sábado, 27 de agosto de 2022

Sedes do neoliberalismo


Filha das ilusões tecnopolíticas da “primavera marcelista”, a Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES), fundada em 1970, é “herdeira ética de Sá Carneiro”, para usar a fórmula do seu atual presidente, Álvaro Beleza. Ou seja, é herdeira do liberalismo que sempre preferiu evoluções pouco democráticas a revoluções democráticas. É hoje uma das sedes do neoliberalismo.

O anúncio de um estudo coordenado por Abel Mateus, economista consistentemente neoliberal desde os anos 1970, e por Álvaro Beleza, médico de direita que milita no P sem S e consistentemente peneirento, confirma esta hipótese. 

O resto da crónica pode ser lido no setenta e quatro.


6 comentários:

  1. «liberalismo que sempre preferiu evoluções pouco democráticas»

    Por definição o liberalismo liberta a expressão da acção individual e consequentemente a expressão da multiplicidade de valores que aí se podem encontrar.
    Na expressão desses valores individuais ninguém nega ao Estado o dever de a condicionar na sua acção às leis que fazem prevalecer os valores que preservem a segurança e bem-estar colectivos.
    Preservar a democracia, como qualquer outro valor definido em lei para o colectivo, sempre é responsabilidade do Estado pela acção de quem é governo e não duma qualquer acção individual ou de um colectivo menor.

    O Estado, pela sua acção ou falta dela, é que se vem constituindo uma ameaça para a democracia.

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  2. Macron anunciou o fim da “era da abundância”!

    https://www.theguardian.com/world/2022/aug/24/macron-warns-of-end-of-abundance-as-france-faces-difficult-winter

    A propagandista Teresa de Sousa já escreveu uma porcaria qualquer a defender o querido supremo líder europeísta.

    https://www.publico.pt/2022/08/28/mundo/opiniao/macron-fim-abundancia-2018541

    Estão a ver como a UE e Euro sempre foram armas da classe dominante contra a maioria da população?
    Quão mais explicito tem que se tornar?
    Esta gentalha que tem boa vida diz que a “era da abundância” acabou a tantos que têm sido privados de bens materiais básicos, mais imundos não conseguem ser.

    “A austeridade vai criar as condições para o crescimento económico” insistiam (e ainda insistem) os propagandistas. Nunca a austeridade teve como objectivo criar as condições para o crescimento económico, o objectivo era empobrecer a maioria da população, SEMPRE foi o objectivo!

    Será que estas “elites” ao empurrarem tanta gente para o desespero esperam criar uma revolução? É que parece mesmo que as “elites” querem que os povos se revoltem...

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  3. Caro Jose, na prática do liberalismo, especialmente desde os anos 80, não há multiplicidade de valores, há apenas um valor individual, nomeadamente aquele que se mede em €€€.

    Mas tem razão quando diz que o Estado deve zelar pelo bem-estar colectivo. Sugiro-lhe então uma olhada pelos primeiros parágrafos deste texto, onde se narra como o Partido Liberal britânico encarava, na década de 70, essa função do estado. Aqui ficam alguns pontos: salário mínimo decente, justa distribuição da riqueza, desmantelar monopólios de poder político e económico (!), e a verdadeira cereja no topo do bolo: abandonar a política de ter aumento do PIB como objectivo principal!!

    O que acha que a malta da SEDES pensaria disto?! (Ou como diria um já falecido jornalista: "E esta, hein?!")

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  4. Caro Óscar, quando as complexidades individuais e sociais parecem criar situações irresolúveis sempre tenho achado utilidade em tomar por referência o extraordinário desempenho da vida na Terra.
    Daí derivo que a estabilidade é uma soma de vitórias e de derrotas, que sempre encontra limites temporais, tão inesperados quanto inevitáveis.
    Nada reflete mais claramente essas dinâmicas do que a economia onde a estabilidade é uma miragem, onde crescer é não raro a condição de sobreviver.
    Assim, percebo a boa intenção, mas a estabilidade não é objectivo de política.
    Acrescer mínimos de segurança, parece-me bem mais adequado.

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  5. Caro Jose, tem certamente razão quando diz que devemos aprender com a natureza, mas essa aprendizagem que tem que ser feita com cuidado: afinal de contas, a extraordinária resiliência que ela possui é obtida, entre outros mecanismos, matando sem dó nem piedade tudo o que não funciona (isto é um simplismo, mas para esta discussão é suficiente). Imagino que não seja algo que queira ver reproduzido nas sociedades humanas, daí a ressalva que acrescenta no fim sobre "mínimos de segurança".

    Contudo, a minha principal objecção nem é essa. Diz que "crescer é não raro a condição de sobreviver", mas isto não é dizer tudo. Na natureza, nada cresce para sempre, porque nada pode crescer para sempre. Mais: tudo o que cresce, fá-lo apenas até atingir um determinado estádio do seu desenvolvimento -- e depois estabiliza (e quando uma população cresce demasiado, também decresce depressa; cf. o modelo de Lotka-Volterra). Excepto, aparentemente, na economia, onde crescer para o infinito e mais além, e independentemente do tamanho que a economia já tenha atingido, é algo bom e salutar, dizem os (neo)liberais... -- e quando surge o subsequente e inevitável colapso, aí já é culpa da esquerdalhada!!

    Estamos, portanto, perante mais uma aldrabice liberal, onde se agarra numa narrativa (neste caso a inspiração na natureza), escolhe-se os pontos em que essa narrativa é útil -- e varre-se o resto para debaixo do tapete. Mentira por omissão, como de costume -- nada de novo debaixo do sol, como já dizia o outro...

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  6. Caro Óscar, só lhe posso dar razão: soluções finais não há senão nas tragédias.

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