domingo, 10 de julho de 2016
Abram sempre as cartas
De tudo o que li até agora sobre o Brexit, a carta aberta à esquerda britânica, de Stathis Kouvelakis, e a análise sobre as causas da aparente confusão em curso, de Costas Lapavitsas, ambas publicadas na Jacobin esta semana, são sem sombra de dúvida os dois artigos mais luminosos.
Estão, de resto, em linha com o nível intelectual a que já nos tinham habituado numa esquecida tragédia grega de que fizeram parte e onde estes dois marxistas gregos, professores universitários em Londres e antigos militantes dessa coisa a que só por hábito se chama Syriza confirmaram o que há muito andavam a dizer sobre a UE e o Euro, também enquanto máquinas de destruição da razão rebelde.
Aproveito este espaço de reciprocidade sem fim à vista para perguntar: não andam por aí uns tradutores militantes, em sítios militantes? Estou a pensar, por exemplo, no esquerda.net, que faz dez anos de luta e que, para lá das notícias e análises originais, também merece os parabéns por não se perder na tradução.
Pelo debate e decisão sobre a ratificação do CETA na Assembleia da República
ResponderEliminarAssinar a petição online: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT80877
"...embora tenhamos atingido o número de assinaturas previsto para que a petição seja agendada para apreciação em Plenário da Assembleia da República, segundo os serviços da AR mais de metade dos signatários não foram considerados por erro na introdução dos dados.
Assim, urge seguirmos com a recolha de assinaturas até dia 2 de Agosto para completarmos as 4.000, de forma a viabilizar o urgente debate na Assembleia da República..." - Plataforma Não aos Tratados TTIP/CETA/TISA
Os dois textos são excelentes, na medida em que colocam (quase) todas as cartas em cima da mesa e reconhecem o caráter central da questão da imigração na campanha do referendo. Faltou dizer que não foram apenas os eleitores do Labour de classe operária que votaram Leave, mas igualmente o sul rico que vota nos Conservadores. A Esquerda tem por vezes o defeito de passar demasiado tempo a analisar as motivações da classe operária, sem se preocupar muito com a complexidade do pensamento da burguesia, que normalmente reduz a puros interesses de classe, como é infelizmente aqui o caso. Apesar disso, saúda-se o reconhecimento por ambos os autores que o plano do 'establishment' que apoiou o Leave (e cujos membros foram os reais vencedores deste referendo) é conduzir o Reino Unido por um caminho que tornará o seu modelo económico ainda mais neoliberal, liberto dos constrangimentos impostos pelas Leis Europeias. Claro, a oposição a esta ofensiva deve ser conduzida pelo Labour, mas estranhamente voltando as costas à maioria do seu eleitorado, pelo menos ao eleitorado urbano e de classe média que votou em massa pelo Remain. O que quer que se pense das motivações destas pessoas, haverá que reconhecer que a estratégia de converter 18% do eleitorado britânico que realmente vota (60%x30%) a uma visão soberanista e anti-capitalista não será mesmo nada fácil. Sobretudo quando a visão do dito campo soberanista em termos económicos se resume a termos como 'ecosocialismo', o que quer que isso seja... O problema da ausência de plano B na tragédia grega também residia na incapacidade de qualquer movimento político em conceber um plano de saída do Euro num curto período de cinco meses, quando esse plano não tinha sido concebido em anos anteriores (o Syriza defendia a manutenção da Grécia no Euro nas eleições de Janeiro de 2015, convém notá-lo). Repare-se que até as medidas de austeridade depois do 'Oxi' tiveram que ser concebidas com a ajuda da França. Ou seja, falta à Esquerda a tecnocracia que pulula no 'establishment'. E, gostem ou não, isso não tranquiliza ninguém, porque a ideologia e a moral por si só nunca ganharam guerras e nelas são precisas boas armas e bons generais. Mas, do que eu mais gostei mesmo foi da franqueza patente no seguinte parágrafo da carta de Kouvelakis: 'However, no such emancipation is possible without waging and winning the political battle through which the subaltern groups become the hegemonic, leading force in society.' Ou seja, o que Kouvelakis preconiza é, preto no branco, uma coisa que dá pelo nome de 'ditadura do proletariado'. Ora, nós sabemos da História que tal estado civilizacional nunca foi atingido em experiências revolucionárias anteriores, a dominação da burguesia foi simplesmente substituída por uma dominação muito mais ominosa de uma 'vanguarda' medíocre (uma nova classe dirigente, de facto) que do capitalismo só conservou o que ele tem de pior, ou seja o monopólio. Ora, para isso, mais vale mesmo tentar transformar aquilo que existe em algo um pouco melhor que seja...
