prazo, à esquerda, de modo a fazer uma frente mais forte?

6) (a interromper) Mas a minha pergunta ia um pouco mais longe, do que votar no mesmo sentido no Parlamento. Era: havendo essa identificação, qual a razão da existência dos dois partidos em separado?

7) Até que ponto acha que a entrada em cena de partidos que resultaram de dissidência no Bloco - como o Agir ou o Partido Livre - pode ter danos graves na votação do seu partido?

8) Não está preocupada com o desvio de alguma votação dos partidos tradicionais para estas duas novas forças políticas?

9) Nos anos da sua existência em Portugal, o Bloco liderou o debate político de temas como a defesa dos direitos das minorias, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o aborto. Hoje é capaz de identificar duas ou três ideias específicas que façam a diferença no discurso de ideias com os outros partidos?

10) (a interromper) Achas que é isso que faz a diferença do Bloco?

11) Catarina Martins, gostava que me dissesse que ilações é que devem ser retiradas da experiência da Grécia dos últimos 8 meses, basicamente sobre aquele que foi o percurso do Syriza, aquilo que foram as suas promessas que o levaram à vitória em Janeiro de 2015 e o que foi a sua prática concreta, nomeadamente o discurso relativamente à austeridade, que a austeridade ia acabar e na prática foi muito diferente. Que ilações é que se deve tirar nessa experiência?

12) (a interromper a frase de Catarina Martins em que dizia que “aprendemos uma lição muito dura sobre a Europa”) Só sobre a Europa?

13) (a interromper quando Catarina Martins falava de que a Europa achava que a austeridade era o único caminho) Mas a Catarina Martins acha que 18 países da zona euro que estão de acordo sobre uma determinada matéria, estão todos errados, que o caminho certo está do outro lado?

14) (a interromper quando Catarina Martins dizia que não se respeitou a vontade de um povo) Mas não acha que não se devia respeitar a vontade dos povos dos outros países que pensam de outra forma?

15) (a tentar interromper a Catarina Martins) Mas eu gostava ainda sobre a questão grega, depois das imagens que nós assistimos neste verão – de filas nos multibancos, com a falta de dinheiro – se o Bloco pode sair prejudicado por associação, quando os portugueses forem votar e pensar que as propostas que o Syriza promoveu na Grécia são muito idênticas com as que o Bloco defende em Portugal? É aquilo que nós queremos? Não acha que essa ideia vai passar pela cabeça...?

16) (a interromper a Catarina Martins quando dizia que para não ser uma colónia alemã tem de se ter sempre um plano B preparado...) A Alemanha não esteve sozinha nas decisões em relação à Grécia, havia 18 países de acordo...

17) (a interromper) Se a Catarina Martins fosse grega, votaria Syriza ou naquele partido de dissidentes do Syriza que estão muito... ahh... cépticos em relação ao percurso do partido?

18) Vamos falar dos refugiados que é uma questão fundamental neste momento e muito preocupante, naquela que é considerada a maior crise de emigrantes desde a II Guerra Mundial. Pergunto-lhe, tenho duas questões sobre esta matéria. Parece-lhe correcta, parece-lhe bem, a decisão de atribuir uma quota de 1500 refugiados a Portugal, se acha que é esse valor com que Portugal deve corresponder e pode corresponder?

19) A intervenção do ministro Poiares Maduro – com uma perspectiva diferente daquela que está a dizer, considerando que Portugal deveria receber um número alargado de refugiados e que isso não era um custo, que não deveria ser entendido como um custo, mas como uma oportunidade receber aquelas pessoas. Concorda com a forma como a chanceler Merkel – que tem liderado este processo – nomeadamente aquela proposta de receber 800 mil refugiados na Alemanha?

20) Esse elogio (?) no Bloco de Esquerda...

21) (a interromper Catarina Martins quando falava do ISIS...) a Catarina Martins defende uma intervenção militar da NATO para pôr cobro à acção do ISIS?

22) (a interromper a Catarina Martins quando disse que tinha sido a intervenção da NATO a aumentar a acção do ISIS) Mas não houve intervenção da NATO no terreno...

23) (a interromper a Catarina Martins quando dizia que tinha havia outras). Mas perante o caso concreto do Estado Islâmico, qual acha que deve ser a resposta internacional, não só da NATO, mas internacional?

24) Uma outra matéria sobre a qual gostava de ouvia a sua opinião tem a ver com a ver com a venda do Novo Banco. Como é que o Bloco se posiciona perante a determinação do Banco de Portugal em resolver rapidamente este problema?

25) (a interromper a Catarina Martins quando dizia que o Governo tinha mentido sobre o custo para os contribuintes) o Governo tem esclarecido que é custo indirecto por ser a CGD uma das participantes no Fundo de Resolução...

