sexta-feira, 5 de março de 2021

António Costa é óptimo a fazer discursos de esquerda

Nesta entrevista, o Primeiro-Ministro e líder do PS reproduz muitas posições que há anos são subscritas pela esquerda em Portugal: a necessidade de reforçar o SNS (mais investimento, mais pessoas, carreiras mais atractivas), de reduzir a precariedade no mercado de trabalho, de estender a protecção social a segmentos da população dela excluídos, de responder aos problemas de habitação e de exclusão social nos bairros periféricos na zonas metropolitanas. Costa enfatiza os problemas que decorrem da inserção de Portugal no euro e dos acordos comerciais da UE com países terceiros – em particular, o seu impacto na indústria nacional. Afirma mesmo que “esta crise foi o maior atestado de falhanço das visões neoliberais”. 

O problema de Costa nunca foi desconhecer a agenda ou os slogans da esquerda. Um dos segredos do seu sucesso é a capacidade de reproduzir o discurso de tradições políticas que não são a sua. 

Há quem ache que estes discursos são sinceros, outros duvidam. É pouco relevante. A experiência mostra que Costa liga o botão do discurso de esquerda quando as circunstâncias exigem. O contexto actual é fácil de perceber – e a entrevista revela-o à transparência. Aproximam-se eleições autárquicas (mais difíceis do que até há pouco se esperava) e a necessidade de aprovar orçamentos de Estado sem maioria no parlamento. É preciso pressionar BE e PCP a cooperar com o PS. Para isso, há que convencer os eleitores de esquerda de que o projecto de Costa para o país é o que desejam. 

O problema de António Costa é que já governa desde 2015. As declarações programáticas já não chegam. SNS, precariedade, protecção aos desempregados, habitação, combate à exclusão, são problemas que exigem coragem e medidas. Se elas não aparecerem ou não convencerem, de pouco servem os discursos e as bandeiras.


8 comentários:

  1. "Um dos segredos do seu sucesso é a capacidade de reproduzir o discurso de tradições políticas que não são a sua."
    Pedro Passos Coelho podia ter feito o mesmo mas era um totó.

    ResponderEliminar
  2. António Costa é um vigarista tal como Passos Coelho!

    António Costa, como todos os “europeístas”, incluindo aqueles “europeístas” que são contra a austeridade mas não colocam em causa o “europeísmo”, tomaram a decisão há muito tempo que a população não privilegiada é para ser sacrificada no altar do Deus Euro.

    Quando o BE e o PCP salvaram o Partido “Socialista” da pasokização (que estava a acontecer), logo, as carreiras políticas do Costa, do Santos Silva e outros(as) “socialistas”, salvaram também o “europeísmo” neste país.
    A primeira função do Centeno não era salvar a maioria da população portuguesa, era salvar o Euro e a União Europeia.

    Alguns dirão “mas era melhor ter continuado com os sociopatas pafistas?”

    Portando, temos que nos satisfazer com a austeridadezinha do Partido “Socialista”?
    O Partido “Socialista” não só não criou nenhum milagre económico, como recusa-se a resolver problemas graves que têm sido fomentados por sucessivos governos neoliberais (incluindo os do Partido “Socialista”), e como isto não fosse suficiente andou este tempo todo a criar as condições para o aparecimento e reforço de uma extrema-direita mais assumida.

    Portugal é uma sociedade em declínio há pelo menos 2 décadas, esta situação não se reverte com austeridade poucochinha e slogans da treta “socialistas”, os problemas da sociedade portuguesa resolvem-se com intervenção de um Estado comprometido com a melhoria das condições de vida da respectiva população, resolvem-se com políticas de habitação ambiciosas, resolvem-se com um combate SÉRIO à precariedade, resolvem-se criando as infraestruturas e formação de profissionais que sirvam a população sénior, resolvem-se investindo no SNS, resolvem-se criando as condições para que o trabalhador possa adquirir competências e assim contribuir para o desenvolvimento de Portugal.

    Porquê insistir na utilidade do Partido “Socialista” para a resolução dos problemas da sociedade portuguesa? Será mesmo necessário mais uma década perdida para constatar quem o Partido “Socialista” verdadeiramente serve (não serve a maioria da população)?

    Nós temos sido governados(?) por gente que não acredita em Portugal, gente que tratou da sua vida e do seus descendentes (o filho do Costa e a filha do Riu estão metidos na política).

    Se nós não tivermos um Estado que aposte no avanço da população portuguesa o declínio da mesma vai continuar.
    Não estou disponível para alimentar euro-ilusões (ou qualquer tipo de ilusões) e é por isso que escrevo como escrevo.

    ResponderEliminar
  3. António Costa é o único político em Portugal capaz de ganhar eleições à Direita, a esta ou a uma futura, que bem pode ser uma passada.