ResponderEliminarTanta conversa para chegarmos ao de sempre: primeiro o poder, para redefinir a nação, depois o internacionalismo com quem for da mesma cor ideológica, para melhor sustentar o poder. Nada de novo!
ResponderEliminarAs Marx and Engels famously put it in the Communist Manifesto: “Since the proletariat must first of all acquire political supremacy, must rise to be the leading class of the nation, must constitute itself the nation, it is so far, itself national, though not in the bourgeois sense of the word.”
Such a concept is not only compatible but also quite logically leads to genuine internationalism, distinct from abstract bourgeois cosmopolitanism. To be genuine, internationalism — that is, the consciousness of a unified, universalistic, struggle against a common adversary — needs to be concrete.
Não faltou dizer que foram os eleitores do Labour de classe operária que votaram Leave
ResponderEliminarPorque a comunicação social e alguma esquerda conivente com esta europa pós-democrática se "esqueceu" completamente de tal facto
O mundo seria muito mais belo ( e será) sem classes sociais.
ResponderEliminarMas que fazer se as há?
De que lado ficar? De quem explora ou de quem é explorado.Pergunta tão simples que angustia tanta gente sabe-se lá porquê
"On the losing side, which includes, of course, most of the media and the economic and political establishment, the impact is as devastating as it is unexpected. The markets are plunging all over the world and the City of London, the economy’s central nervous system, faces disaster"
ResponderEliminarOlha.
Afinal a vitória não coube à direita e à extrema-direita.
However, the results show that Leave won in nearly all the Labour heartlands outside of London and a couple of cities such as Liverpool and Manchester. Even there, the more working-class districts didn’t follow the Euro-enthusiasm of the gentrified inner-cities.
"This argument’s logical conclusion is the type of social Darwinism, deeply ingrained in the mind of the British ruling class, that is more or less explicitly argued by all kinds of pundits, particularly those in the “center-left” media like the Guardian.
ResponderEliminarBrexit won, they say, because the most impoverished, essentially white, part of the working class supported it. And these cohorts of losers and uneducated people voted for Leave because they are racist and ageing."
O darwinismo social a mostrar o que são estas "democracias" mais ou menos liberais
"the worst thing the Left could do to confront the Right’s hegemony is to conform to the dominant narrative that Brexit’s success is a racist outburst from the depths of Britain’s psyche. Not only because this interpretation is analytically incorrect, but also because this discourse has an immanently performative dimension.
ResponderEliminar...
To put it differently, the Left failed not only to intervene effectively in the referendum campaign but also to win the battle for the interpretation of its result. Losing that battle could indeed ease the way for all those who will try to turn the ongoing political crisis into an opportunity to further turn toward an authoritarian and xenophobic form of neoliberalism."
Quantas vezes isto foi dito por aqui com outras palavras mas no mesmo sentido?
Vitoria da extrema-direita? Isso quer a extrema-direita vender
"Why should the European Union do tomorrow the opposite of what it has been doing for the past forty-three years? Don’t the terms of Cameron’s February 19 deal — terms that would have been put into effect had Remain won — further confirm that the European Union is ready to make as many concessions as it needs to as long as it can further entrench neoliberal policies?
ResponderEliminarHow credible is it to claim that staying in would improve social standards when everyone knows that the EU is designed to relentlessly promote its founding principle of “free and undistorted competition,” a principle that entails free movement for capital, the deregulation of the labor market, and the privatization of public services?
And if there was the slightest possibility that a Remain vote could trigger the relaxation of austerity policies, why then was Remain almost unanimously supported by the City, big business, and of course by David Cameron and the majority of his Cabinet and Parliamentary Party — with the generous help of guests like Obama and the usual European Union extras?"
É preciso mais explicações sobre a fraude desta UE? e sobre a fraude do remain como com potencial para reformar esta UE?
