«Como podemos "ver" a atmosfera? A resposta está no vento. Partículas minúsculas, conhecidas como "aerossóis", são transportadas pelo ar ao redor da Terra. Esta visualização utiliza informação dos satélites da NASA e combina-a com conhecimentos de Física e Meteorologia para monitorizar três aerossóis: fumo, sal marinho e areias. O que permite perceber quanto o Ofélia foi invulgar. De facto, mantendo o seu estado de tempestade tropical mais a norte do que qualquer sistema no Atlântico, viajou para leste, arrastando consigo poeira do Sahara e alimentando os grandes incêndios em Portugal, carregando depois o fumo e a poeira até à Irlanda e ao Reino Unido. Uma interação de aerossóis muito diferente das outras tempestades da época».
Este é o vídeo, e texto associado, do Gabinete de Modelos e Assimilação Global (GMAO) no Goddard Space Flight Center (da NASA), que tem sido bastante difundido entre nós nos últimos dias e que demonstra, com particular clareza, a excecionalidade das condições em que ocorreram os incêndios do passado mês de outubro e os sinais, cada vez mais evidentes, das alterações climáticas em curso. A modelização, que compreende o período entre 1 de agosto e 1 de novembro de 2017 (canto inferior esquerdo na imagem), mostra não só o que se passou em Portugal a 15 de outubro mas também a «facilidade» com que o fumo dos incêndios que assolaram os EUA neste verão se deslocou para a Europa, atravessando o Atlântico. O mundo, por vezes, é bem mais pequeno do que parece. E está a mudar.
... e só quem não muda é que está errado.
ResponderEliminarNo passado dia 1 de Setembro, a TVI24 noticiou o seguinte (http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/incendios/quase-metade-da-area-ardida-na-europa-pertence-a-portugal):
ResponderEliminar"De todo o território que já ardeu este ano na União Europeia, quase metade corresponde à área ardida em Portugal. Segundo os números provisórios do Sistema Europeu de Informação de Incêndios Florestais (EFFIS), baseados em imagens de satélite, e consultados pela TVI24, já arderam 559 mil hectares de território da UE, dos quais 224 mil arderam no nosso país.Este tem sido um ano negro para a floresta nacional, com Portugal a liderar, destacado, no que respeita à área ardida. Em segundo lugar, mas bastante distanciada, está a Itália, que regista 131 mil hectares de área queimada.Isto significa que em países com muito mais território do que Portugal os fogos estão a ter um impacto muito menor. Por exemplo, Espanha regista uma área ardida de cerca de 61 mil hectares, ou seja, quase quatro vezes menos do que Portugal."
Mês e meio depois, a 15 de Outubro, tivemos aquele que foi descrito pela Protecção Civil como “o pior dia do ano” no que a incêndios diz respeito (https://www.publico.pt/2017/10/15/sociedade/noticia/portugal-activa-mecanismo-europeu-de-protecao-civil-e-protocolo-com-marrocos-1789032). E lá se foi, p.ex., o Pinhal de Leiria (não, não se trata de um eucaliptal), a cargo do "Estado Mínimo" que temos tido.
As alterações climáticas agravam o problema dos incêndios em todos os países em que esse problema existe. Portugal é, de longe, o país europeu mais afectado. Por que será?
The answer, my friend, isn't blowin' in the wind...
Olharapo José:
ResponderEliminarConcluindo, tu estás errado, aliás, sempre estiveste.
"e só quem não muda é que está errado."
ResponderEliminarEste ainda está no errado e no certo. Ou isto é uma declaração de amor aos vira-casacas de todas as cores?
«...e os sinais, cada vez mais evidentes, das alterações climáticas em curso»
ResponderEliminarCaro Nuno Serra,
A que "sinais" se refere ? Às dinâmicas atmosféricas ilustradas pela divulgação da NASA ? Mas se o Nuno Serra as quiser comparar com as ocorridas há 50 anos ( pois de outra maneira talvez não faça sentido falar com propriedade de alterações ao nivel do clima, não é? ), que "material" é que usa para o efeito ? Não era vc que há dias escrevia por aqui que "só se pode comparar o que é comparável "?
JRodrigues
A propósito de alterações climáticas: https://www.dn.pt/sociedade/interior/castelo-com-3000-anos-descoberto-no-fundo-de-umlago-na-turquia-8938339.html
ResponderEliminarAReis
«A que "sinais" se refere» ?!
