terça-feira, 10 de março de 2020

Novas incertezas, velhas certezas


Lendo a The Economist desta semana, um leitor pode ficar com uma desestabilizadora impressão: a luta contra o coronavírus depende das práticas comunistas chinesas e das práticas social-democratas que ainda sobrevivem em várias nações mais ou menos desenvolvidas.

De facto, parece ter sido na China que, a par de um rigoroso isolamento, a mobilização pública coordenada, planificada, de recursos materiais e humanos para atingir um propósito bem definido produziu, depois de um perigoso atraso inicial, resultados mais impressionantes, tendo em conta a escala do desafio viral. Seguem-se os habituais estímulos contra-cíclicos numa economia com soberania monetária.

Nos países europeus ou no Canadá, por sua vez, valoriza-se agora os sistemas públicos de saúde e os efeitos estabilizadores macroeconómicos de direitos sociais como a baixa médica, o salário indirecto, reconhecendo-se aqui e ali, de passagem, o perigo da precariedade laboral ou dos sistemas privatizados e balcanizados de saúde.

E não é tempo para austeridade na Grã-Bretanha, antes pelo contrário Boris, diz a revista. Também não é tempo para a UE realmente existente, digo eu, a que tem fragilizado tudo o que decente foi construído pelos povos dos Estados, assim no plural, também através de um relativamente monolítico regime anti-keynesiano de política orçamental.

A confiança nas instituições públicas que contam mais, as nacionais, é de resto reconhecidamente crucial e tende a ser maior em países democráticos com Estados sociais robustos e funcionais. E estes estão em melhores condições de cooperar internacionalmente, claro.

E, sim, neste contexto os EUA, vejam lá, são uma desgraça potencial, segundo uma revista quase sempre pronta a saudar o liberalismo económico: pessoas com medo de ir para o hospital por causa das contas e toda a restante insegurança e desconfiança sociais. Nos EUA, valem ainda reservas de planificação como a Reserva Federal no campo monetário, bem como as instituições federais que sobram do espírito do New Deal.

Enfim, para quando as velhas certezas globalistas num futuro sem fronteiras, expurgado de colectivismos nacionais?

6 comentários:

Jose disse...

O neokeynesianismo, unidirecional e a tempo inteiro, equipara-se a uma virose pandémica!

Jaime Santos disse...

Mas esqueceu-se convenientemente de referir que estamos neste sarilho por causa da bendita falta de transparência característica dos regimes comunistas de Economia planificada. Tivessem os burocratas chineses dado ouvidos ao malogrado oftalmologista, em vez de o terem tentado calar, e não estaríamos talvez neste sarilho.

O modelo de colectivismo nacional ditatorial a que o PCP e o João Rodrigues cantam loas...

Não misture a social-democracia com essa coisa que tanto admira, se faz favor. E quanto a não ser tempo para a UE, isso é o seu preconceito não da The Economist, porque que eu saiba ela decidiu justamente recorrer aos tais estímulos keynesianos, quando (e só) eles são precisos...



Geringonço disse...

“Enquanto estava a ser comida, eu pensava sobre o meu seguro”
“Mulher que perdeu a cara em um ataque de urso conta porque razão vai votar em Bernie Sanders”

“Literalmente, enquanto estava sendo devorada por um animal selvagem, não estava pensando em Jesus, na minha família ou no meu filho. Estava pensando se o meu seguro iria pagar por isto ou não.”

“Tive que fazer este cálculo enquanto estava a ser comida, “Quero sobreviver a isto?” Não, “Posso sobreviver a isto?” Não, “Como vou ficar?””

A mulher norte-americana acrescentou “Eu acho que isto diz bastante do sistema de saúde norte-americano”.

https://www.independent.co.uk/news/world/americas/us-election/bear-attack-allena-hansen-face-bernie-sanders-healthcare-insurance-2020-election-super-tuesday-a9370156.html


Quem será o mais selvagem, o urso ou aqueles que sujeitam a população à não garantia de cuidados de saúde?

Francisco disse...

O Jaime é um incorrigível e quando a razão não colhe, colhe-se a razão e tenta-se chegar ao mesmo resultado. Apesar do João Rodrigues ter dito de modo explícito que houve um atraso inicial na abordagem deste problema lá para os lados do Oriente (afigura-se, de resto, muito mais incompreensível, dada a cronologia dos acontecimentos, o atraso Italiano), nem por isso deixou de atribuír os males do Mundo à "bendita falta de transparência dos regimes comunistas". Esta é uma pirueta só ao alcance dos melhores ginastas, dado que não se salta sem mais nem menos de 2020 para 1945 e é também o mortal encarpado - só para manter a linguagem gímnica - de quem extrai conclusões sem premissas, exercício só ao alcance dos neófitos. Mais notável ainda, quando o transparente regime social-democrata português (para quê ir mais longe, se temos mesmo a evidência aqui ao nosso lado) conseguiu albergar no seu seio um primeiro-ministro que (antes, muito antes da estadia em Évora) proclamava tonitroante que o Tratado de Lisboa seria referendado (em nome da transparência, pois claro e da democracia também, já agora...), mas que logo depois concluio, que a complexidade da coisa (e, acrescento eu, o o facto de estarmos perante um assunto de lana caprina...) recomendava recato e alto nível e, por conseguinte, pouca proximidade com o povão. Mas se o incomodar este exemplo, olhe, sempre tem as declarações de Cavaco Silva a propósito do BES, antes da hacatombe. Mais transparente do que aquilo? Impossível, meu caro. Como vê, vírus há muitos. E epidémicos, além do mais.

Anónimo disse...

É fácil esquecer como Reagan e os sectores conservadores americanos boicotaram, ou melhor, sabotaram o combate ao HIV nos idos anos 80.

Jaime Santos se fosse esperto metia a língua na caixa. Até porque ainda vamos ver como uma sociedade sem um serviço de saúde decente como a americana vai lidar com a presente emergência.

Isto a propósito do atraso que o PCChina causou ao tentar silenciar o médico que deu o alarme.
Jaime Santos devia ter juízo no testo para tentar que sejam tomadas as boas medidas de contenção aqui em Portugal, já e agora. Erros de avaliação são cometidos em qualquer quadro ideológico. E de facto até é surpreendente a forma como são reparados num quadro político rígido como o chinês.

Guerras de alecrim e manjerona anticomunistas deveriam sera última das prioridades neste momento para alguém com um neurónio e mais metade de outro.

Ashish Mishra disse...

O neokeynesianismo, unidirecional e a tempo inteiro, equipara-se a uma virose pandémica!

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