ResponderEliminarÉ confrangedor observar como Jaime Santos faz o seu jogo de cintura, fazendo leituras muito "pessoais do que é escrito pelos autores dos textos.
Por exemplo este "saúda-se o reconhecimento por ambos os autores que o plano do 'establishment' que apoiou o Leave (e cujos membros foram os reais vencedores deste referendo) é conduzir o Reino Unido por um caminho que tornará o seu modelo económico ainda mais neoliberal, liberto dos constrangimentos impostos pelas Leis Europeias"
Não é uma falácia.É simplesmente uma mentira.
"this was a referendum about the European Union. And the key to Brexit’s success is very simple: democracy".
Quanto à famosa frase referida por Jaime Santos como a que mais gostou convida-se a ler o texto:
ResponderEliminarThis is why Marx thought that “political emancipation” wasn’t the whole of “human emancipation” and why the “political state” should abolish its separation from “civil society” via the radical transformation of the social relations that both levels organize and reproduce.
However, no such emancipation is possible without waging and winning the political battle through which the subaltern groups become the hegemonic, leading force in society.
The decisive terrain for that battle is democracy, and its exercise implies a positive, conquering attitude at the level of the national formation. If we start from the premise that any positive reference to the nation inherently produces nationalism, racism, imperial and colonial nostalgia, then the Left is doomed to lose this political battle by losing touch with the working and the popular classes."
Claro , não? Para onde vai a democracia liberal desta forma tão maltratada que maltrata desta forma a realidade dos factos ?
Vamos então ajudar a quem cita o texto sobre Marx:
ResponderEliminarAs Marx and Engels famously put it in the Communist Manifesto: “Since the proletariat must first of all acquire political supremacy, must rise to be the leading class of the nation, must constitute itself the nation, it is so far, itself national, though not in the bourgeois sense of the word.”
Such a concept is not only compatible but also quite logically leads to genuine internationalism, distinct from abstract bourgeois cosmopolitanism. To be genuine, internationalism — that is, the consciousness of a unified, universalistic, struggle against a common adversary — needs to be concrete.
And concreteness means that it can’t bypass the national level, which is where class struggle occurs at the political level and where the subaltern groups’ organizations acquire their distinctive existence and identity".
"Tanta conversa" diz alguém aí, seguramente irritado,exaltado e excitado.
ResponderEliminar(O debate deve ser baseado em palavras de ordem, em slogans como é próprio de quem se queixa da complexidade das coisas e que toma o darwinismo social como projecto de vida e de sociedade)
E depois acrescenta estas patacoadas:
"primeiro o poder, para redefinir a nação, depois o internacionalismo com quem for da mesma cor ideológica, para melhor sustentar o poder. Nada de novo!"
Mas,mas,mas...o poder primeiro? Mas estes que se colam como lapas ao poder agora vêm queixar-se que lhes querem questionar o poder?
Veja-se a crise histriónica, o perfil odiento, o racismo larvar como encararam o simples facto de termos hoje um governo que não é da sua simpatia
Gritavam e gritam de forma histérica e com muitos pontos de exclamação: A geringonça !!!
Quanto ao "poder para redefinir uma nação"...
ResponderEliminarSeguramente uma forma assaz curiosa e profunda de dizer uma coisa assaz curiosa e profunda
Já antes o mesmo debitara esta pérola:
"inventaram Pátrias"
Donde estamos conversados: primeiro o poder, para redefinir a nação... pelo que depois se terão inventado pátrias
Coitadas das nações que não são redefinidas pelo poder. E desgraçado do poder que não redefine as nações.
Quem refere que o Reino Unido pode ser conduzido por um caminho que tornará o seu modelo económico ainda mais neoliberal é Costas Lapavitsas:
ResponderEliminarIf it succeeds, the outcome for working people will be thoroughly negative. This is the peril of the referendum...The Tories will probably adopt a harsh neoliberal agenda domestically, coupled with a compromising attitude with regard to the EU and aiming for some sort of “special relationship...The aim of Labour conservatives is clear: defeat the Left on any excuse and force it into the wilderness, thus returning politics to the tried and tested formula of the past four decades"
Mas sejamos honestos: continuar a política seguida nos últimos 40 anos não é seguir no mesmo esgoto que a classe trabalhadora britânica tem trilhado? "Os constrangimentos impostos pelas Leis Europeias" são uma treta, de resto confirmado pelas negociações Cameron/UE no período prévio ao referendo.