26) (a interromper Catarina Martins quando dizia que era preocupante ser a Fosun a comprar o Novo Banco) Por serem chineses?

27) Estamos a falar das eleições legislativas, mas logo a seguir vêm as presidenciais. Pergunto-lhe se o Bloco de Esquerda pode apoiar um candidato como Sampaio da Nóvoa?

28) E defende que haja, digamos, uma entrada em cena de candidatos vindos de diferentes partidos como houve nas últimas eleições? Francisco Louçã chegou a ser candidato ou entende que seria útil, para a esquerda, haver um candidato único?

29) Também é esse o perfil do candidato que deseja e que será apoiado pelo Bloco?

30) Quanto é que vai custar a campanha do Bloco de Esquerda?

31) É mais ou menos do que foi na anterior campanha? Quanto menos do que foi há de 4 anos?

32) E como é que é financiada?

33) Não vão fazer nenhum crédito bancário para a campanha?

34) A Catarina Martins era actriz, era essa a sua profissão antes de entrar na política. Acha que há bons actores na vida política portuguesa?

Esperemos que haja reajustamentos nas futuras entrevistas.

13 comentários:

  1. Não sei qual é o espanto pelo alinhamento da entrevista de Vítor Gonçalves. Os nossos "media" (seria uma redundância apodá-los de "mainstream") jogam sempre com triplas apostas no que ao totobola eleitoral diz respeito. No jogo dos dois "grandes" - PSD e PS - e no do eterno candidato ao segundo lugar - o CDS - não entram intrusos tomba-gigantes. É o "pluralismo" dos grandes aglomerados informativos em acção.

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  2. Custa a crer que estes dois lideres de esquerda aceitassem ser chacota desta “parvalheira…” por mera transcendência eleitoral. Pasmo!
    Não devo criticar só por que não sabem ou por que não querem, ou eu não gostar…
    Simplesmente fico triste por ver a ineficácia de “dirigentes” políticos, a “figura”-- “nós também somos gente” “também fazemos parte”, aquietados na sua pequenez. Não me toques que posso desafinar…
    Sem o dizer. Mostraram – o S.G. do PCP e a Grande Líder do BE, esta noite, que o obscurantismo reina na esquerda dita Esquerda. Assim meus compagnes não passaremos o Rubicão. De o “Catraio” com a devida vénia

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  3. Para mim, a grande pérola foi, depois da Catarina Martins ter explicado, e muito bem, que o Instituto Nacional de Estatística tinha razão quando calculou a taxa de desemprego em 12% (de acordo com todos ao novos “parâmetros” sobejamente conhecidos) e que o FMI também tinha razão quando calculou a mesma taxa em 20% (tendo em conta a população que realmente não tem emprego nem salário), a pergunta seguinte foi: “mas não acha que é uma excelente notícia a redução do desemprego para 12% ?”.

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  4. Foram vistos por 150 mil espectadores!! Uma imagem negativa do que conseguem dizer, de interessante para os eleitores!!

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  5. Eu não percebo tanta celeuma à volta disto
    Sim o jornalista podia ter feito perguntas melhores e escusava de ter interrompido tanto, viu-se claramente que é um merdas mas muitas das perguntas que ele fez fazem parte da vox populis
    à Catarina Martins faltou-lhe mais agressividade, deixou-se conduzir

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  6. Eu não vi a entrevista mas acreditando no que o JAM está a dizer afinal a entrevista não foi uma farsa, foi mesmo uma palhaçada.

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  7. Também gostei muito desse momento, porque realmente marca aquela atitude muito jornalista que é: "Eu não posso deixá-la passar sobre o tapete vermelho..."

    Mas talvez a Catarina Martins tenha sido menos eficaz: poderia ter dito: estamos a falar da mesma realidade medida de formas diferentes. Qual acha que melhor retrata a situação: uma que diz que há 12% e outra que ainda lhe junta outras situações de quase completo afastamento do mercado de trabalho? Fica contente com 20%? A grande questão é saber como se vai absorver toda essas pessoas, Porque são pessoas... E é isso que não vejo a ser duscutido nem o Vítor Gonçalves me está a perguntar por ela. É sintomático, não acha...?

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  8. Sim, e a Rosa Pedroso Lima, a inventora do Dupond(t) se calhar não é tão eleitora do PSD e do CDS/PP como o Victor Gonçalves, é mesmo um ponto de vista bué isento, como bem sabemos que costumam ser os jornalistas dessas bandas - ou alguém vê em Victor Gonçalves mais do que um comissário partidário, um desses mandaretes que para aí andam?

