sábado, 25 de novembro de 2017

Os números grandes e os números pequenos

O presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, disse à saída da reunião de ontem da Comissão Permanente da Concertação Social (CPCS) que as empresas têm de ser aliviadas dos esforços de tesouraria que representam o pagamento para os fundos de Compensação do Trabalho (FCT) e Fundo de Garantia de Compensação do Trabalho (FGCT).

Para quem não sabe, esses fundos foram criados em 2013, para prevenir situações em que os trabalhadores, com contratos posteriores a Outubro de 2013, eram despedidos e, por qualquer razão, não recebiam indemnização. Por cada contrato firmado, as empresas passaram a descontar 1% dos salários pagos, que contribuem para pagar até metade das indemnizações devidas. Caso os trabalhadores rescindam por sua vontade, os pagamentos feitos retornam às empresas respectivas. Cerca de 92,5% desse 1% vai para o FCT e os restantes 7,5% de 1% para o FGCT. 

Ora, as declarações de António Saraiva não são uma novidade. Já anteriormente ele dissera numa entrevista que os fundos estavam sobrecapitalizados - com cerca de 200 milhões de euros, dos quais se utilizara apenas cerca de 40 milhões. Para a CIP custava, pois, que houvesse depósitos mensais de 7 milhões de euros que, a ficar nas empresas, poderiam melhorar a sua situação de tesouraria...
"Estamos numa fase em que, felizmente, estamos a empregar e não a desempregar. Um fundo para aquilo que se destinava não precisa de estar tão fortemente capitalizado e é preciso encontrar uma forma de aliviar as empresas que estão carrear mensalmente para esse fundo 7 milhões de euros por mês"
Ontem na reunião da CPCS este tema foi novamente abordado sob diversas formas: menos descontos para as empresas, menores responsabilidades, menos transferências, menos contas bancárias, etc., etc.

Ora, vamos por partes:

1) Segundo os dados do próprio FCT referentes a Setembro passado, os descontos feitos por cada empresa nesse mês foram, em média, de 46,93 euros mensais. E por cada trabalhador, foi depositado em média 6,29 euros mensais. Isto porque houve 159.868 empresas a fazer descontos por conta de  1.193.052 contratos. É de duvidar, pois, que individualmente cada empresa possa estar em sofrimento por pagar mensal estas quantias... 

2) Mais: por estranho que pareça, o ano de 2017 - em plena retoma económica - foi aquele em que se pagou um maior volume de indemnizações. Cerca de 40% do valor das indemnizações pagas nos últimos 4 anos! Este facto revela que, apesar da retoma económica, se verifica o uso abusivo - e ilegal - de contratos de curta duração muitas vezes sendo renovados com o mesmo trabalhador, ou com outro trabalhador para o mesmo posto de trabalho, mantendo-se o trabalhador numa situação de precariedade. Essa elevada rotação é precisamente uma das coisas que se extrai dos números dos fundos. Veja-se aqui
   
3) Aqueles risíveis valores individuais de desconto são a consequência de - apesar da retoma económica - se pagar tão baixos salários desde que se iniciou a retoma económica em 2013. Caso se faça as contas sobre qual o salário médio praticado nesses novos contratos de trabalho, basta apenas dividir os 6,29 euros por 1%. Resultado: um valor que ficará ao redor dos 15 a 20% acima do salário mínimo nacional: 629 euros. Mesmo que os 6,29 euros se refiram ao financiamento apenas do FCT, isso representaria um salário de 680 euros mensais ilíquidos (6,29 euros / (0,925 x 0,01).


Voltemos, pois, às palavras de Saraiva.

Se são essas quantias que levarão as empresas a necessitar de alívios no esforço de tesouraria, é porque estão verdadeiramente mal. Na verdade, Saraiva apenas joga na negociação com os números grandes, esperando que ninguém se lembre dos pequenos. Faz parte da negociação. Enfim, é o que há.  

E, quem sabe?, mesmo assim é capaz de conseguir algumas coisas do Governo. Como as polémicas - e escandalosas - compensações pela Segurança Social à subida do SMN...

16 comentários:

  1. O Saraiva apenas é um representante de um dos pilares fundamentais do capitalismo, representa tão bem que chega a ser uma caricatura!
    O que o Saraiva faz é aquilo que o sistema capitalista lhe exige que ele faça, vai sempre, mas sempre tentar reduzir o valor do trabalho, nada de novo...
    É-lhes indiferente a miséria a que condenam quem verdadeiramente cria a riqueza.

    ResponderEliminar
  2. ´Sempre a mesma coisa, desde que seja sacar para o que se entende ser o lado dos coitadinhos os valores são sempre risíveis...

    ResponderEliminar
  3. Penso que este senhor devia dizer declaradamente que as empresas não devem pagar impostos e que os trabalhadores têm de ser escravos...as propostas que apresenta são absurdas e só são consideradas ou mesmo toleradas devido à falta de rumo e de valores desta sociedade em declínio acentuado.

    ResponderEliminar
  4. Este como outros têm sorte em viver numa altura onde a falta de liberdade é legal e onde a pobreza não é proibida.