ResponderEliminarhttps://academic.oup.com/bioscience/advance-article/doi/10.1093/biosci/bix125/4605229
World Scientists’ Warning to Humanity: A Second Notice
ou
http://www.un.org/sustainabledevelopment/blog/2017/11/wmo-statement-on-state-of-climate-in-2017/
Pena intervir tão pouco, caríssimo José M.Sousa
ResponderEliminarCaro José M Sousa,
ResponderEliminarObrigado pelos seus links, que li com atenção. Porém, nenhum deles responde à questão que coloquei. O meu ponto é que os "sinais" para que Nuno Serra nos remete neste post não podem (pelo menos ainda ) ser interpretados como ilustrando qualquer "alteração climática" . Pela simples razão de que os satélites meteorológicos que os geram só andam lá em cima há meia centena de anos. Claro que sobra quem ache ( como os autores dos seus links ) que médias de trinta anos (calculadas com base em informação recolhida com técnicas e métodos muito distintos) bastam para fazer comparações e caracterizar as tendências do clima. Mas o que não vejo é ninguém a reflectir sobre os fundamentos dessa premissa. Porquê trinta e não setenta e sete, ou cento e dois ?
Cump.
JRodrigues
https://www.publico.pt/2017/11/13/ciencia/noticia/segundo-aviso-dos-cientistas-a-humanidade-continuamos-a-destruir-a-terra-1792378 Está enganado. Leia o que afirma o climatologista da FCUL Ricardo Trigo «Há cinco anos, nenhum climatólogo lhe dizia que as ondas de calor tinham uma componente das alterações climáticas. Agora posso dizer-lhe que as últimas grandes secas como a que temos agora e as de 2012 e a 2005 tiveram uma componente significativa das alterações climáticas. A probabilidade de ocorrerem já foi ampliada pelos gases com efeito de estufa e isso tem evoluído muito nos últimos anos.”»
ResponderEliminarPor outro lado, os satélites não são, nem por sombras, a única fonte de informação para avaliar o clima. Os autores dos links, num deles, 1500 cientistas, fazem parte da comunidade científica mundial em actividade.
Caro José Sousa,
ResponderEliminarEstou "enganado" por considerar que os climatologistas que refere extrapolam a partir de séries consolidadas curtas demais para terem significado climático ou por considerar que a informação susceptível de integrar séries mais dilatadas não é directamente comparável?
Era bom esclarecer isso, para não parecermos "baratas tontas" nestes debates.
Uma ultima observação. Acho interessantíssimo que se continue a investir no critério quantitativo ( ou dos "amplos consensos" ) para tentar demonstrar a validade de argumentos ceintificos. Segundo essa abordagem, Galileu e Einstein ( entre tantos outros...)nunca deveriam ter visto reconhecida a sua razão, pois foram contra os consensos do seu tempo. Certo ?
Cump.
JRodrigues
Já lhe referi que as observações por satélite não são a única fonte da informação. Há todo um ramo da climatologia, a paleoclimatologia, que estuda o clima passado. A dendroclimatologia pode fornecer informação relevante com milhares de anos. A análise do gelo acumulado nos pólos pode fornecer-nos informação com cerca de, pelo menos, 800.000 anos, etc, etc.
ResponderEliminarQuanto à sua referência a Galileu é, no mínimo, caricata. Deixo-lhe aqui este texto:
https://www.skepticalscience.com/climate-skeptics-are-like-galileo.htm
Uma vez que insiste nos satélites ( e 50 anos, apesar de tudo, é um período relevante), recordo que a rede global de termómetros já tem bem mais 100 anos.
ResponderEliminarhttp://www.ipcc.ch/publications_and_data/ar4/wg1/en/ch1s1-3-2.html
Talvez tire algum proveito deste texto: https://www.theguardian.com/environment/2012/mar/07/past-climate-temperature-proxies
Portanto, e resumindo,diz-nos José Sousa:
ResponderEliminar- que observações directas e indirectas são suceptiveis de serem comparadas directamente sem necessidade de questionar os critérios que as tornam comparáveis;
- que a "rede global de termómetros" não sofreu variações da envolvente suficientemente significativas para influenciar os dados e as conclusões deles retiradas;
- que os critérios que estabelecem que 50 anos é um "período relevante" para ponderar o clima ( de facto para "definir" padrões climáticos ainda bastam 30 anos ), não são questionáveis.
Ou seja, Sousa, à semelhança de muitíssima mais gente que adora pronunciar-se sobre estas matérias, olha para o clima com a mesma pesporrência epistémica com que se referiria a uma constante da fisica, e debate os critérios usados para o caracterizar como se fossem verdades primordiais escritas na pedra e como tal inquestionáveis. Sousa esquece que a tipologia Koppen-Geiger nunca deixou de ser aperfeiçoada e que mesmo assim nunca pretendeu nem pode ser lida sem ter em conta a elevada plasticidade das suas "margens".