    E por uma razão simples. A Esquerda, por si só nunca ganhará uma eleição que seja. O PS é um partido centrista, porque não seria um Partido de poder de outro modo.

    Os Partidos que ganham eleições são coligações de eleitores, antes de serem coligações de tendências (coisa que o PS também é).

    Por isso, é irrelevante se ele é sincero ou não e o que uma certa Esquerda pensa dele (Esquerda essa que representa 15% do eleitorado, se tanto, o que, como dizia aquele cartaz do tempo do 25 de Abril, não representa qualquer maioria).

    Querem uma alternativa? Têm Rui Rio, Passos Coelho ou Carlos Moedas. Se é isso que desejam, façam muito bom proveito...

    ResponderEliminar
  4. Acompanho, normalmente, as intervenções de Ricardo Paes Mamede com veneração pelo facto de ser o único comentador de economia que tem a coragem de desmanchar o discurso neo liberal dominante nos mérdia.

    Posto isto, acho injusto o Ricardo não reconhecer o esforço hercúlio que o Costa tem que fazer para passar algumas medidas que se possam considerar "de esquerda", neste contexto interno e externo que inclui uma pressão constante por parte das instituições que nos dominam.

    Eu tenho a noção de que nos movemos em carris de uma via completamente viciada. Costa ainda consegue aproveitar algumas bifurcações que permitem virar à esquerda e divergir, um pouco, a direcção em que se processa o nosso desenvolvimento económico. Mas tem que fazer concessões para não descarrilar, como acabou por acontecer ao Scyriza.

    Prefiro que o Costa se mantenha no comando da máquina, repelindo o controle de novos troikistas, do que a escrever livros sobre a frustração de governar contra as imposições da União Europeia, como aconteceu ao Varoufakis.

    Desculpem a analogia ferroviária, mas estou com o Jaime Santos:
    É a "esquerda" possível em oposição à deprimente alternativa que espreita ao virar da esquina.

    Os meus sonhos são bastante mais ambiciosos mas, tendo em conta a nossa história política, prefiro contentar-me com as pequenas vitórias que se conseguem estando dentro do sistema.

    A oposição de esquerda, num país governado pela direita e no ambiente merdiático atual, não tem qualquer efeito prático. Os cidadãos que se consideram "de esquerda tem que se manter unidos à volta das soluções viáveis e, só depois começar a limar arestas e apurar medidas mais profundas ou radicais.

    Permitir que os Pafiosos voltem a pôr, de novo, a mão na massa (literalmente), é que é criminoso.

    ResponderEliminar
  5. Peço desculpa estar a voltar à vaca fria com outra analogia, mas esta é bastante básica:

    Eu também gostava que o Ricardo fosse mais radical a denunciar os interesses que estão por detrás do seu "colega" de painel Ricardo Arroja, a subliminar promoção da Iniciativa Liberal e outras estratégias de comunicação ou propaganda na RTP, porque "TUDO É ECONOMIA".

    Apesar disso, tenho noção que o Ricardo Paes Mamede, sabe que pode ser facilmente afastado das luzes da ribalta sob um qualquer pretexto, ou mesmo até vir a ter dificuldades em exercer a sua profissão.

    Portanto, o único sector que iria ganhar com isso seria, exactamente, aquele que o Costa é acusado de não enfrentar.

    Mesmo neste registo limitado, eu acho FUNDAMENTAL continuar a ver o Paes Mamede nos debates, não vou perder tempo a ser picuínhas quando é a minha única hipótese de ouvir um discurso informado e contundente.

    Fui suficientemente claro, desta vez?

    ResponderEliminar
  6. António Costa será sempre,na verdadeira dimensão da palavra um pragmático,empenhado na conjugação de apoios e confluência.A adopção de um discurso de esquerda faz parte desta estratégia, consolidada,de manter o distanciamento com a direita e anunciar programas que encaixam nas preocupações da esquerda.O reforço do SNS e a formação e dotação de recursos médicos necessários,o combate ao trabalho precário,ao emprego dissimulado e clandestino e a implementação de políticas de habitação,são exemplos destes programas,incluídos nos documentos que irão ser enviados para Bruxelas como suporte das verbas previstas no PRR,a que ainda se juntam as medidas de combate às alterações climáticas e à transição para economia digital.O problema e a contradição entre os discursos,acenando à esquerda,não são compatíveis com a legislação laboral,aprovada no governo de PC,assim como a lei do arrendamento urbano e demais legislação que não foi alterada ou revogada e que António Costa mantém, em clara oposição com as reivindicações da esquerda e das próprias intenções e programas que afirma defender.

    ResponderEliminar
  7. Convinha que o Ricardo explicasse onde vamos buscar os recursos para sustentar o estado Social que diz defender.

    ResponderEliminar