terça-feira, 15 de julho de 2025

Clareza neste momento


A Constituição é muita clara sobre competências do Presidente da República, bem como do Governo e da Assembleia da República, em matéria de guerra: “Declarar a guerra em caso de agressão efetiva ou iminente e fazer a paz, sob proposta do Governo, ouvido o Conselho de Estado e mediante autorização da Assembleia da República.” 

O negocista Luís Montenegro declarou ontem que estamos em guerra. Não me lembro de terem sido acionados os procedimentos que a Constituição prevê. Obviamente, não estamos em guerra, nunca saímos, isso sim, da cada vez mais intensa guerra de classes. 

Montenegro pretendeu só meter medo aos de baixo para justificar os negócios estrangeiros mais sórdidos e corruptos que existem. Faz em novos moldes o que aprendeu com a troika: transferir recursos de baixo para cima e de dentro para fora. 

Proferiu tal despautério numa conferência organizada pela sociedade indigente de comunicação, onde participou entre outros, o vice-presidente de “campanhas estratégicas” (o nome diz tudo) da norte-americana Lockheed Martin, uma das principais mercadoras da morte. Montenegro falou de retorno para o país. Os EUA são o país para estes vende-pátrias, claro, e, dentro dos EUA, a sua classe dominante. 

É preciso ser-se muito corrupto moralmente para apresentar a economia da destruição como uma oportunidade de desenvolvimento, ainda para mais no contexto de alterações climáticas e de tantas necessidades sociais por satisfazer. O desenvolvimento é o processo coletivo da vida que aumenta as liberdades positivas, como defendeu Amartya Sen. A economia de guerra é o desenvolvimento do subdesenvolvimento, a erosão das potencialidades nacionais. 

Entretanto, há sempre dinheiro para o que os dominantes querem fazer, nunca se esqueçam, a restrição nunca é financeira, mas sim de mobilização de recursos reais para propósitos de vida ou de morte. O conhecimento deste facto dá toda a confiança económica que é necessária para o combate socialista contra esta barbárie televisionada. 

Por falar em combate necessário, lede o discurso que António Filipe fez na apresentação da sua candidatura presidencial. Tive o privilégio de assistir, com uma imensa alegria. Está lá tudo o que importa, com a clareza que importa neste momento.

2 comentários:

  1. Peço desculpa ao João Rodrigues por colocar um comentário ao lado, mas que até pode ser relacionável se se quiser falar do que são as escolhas estratégicas que interessam ao país e como são defendidas.
    Acabei de ouvir o Ricardo Paes Mamede no programa “Tudo é economia” a debater com um porta-voz do neoliberalismo nacional sobre a intenção de reprivatização da TAP, e o nível de desonestidade intelectual do oponente foi ascorosa. A compreensão de efeitos de dinâmicas de arrastamento e impactos sistémicos na economia é coisa que não lhe assiste. Como este debatente apresenta-se como professor da Nova SBE advinha-se como é que o argumentário que utilizou neste debate se transforma em programa disciplinar - uma miséria.
    Os decibéis subiram bastante, mas o Ricardo Paes Mamede encostou-o às cordas, mesmo com todas as tentativas disparatadas de desconversar e sem nunca conseguir responder honestamente à questão: o apoio dado pelo Estado à TAP (3,2 mil milhões) na data e na circunstância, teve ou não um efeito positivo na economia, de tal modo, que por isso o Estado acabou por recuperar o dinheiro injetado? E outra questão se coloca: se o Estado não tivesse colocado um cêntimo na TAP e por isso esta empresa tivesse falido, de que receitas globais e de que economia estaríamos a falar hoje?
    É verdade que este programa da RTP é dos pouquíssimos onde há opinião, com debate e contraditório, mas o contraste entre a consistência do desempenho de Ricardo Paes Mamede e a leviandade e até futilidade dos argumentos utilizados por Pedro Brinca tornam o programa por vezes desinteressante. Brinca, quando não é capaz de dar consistência argumentativa às suas escolhas ideológicas faz o que melhor sabe fazer: um apalhaçar ridículo e brincar.

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  2. E sempre assim. Lembremo-nos da outra que considerou a pandemia uma grande oportunidade porque íamos vender imensos porcos à China! Isto é tudo uma cambada.

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