Além disso, Sousa entende por bem criticar as motivações de quem ousa questionar as bases metodológicas da climatologia como se isso fosse uma espécie de heresia contra os dogmas estabelecidos. Para tal usa um discurso condescendente, cheio de links, com os quais pretende esclarecer a "ignorância" do seu interlocutor quando nem sequer faz ideia de com quem está a falar. Mas ao básico não responde, i.é, se os períodos de observação do comportamento médios dos elementos climáticos num determinado lugar passasse de 30 para 100 anos e se, concomitantemente, os dados usados fossem directamente comparáveis, sobraria assunto para este debate ?
JRodrigues
Olhe, candidate-se ao Nobel. Boa sorte.
ResponderEliminarCaro JRodrigues,
ResponderEliminarCreio que uma coisa é reconhecer elementos para debater a questão da comparabilidade das medições (que, parece-me, é hoje uma questão muito menos controversa do que já foi há uma ou duas décadas atrás). Outra coisa, contudo, é achar que os contornos desse debate permitem uma referência a Galileu: além de «ir contra» os «consensos do tempo» não ser um bem em si mesmo, o confronto, no caso de Galileu, era entre uma «razão científica» e uma «razão teológica» (e portanto «entre paradigmas» e não no seio de um dado paradigma).
Cumprimentos
https://www.ipcc.ch/ipccreports/tar/wg1/068.htm
ResponderEliminar« High-resolution proxy climate indicators, including tree rings, corals, ice cores, and laminated lake/ocean sediments, can be used to provide detailed information on annual or near-annual climate variations back in time»
Bem vejo que não gosta de "links". Devemos confiar apenas na sua douta sapiência não reconhecida oficialmente, aparentemente.
Caro Nuno Serra,
ResponderEliminarSendo embora a alusão a Galileu marginal neste debate, ela não deixa de ter alguma pertinência, conforme bem ilustra o seu comentário. Com efeito, por muito que gostássemos que fosse diferente, as fronteiras entre os paradigmas que refere não são tão estanques quanto isso, e o que não falta por aí é quem dê "saltos de fê" julgando estar a debater ciência.
Uma das áreas em que isso se manifesta é a credulidade com que se adere a determinadas convenções apenas porque são consensuais e não porque se compreendam. Exemplos : porque é que se convencionou que 30 anos bastam para tipificar o comportamento de um clima? Porque é que o padrão climático da era pré-industrial deve ser tido por referência de um "optimo climático "?
Claro que ir contra os consensos do tempo não tem nenhum valor em si mesmo. Mas, importa também que se refira que um consenso, por muito vasto que seja, não tem em si mesmo nenhum valor intrínseco de verdade.
Cump.
JRodrigues
Caro José Sousa,
ResponderEliminarNão seja indelicado que isso nada acrescenta ao debate.
Nada tenho contra os seus links. Apenas assinalo que nenhum deles esclarece as questões iniciais que coloquei, pois assumem como válidas as convenções em uso, a saber, e nomeadamente,
- a validade dos critérios que tornam comparáveis medições directas e indirectas
- a representatividade climática de médias de séries de 30 anos
- o valor intrínseco da era pré-industrial como referência climática.
Não resisto a uma ultima nota sobre o valor dos "tree rings" como indicador climático. Acreditar que o crescimento das árvores é determinado exclusivamente pelo clima , ainda vai sendo motivo bastante para chumbar qualquer caloiro de fitotecnia.
Não sei de onde provem a sua autoridade científica, mas a citação do último "link" é do IPCC. Se o ridiculo matasse...
ResponderEliminarCaro José Sousa,
ResponderEliminarJá que gosta tanto de links, deixo dois para ilustrar até que ponto chega o "ridiculo" que tanto o incomoda:
http://www.sps-philoscience.org/activites/activite.php?id=16
http://www.oxfordscholarship.com/view/10.1093/acprof:oso/9780199574131.001.0001/acprof-9780199574131-chapter-38
Quanto ao IPCC, decida se quer debater epistemologia da ciência ou activismo ambientalista ( contra o qual nada me move, em abstracto...) . Misturar os dois debates talvez não seja profícuo. E citar o IPCC como se nos remetesse para a autoridade de um Deus Terreno, talvez seja algo exagerado. Não ?
Relativamente à proveniência da minha "autoridade", sugiro que se centre na argumentação e deixe de lado esses estafados "concursos de pilinhas".
JRodrigues
Dois filósofos e um economista sobre modelos climáticos. Certo.
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ResponderEliminarExcelente síntese, José Sousa. Com essa levou-me ao tapete.
I'm done!
Best wishes.
JRodrigues