segunda-feira, 3 de setembro de 2007

O regresso de Keynes

«Com os efeitos da crise financeira do ‘subprime’ (crédito hipotecário de alto risco) por conhecer, os empresários portugueses preferem, neste momento, não pôr as mãos no fogo pela retoma da economia portuguesa e deverão retardar os projectos de investimento previstos». Como Keynes não se cansou de sublinhar, em capitalismo são as frágeis expectativas dos empresários em relação a um futuro que é radicalmente incerto (o passado é um guia falível) que determinam os padrões de investimento. Incerteza que é aumentada pela natureza descentralizada e descoordenada das decisões privadas. Em situações de quebra de confiança em relação à evolução da procura futura cabe ao investimento público ajudar a domar as «forças obscuras» do tempo e a quebrar os ciclos viciosos da crise da procura. Esta mensagem de Keynes tem de ser reabilitada na Europa. Na prática, e independentemente dos discursos para fora, ela nunca foi esquecida na condução da política económica nos EUA.

11 comentários:

  1. «cabe ao investimento público ajudar a domar as «forças obscuras» do tempo e a quebrar os ciclos viciosos da crise da procura»

    João Rodrigues, já é tempo de você ultrapassar essa cegueira que lhe inculcaram na faculdade. Veja este magnífico documentário e conte-me coisas:

    Money As Debt

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  2. Caro diogo,
    Lamento, mas não consigo abrir o documentário que me vai iluminar. Será que me podes dar um outro link. Obrigado.

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  3. Eu também não consegui abrir o tal documentário milagroso.

    Se calhar a Igreja faliu (ou, como tantas vezes acontece aqui nos EUA, o pastor foi preso).

    Nisto da economia neo-liberal o que é preciso é fé! :o)

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  4. «Incerteza que é aumentada pela natureza descentralizada e descoordenada das decisões privadas»

    Se calhar, Luis XIV concordaria consigo.

    A natureza centralizada e tola das decisões do Estado causa incertezas muito maiores. Teria de se provar que o Estado é omnisciente. No limite teríamos um Estado a decidir quantos pães, parafusos, litros de gasóleo seriam necessários para o "bom" funcionamento da economia, e não as pessoas que formam essa economia.

    As teorias keynesianas são para aplicar em caso de emergência: quando há desequilíbrios muito sérios. Uma coisa é ter bombeiros para apagar fogos e parar inundações, outra coisa é ter os bombeiros atrás de nós todos os dias a dizer o que podemos e não podemos fazer ao ponto de não nos deixarem acender as velas do bolo de anos. Confesse lá. É uma ideia bem incómoda.

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  5. Está enganado Filipe Castro. Não sou um liberal e muito menos um neoliberal. Veja o vídeo. Utilize o segundo link que eu deixei (no 3º comentário).

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  6. Não é preciso provar que o Estado é omnisciente, nem é preciso defender a centralização total das decisões. Basta que se reconheça que, como dizia Keynes, a socialização do investimento (o Estado com capacidade para enquadrar e influenciar as decisões sobre criação de capacidade produtiva adicional) e a eutanásia do rentista (a especulação financeira é desencorajada e o poder dos credores é enfraquecido através do enquadramento da actividade financeira) são meios para travar as tendências desestabilizadoras e polarizadoras do capitalismo. Acho que a história mostra que para além de apagar fogos é preciso criar mecanismos que os evitem. Controlo de capitais, bancos públicos, forte regulamentação financeira, mecanismos de redistribuição do rendimento, investimento público. Uma economia mista onde coexistam várias formas de propriedade. Nada de mais. A não ser para quem só consegue ver sistemas puros.

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  7. «A não ser para quem só consegue ver sistemas puros.»

    Na sua visão vejo elementos castradores da liberdade económica. Como liberal que sou, só posso desconfiar da bondade de quem visa retirar liberdades em nome de uma convicção.

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  8. Tarzan

    já ouviu falar em externalidades e bens públicos?
    Presumo que sim.
    Isso de ser liberal no vácuo soa muito vago. Ser liberal ou defender a intervenção do Estado não é bom nem mau em si mesmo. É preciso ver em que circunstâncias é que apelamos para um lado ou outro.

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  9. «Ser liberal ou defender a intervenção do Estado não é bom nem mau em si mesmo.»

    De acordo, mas assenta em pressupostos contraditórios. No limite, os primeiros acreditam na primazia do indivíduo sobre o colectivo e os segundos a primazia do colectivo sobre o indivíduo. Sem absolutizar incluo-me nos primeiros. Da capacidade de liberais e colectivistas propagandearem (sejamos directos) as suas ideias nascerá uma sociedade mais liberal ou estatizada. A minha intervenção insere-se nessa propaganda mas não visa diabolizar a sua prespectiva. Isso não seria nada liberal.
    ;-)

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