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  9. Para mim, tenho em que “esta gente anda a brincar com o pagode” e qualquer dia pega “fogo de verdade”. A questão esta´ na pobreza do sempre cáustico “mesmo” . Desta vez nem Lenine nem Trotsky os apoiaram...
    O´ camaradas, assumam a vossa ignorância, não brinquem com os princípios norteadores do proletariado…Qualquer dia ficam vazios, e sem prestar nem para eco/ressonância de vós próprios…
    As estruturas estão estabelecidas… só falta dar lugar ao conhecimento!
    Em definitivo estudem Gramsci, já que os pais do “homem novo” os não poderão ajudar!
    Deixem para la as querelas eleiçoeiras…assumam a unidade proletária – A ditadura do proletariado etc. etc. etc.
    Assumam a dignidade de ser Comunista!
    De o “Catraio“ respeitosamente!

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  10. Caros,
    Não, não creio que o VG seja um mandarete. Como em geral os jornalistas não o são. Os défices são outros.
    Aliás, muito haveria muito a dizer sobre as lógicas de pensamento jornalístico, vistas de quem está fora e dentro do processo de produção informativa.
    Os défices em geral:
    1) tempo para apreender, ler, estudar;
    2) tempo para pensar, ter um pensamento próprio;
    3) espaço: espaço para escrever, espaço para desenvolver pensamentos, para aprofundar (na televisão é mais espaço/tempo).
    4) aplicando 1), 2) e 3) tende-se a repetir lugares comuns e falsos sensos comuns e "o que parece". Tudo misturado com a intenção de ser "equilibrado"...

    O resultado pode ser fatal para democracia!

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  11. JRA, Eu estou dentro (ou por outra, posto muito à margem). Mais ou menos de acordo contigo nesses pontos que elencas. Agora, se não te importas, VG é um mandarete, mesmo que o faça por vontade própria. Por isso está dentro e sempre tão bem colocado. As coisas não são o que são por acaso.

    O que nos fode muito é continuarmos com este tipo de justificação corporativa, e continuarmos a ignorar que boa parte dos nossos camaradas não são apenas inocentes úteis, mas gente tão criticável e cúmplice como muitos políticos e empresários.

    VG não tem tempo, é burro, não pensa, não lê, não estuda? Então pq está lá ele e não tu, que não és burro e tens tempo para isso tudo? Ou quando estavas no Público fazias fretes destes?

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  12. Meu caro João Ramos de Almeida, as lógicas de pensamento jornalístico estão, neste país, e desde há muito, completamente corrompidas. Quando ligo as nossas queridas televisões, ponho-me invariavelmente a matutar se haverá algum país no Mundo onde não poucos deputados eleitos pela Nação estão, à noite, a comentar as leis que aprovaram, à tarde, na Assembleia da República, às quais, na manhã seguinte e no remanso dos seus escritórios de firmas de advogados, "descobrirão" as "falhas" por onde passarão, incólumes, os interesses dos seus bem abonados clientes. Incrivelmente, os nossos muito independented jornalistas aceitam, de bom grado, o papel de velas (pouco) alumiadoras do discurso sobre o discurso da nossa querida classe parlamentar. Também me interrogo se há outro país no Mundo com uma democracia minimamente funcional em que políticos no activo (ou em transitório banho-maria) têm televisivos, jornalísticos ou radiofónicos espaços de opinião, nos quais manipulam, a seu contento, a opinião pública e gerem, a seu belo prazer, as suas mesquinhas carreiras.
    O "equilíbrio", caro João Ramos de Almeida, só neste país pode aparecer como característica desejável no jornalismo, pois o grande jornalismo é sempre desequilibrado: ele inclina-se, sempre,mas mesmo sempre, para um só lado - o da descoberta da verdade.
    Concordo plenamente consigo quando afirma que não há estudo, não há pesquisa, não há profundidade, não há pensamento na esmagadora maioria do jornalismo nacional. Contudo isso não é algo que aconteça por acaso: aos grandes conglomerados informativos não interessa quem saiba do que fala e que problematize inteligentemente as questões; o que verdadeiramente lhes interessa é a manutenção do "status quo" com o qual lucram eles e os amigos.E para desempenhar tal tarefa mercenária, meu caro João Ramos de Almeida, qualquer ignorante pé-de-microfone serve, com o agradável acréscimo para os seus patrões de trabalhar por um prato de lentilhas.
    "Jornalismo" que se portou como portou no Caso Casa Pia, e que se porta como agora se porta no "Caso Sócrates" é a caricatura lamentável do verdadeiro e digno jornalismo.
    Se Vítor Gonçalves é ou não um mandarete, isso é irrelevante; o que verdadeiramente interessa é que ele (e outros não poucos) é um dos peões de brega que, por excesso ou por defeito, ajuda a manter em cena o triste filme da suposta liberdade mediática nacional. É o reinado, como dizia o outro, daquilo a que sói chamar-se "O Sistema".

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  13. Eu achei as perguntas boas.
    E o autor do post, que perguntas faria ?
    Podia coloca-las aqui. Eu teria toda a curiosidade de as conhecer.

    cumps

    Rui SIlva

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