quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Subalternos?

O desenvolvimento do subdesenvolvimento, indissociável da configuração crescentemente austeritária da integração europeia, tem a sua expressão ideológica num pensamento subalterno que recusa quase por princípio o dissenso em matéria europeia, afirmando as misteriosas virtudes do consenso europeu de bloco central que nos trouxe até aqui e que é hoje sinónimo da mais radical guinada para a direita numa democracia cada vez mais limitada. O editorial do Público de hoje é um bom exemplo desta postura enviesada. Tendo ainda uma incompreensível expectativa nas possibilidades da próxima cimeira, no editorial também se manifesta preocupação pelo facto de o PS manifestar algumas reservas, tímidas e pouco consistentes, ou não tivessem Maria João Rodrigues e outros eurocontentes ainda uma grande influência, em relação ao rumo de desastre que será uma vez mais confirmado. Euro-obrigações, intervenção do BCE como credor de último recurso ou a consciência dos efeitos perversos, a contrariar, da estratégia predadora da burguesia alemã, traduzida na obtenção a todo o custo de superávites na balança corrente, que tiveram como contrapartida necessária os défices externos das periferias, são sinais de um início de sentido crítico social-democrata. Se quiser ser levado a sério nesta linha, o PS terá seguramente de romper com a lógica da austeridade permanente e sem futuro, com o neo-colonialismo constitucional que lhe estará associado e com os paninhos quentes de editoriais que aceitam uma chantagem europeia geradora de empobrecimento desigual e de nada mais.

1 comentário:

  1. Percebo e concordo em geral com o teor deste texto. Só não percebo essa redução das alternativas ao PS. Sinceramente, os últimos 30 anos já deram para perceber que, de facto, o PS nunca fará NADA que possa levemente por em causa os interesses dominantes na nossa sociedade. E, sempre que é preciso, repete-se o mesmo esquema: uma pretensa "ala esquerda" do PS vem a público, em aparente discordância com a direcção do partido, afirmar uma posição de esquerda que tenta alterar minimamente os poderes existentes, qb para impedir uma sangria de votos rumo aos partidos de esquerda (PCP e BE), mas depois volta tudo ao seu rumo "normal", a bem do sistema. Se há alguma hipótese de alternativas concretas e sinceras, estas encontram-se no PCP e, por vezes, no BE. Não me parece credível acreditar que o PS alguma vez se coloque em oposição à Troika e à Alemanha.

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