quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
Sujo?
João Miguel Tavares pode estar descansado: com saída limpa ou suja, a ambição de limitar fortemente as escolhas democráticas nacionais, em matéria orçamental e não só, por via supranacional parece estar bem encaminhada até ver. O seu artigo de terça-feira é bem revelador dos limites do patriotismo que este e outros autodenominados liberais ensaiam de vez em quando, da forma como o elitismo pós-democrático se esconde mal por detrás do populismo contra a “classe politica” gastadora ou da forma como a ingenuidade de quem acha que os problemas estruturais de uma economia podem ser resolvidos por comando estrangeiro, quando tal nunca sucedeu, mascara mal o realismo de quem sabe que este comando é essencial para o seu projecto ideológico.
Bom, o resto é também João Miguel Tavares, o liberalismo lusitano que seduz alguma esquerda toda moderna, a ideologia como esforço para ofuscar ou para não enfrentar algumas detalhes simples: o défice e a dívida atingiram níveis insustentáveis, num Estado sem soberania monetária sublinhe-se, devido à crise e à estagnação continuadas, o tal conceito simples de variável endógena, já que antes disso, e para lá disso, o crescimento democrático da dívida foi também o resultado de investimentos em capacidades individuais e colectivas com futuro, com algumas predações à mistura, claro, tudo em linha com uma certa convergência com um capitalismo mais ou menos democrático, mais ou menos inclusivo; a função das regras orçamentais inanes é destruir o tal Estado social, impondo um regime deflacionário; já foram cortados 14 mil milhões de euros de despesa, o pior que se pode fazer em crise, e só não foi mais porque ainda existe, felizmente, a Constituição, e as reformas, essas, não param por todo o lado, associadas aos cortes e para deles, e, por isso, não vale a pena continuar com a conversa aldrabona de que nada se passa no campo do Estado, até porque sabemos para que serve essa conversa: para evitar confrontar o liberalismo limpo com a realidade suja, para lhe dar um fôlego continuado, já que também para o neoliberalismo o movimento é tudo e a meta final nunca chega.
Na versão de 1975 da Constituição o PC ,e não só, tinha inscrito a irreversabilidade das nacionalizações. Os partidos mais à direita explicaram-nos que isso era inadmissível pois condicionava os governos seguintes além de ser demasiado ideológico para uma Constituição.
ResponderEliminarBom este governo, na prática, além de entrar na irreversabilidade das privatizações, tentou pôr um máximo ao deficit na Constituição, condicionando os governos futuros e "last but not least" para ficar mais seguro tenta colocar alguns estrangeiros a controlar isto tudo.
E o espantoso é que os individuos que vão montando isto tudo, no fim até se acham democratas...