Uma das minhas prendas de Natal foi o recente livro, editado pelo Banco de Portugal, "A Economia Portuguesa no Contexto da Integração Económica, Financeira e Monetária". Este grosso volume reúne um conjunto de artigos - bem convencionais, mas com muita informação empírica - do Departamento de Estudos Económicos do Banco de Portugal sobre a economia nacional nas últimas décadas. Todavia, qual é a minha surpresa quando leio no prefácio do Governador, Vítor Constâncio, o seguinte (destaques meus):
"Exemplo cimeiro do resultado da integração da investigação económica das Universidades e nos Bancos Centrais é, sem dúvida, o desenvolvimento de modelos estocásticos de equilíbrio geral (DSGE) que hoje moldam o pensamento macroeconómico dominante. Desses modelos se encontram exemplos no livro, ilustrando o facto de ter sido nos Bancos Centrais que essa metodologia aplicada floresceu. No entanto, tal como referido na Apresentação que se segue, é de notar que estes modelos sofrem de várias limitações. Na minha opinão, sobretudo os de primeira geração, não integravam o fenómeno do desemprego involuntário; ignoravam o papel do Estado, tratando as despesas públicas como mero desperdício (não contribuindo nem para o bem-estar nem para aumentar a capacidade produtiva) e os défices orçamentais como neutros para a actividade económica, sujeitos como eram à hipótese irrealista da equivalência dita ricardiana; não incluíam problemas financeiros, na esteira do teorema de Modigliani-Miller e da hipótese dos mercados eficientes que admitiam a ausência de fricções financeiras e a inexistência de bolhas especulativas identificáveis. A hipótese geral dos modelos estarem povoados apenas por agentes dotados de expectativas racionais que conhecem estocasticamente o futuro (salvo os efeitos de choques aleatórios) dificulta a consideração de comportamentos hoje bem documentados pelas «Finanças Comportamentais», como sejam os que decorrem da dificuldade de processar a informação, da «inteligência emocional» ou de simples modas ou «comportamento em rebanho»."
É impressão minha, ou o Governador desacredita, logo no prefácio, os modelos teóricos usados pelo seu Departamento de Estudos Económicos? Mais interessante é o profundo enviesamento ideológico que os limites, evidenciados por Constâncio, exibem: um mundo em que o desemprego é todo voluntário, o Estado não serve para nada e os mercados financeiros funcionam sem problemas. Nada que não tenha sido denunciado ao longo dos dois anos e meio de vida deste blogue.
E falta ainda considerar o desemprego subsidiado voluntário, que em Portugal é bastante (é ve-los a andar de empresa em empresa, não à procura de trabalho mas de "assinaturas")
ResponderEliminarE o pessoal que anda nas Novas Oportunidades a olhar para o tecto e a falar dos Ídolos e que por isso não podem ir trabalhar..
Acho que são variáveis que também deveriam entrar nos modelos...
Sim. Esse prefácio está muito bem feito! É um primor de supra estupidez! Académicos, técnicos desacreditados a quereem fazer o seu mea culpa, mas os quais não conseguem largar os seus brinquedos.
ResponderEliminarHá qualquer coisa de complexo fálico nisto tudo..
Um relatório do Banco de Portugal como prenda de Natal? Mas que interessante...
ResponderEliminarEstá a dizer mal de uma das prendas que eu ofereci anónimo? Não é um relatório. É um livro. Bem bonito por sinal...
ResponderEliminarDe forma nenhuma. Eu recebi uma torradeira com controle remoto e ainda hoje me divirto a ver de quão longe a consigo ligar.
ResponderEliminarMas alguém hoje acredita seja no que for que este dito grande economista( só se for no chorudo ordenado porque no resto bem....)possa dizer ou melhor vomitar, assim como nos outros quejandos como ele que consideram o desemprego uma benesse.!!!?????
ResponderEliminarCalem-se mas é seus basbaques.!
Gostavam de os ver no desemprego a viver com a miséria do subsidio.
Falar de barriga cheia é muito fácil.