E sejamos mais claros.
ResponderEliminarVeja-se a forma lunminosa como acaba o testo de Lapavitsas:
On this political basis the Labour Party should offer an economic and social policy to the British people that could deal with the pressure on the National Health Service; tackle the growing housing pressure; lift austerity; nationalize transport, steel and banks; and engage in a determined campaign to “definancialize” the country.
The research and knowledge on how to engage in such a strategy already exist. If the Labour Party went confidently down this path, it would secure the support of the great majority in Britain, thus taking the country out of its historic impasse.
Britain could then act as a beacon of hope to a failing European Union that is already raising the specter of chaos. That is the path of hope."
Ou seja, vale a pena correr o risco. A bem dum RU afundado no neoliberalismo mais soez. E a bem de toda uma UE afundada no directório dos grandes interesses, UE que de resto sofreu e aceitou grande parte da agenda neoliberal exportada da Grã-Bretanha
É bom lembrar a besta negra que saiu do Reino Unido sob a batuta de Blair e da sua politica de continuidade thatcheriana:
ResponderEliminarNúmero dois no governo de Blair admite que guerra no Iraque foi ilegal:
"Vou viver o resto da minha vida com a decisão de declarar guerra e as suas consequências catastróficas", afirmou John Prescott num artigo de opinião.
Pior do que isto é difícil
Brexite pra la´ Brexite pra ca´ e dúvidas sobre se foi esquerda ou direita que obteve o lucro da coisa.
ResponderEliminarDigo lucro por que a finalidade foi mesmo essa!
Este processo chamado de Brexite foi negociado entre as partes GB vs EU
A meu ver foi um matches nulo, e´ que a economia foi globalizada e, como a política tem de ir por esse caminho (senão há guerra), quem não perdeu foi o capital.
Quem forçou os povos (para essa coisa a que se da´ o nome de União Europeia sabia bem o que queria.
Depois trata-se de obtenção da Hegemonia económica/politica Mundial. Não e´ por acaso que quase todos os países desta coisa são OTAN… DE Adelino Silva
Continuando...
ResponderEliminarMão é nada de extraordinário que uma qualquer sucessão de acontecimentos envolva tantos factores contraditórios que seja plausível não encontrar uma avaliação clara das causas dominantes.
Que isso seja oportunidade para que cada crença enfatize as causas que sejam mais conformes aos seus preconceitos, também é normal.
Mas cabe aos marxistas aplicarem os seus dogmas para ignorarem as consequências e definir políticas como se nada tivesse acontecido.
Um sossego!
"Continuando
ResponderEliminarNão é nada de extra ordinário.
Um sossego.
Uns dogmas
Uma causa dominante"
Coitado ,dirá o coitado das 22 e 38, continuando o seu trabalho e ainda perturbado com os acontecimentos:
"As consequências e as definições políticas cabem a Herr Shauble.Cabem a Herr Merkel. Cabem a herr Barroso."
É a sua voz vociferante, sibilina persiste e na sua persistência continua:
"Continuando...
Heil herr Europa"
Heil
Curioso como um tipo que aí em cima afirma que haja "tantos factores contraditórios que seja plausível não encontrar uma avaliação clara das causas dominantes" seja exactamente o mesmo que afirmava há dias com aquele tom peremptório de propagandista medíocre e vulgar:
ResponderEliminar"A importância dada ao Brexit decorre da necessidade da esquerda europeia de o associar a malefícios da UE.
Mal conseguem identificar alguns desses malefícios (embora se reconheça ser justíssimo o destaque dado à interferência de Bruxelas na dimensão da salsicha britânica), nem conseguem antecipar quais os benefícios que daí advirão para a GB.
Quanto aos votos, fiquem em paz, que o Brexit ninguém o quer travar. Só os britânicos" o querem atrasar!!!"
Eis a vulgata vulgar e pesporrenta
Deixe-se para lá o pequeno jeito histérico consubstanciado nos pontos de exclamação. Mas o que faz a necessidade do agora politicamente correcto em impingir as suas tretas, para se contradizer desta forma tão miserável ( mas tão deliciosamente reveladora) no espaço de dias?