    ResponderEliminar
  5. Estando este 25 de Novembro quase a findar, venho pelo presente relembrar o "ajuste de contas" nas contas do rosário de Portugal e de lá para cá como pouco ou nada mudou no "modus operandi" dos que dizem «que se lixem as eleições» o que interessa é o business as usual.

    E é com esse business as usual, que trespassa gerações, que nos quedamos na cauda da Europa ora seja pelo ordenado mínimo e ou médio assim como a arcaica franja empresarial de PME's de gestão familiar e um punhado de barões de coutadas varias (GALP e afins) em que a liberdade apenas deu assento a um punhado mais na mesa dos comensais dos grandes grupos económicos de outrora. Ou seja, isto tudo para, na senda do post, trazer para aqui um "lamento" vergonhoso das grandes superfícies do retalho que se queixam de falta de trabalhadores para as mais de 3 mil vagas disponíveis quando a oferta salarial é tão aliciante ao ponto de, feitas as contas, o trabalhador trabalhar de borla.

    Demagogia barata... ná, é apenas a CIP no seu esplendor !

    ResponderEliminar
  6. E lá está o jose com a sua choraminguice dos coitadinhos, a repetir papaguenamente a tese de Passos Coelho.

    Os valores de quem saca sabemos nós quais são :" O lucro acima de todas as coisas".

    Saca a todos os níveis. Desde a quem trabalha e produz a riqueza, até às micro e mini-empresas.

    Eles comem tudo. E não há risos alarves que o esconda

    ResponderEliminar
  7. Caro José,

    Se isso é o melhor que pode dizer do que foi dito, acho que o disse apenas por dizer...

    ResponderEliminar
  8. Caro João,
    Engano seu, disse o essencial.
    Posso todavia dizer mais: só os ignorantes não sabem que para uma sã gestão não há despesas irrisórias, sempre que sejam permanentes. Haverá conceito mais estranho à gestão esquerdalha?

    ResponderEliminar
  9. Caro João Ramos de Almeida:
    Qual o seu espanto em relação ao que este troll José disse?
    Por acaso alguma vez ele já disse algo diferente?
    Algo que se aproveite?
    Algo que não seja uma provocação?
    Continue a dar-lhe corda que o traste continuará a achar-se importante.

    ResponderEliminar
  10. Disse o essencial?

    Não, disse apenas a vulgata do patrão. A vulgata de quem explora os demais sem vergonha e sem remissão

    " para uma sã gestão não há despesas irrisórias"?
    Lembrar-se-á jose de todo pimpão justificar o mais de dois milhões de euros pagos a Mexia com os muitos milhões com que lidava?

    Onde parava nessa altura a boa-gestão do jose e do patrão?

    ResponderEliminar
  11. A 26 de Novembro herr jose dixit:
    "só os ignorantes não sabem que para uma sã gestão não há despesas irrisórias, sempre que sejam permanentes. Haverá conceito mais estranho à gestão esquerdalha?"

    As despesas com os salários nunca são irrisórias para os patrões. Querem sempre pagar menores salários. Enquanto que para eles querem sempre mais. Por isso a distribuição da riqueza pende cada vez mais para o seu lado.

    E onde depois os consultores financeiros aconselham o depósito dos lucros pela sã gestão à moda desta espécie de patrões?

    Nos offshores, claro. Com a seguinte justificação por parte do Jose para que não corram riscos desnecessários:

    "O que não correm é risco de confisco, o que evitam são os cretinos dos impostos sobre a fortuna, o que acautelam é que a penhora decorrente de avales e outros riscos garantam a subsistência de quem corre riscos de investimento".

    Não é lindo?

    Esta sã gestão ao gosto do patrão?

    ResponderEliminar
  12. O 'permanentes' já se perdeu na lamacenta treta do Cuco.

    ResponderEliminar
  13. jose

    Desculpe? Disse alguma coisa? Quer partilhar algo com o blogue? Tem algum peso no peito que queira aliviar? Pois então deite-se no divã e exponha as suas duvidas, partilhe-nos os seus problemas que, ao contrario de outros que nada dão, eu, a si, dou-lhe as primeiras 3 sessões de borla.

    ResponderEliminar
  14. O permanente cuco parece fazer mossa permanente no permanente verniz propagandista de jose.

    Mas não são os terrores de jose que se discutem.

    É a "sã gestão" patronal que lhes assegura ( aos patrões,sobretudo aos grandes) cada vez mais lucros de forma que querem permanentes.

    Como o revelam os dados oficiais quanto à distribuição da riqueza. Ou como o revelam os factos, ao vermos esta gentalha viver de rendas pagas com o erário público. Ou como assistimos ao desvio de astronómicas somas de dinheiro para cobrir a especulação financeira e os jogos de casino da banca predadora.

    A impotência argumentativa do coitado do jose resume-se a isto: À "permanência" da sua impotência

    ResponderEliminar
  15. -Sim, jose, o mundo é sem duvida um circo ... quer concluir?

    (Virão, caros comentadores? É assim que devemos agir com o Jose, com calma e compreensão, incentivando-o ao dialogo sem extrapolar)

    ResponderEliminar