Recentemente, quando a OCDE anunciava que a taxa de desemprego em Portugal atingia os 12,9% (o quarto valor mais elevado no conjunto de países que fazem parte da organização) e o governo tratava de proceder a restrições adicionais no acesso ao subsídio de desemprego, o presidente da CIP, António Saraiva, entendeu por bem fazer este comentário notável (ver a partir do minuto 18): «há que retirar as pessoas, algumas delas estão desempregadas e estão em zonas de conforto. Preferem manter-se no subsídio de desemprego, porque vão tendo economias paralelas, o chamado "gancho". Vamos ter que lhes causar aí algum desconforto... Enfim, minorando tempos, minorando valores, porque se as pessoas tiverem um valor de subsídio de desemprego igual àquilo que se lhes possa oferecer em termos de emprego, admito - e isso acontece hoje lamentavelmente - algumas franjas vão-se mantendo desempregadas, vão encontrando formas para se manter com o subsídio de desemprego e isso é insustentável».
No post anterior, o João Rodrigues assinalou bem o que têm significado: a destruição massiva de postos de trabalho ao longo da última década (a um ritmo que se intensificou de forma dramática após os primeiros impactos da crise financeira sobre os Estados e as economias, em 2008); as sucessivas reformas liberais da legislação do trabalho; a perda de salários e de poder de compra e a violenta redução das indemnizações por despedimento. A este cenário dantesco de fragilização crescente do emprego, da própria economia e das condições de vida, acresce a erosão deliberada dos serviços públicos e de uma importante almofada social - o Rendimento Social de Inserção - que até à aprovação do PEC 1 (que dá início ao paradigma austeritário) acompanhava a evolução do desemprego, permitindo minorar os seus impactos (clicar no gráfico para ampliar).
Perante este quadro insustentável de degradação económica e social, a que «zonas de conforto» pretende exactamente referir-se António Saraiva? Não deveria antes pronunciar-se sobre a «zona de conforto» em que preguiçosamente vive um patronato medíocre e incompetente, que não é capaz de equacionar os desafios de competitividade da economia portuguesa a não ser pela compressão total dos custos do trabalho? Ou debruçar-se sobre a «zona de conforto» em que vive um governo inútil, cuja única estratégia de emprego que tem para apresentar aos portugueses consiste no incentivo à emigração?
O meu comentário reduz-se apenas ao último paragrafo do seu texto.
ResponderEliminarDeixámos de ter pessoas com capacidade de governar o barco e dirigi-lo por pontos de comum interesse onde se possa criar riqueza e bem estar para todos.
Estes últimos dirigentes apenas se tratam a eles com as melhores coisas abandonando os passageiros logo que o mar se mostre mais revoltoso...
Verá nos próximos capítulos.
perderam-se muitos postos de trabalho nos serviços, mas em contrapartida há ai lugares de apanhadores de laranja e de fabricantes de queijo à fartazana, mas convenha-se que mais vale arranjar brasileiros moldavos e vietnamistas
ResponderEliminarMoldavos é geralmente mau porque quando acabam as colheitas levam os tubos de rega e demais alfaias com eles à guiza de 13ºmês
O comentário de António Saraiva, mostra o desconhecimento (ou não) dos estudos sociológicos comparativos entre a sociedade portuguesa e a OCDE e UE sobre desigualdade de rendimentos, acesso a meios básicos de subsistência e bem estar. Mas não devemos ficar admirados por esta defesa corporativa pois ela faz parte do seu imaginário ideológico e ambição politica. Preocupante é a continuação de mais medidas que continuaram a dar provimento às suas afirmações. Ficarão a faltar respostas sobre a mediocridade dos gestores já para não falar das responsabilização civil e criminal.
ResponderEliminarMas o que é que esperam de quem formou Governo apenas para representar os interesses das Classes dominantes que aliás o patrocinaram, queriam coisa diferente?...Não se façam de ingénuos, estes tipos foram para o Governo apoiados pelo patronato -especialmente o alto patronato, o mais favorecido e o mais interventivo- pela Igreja e pelo reaccionarismo primário da maioria da população Portuguesa, especialmente a que vive ainda sob o manto do Salazarismo!...
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