quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Desconstruir os mitos do CHEGA em 17 pontos: guião de conversa com um apoiante da extrema direita (Parte 2)

 A parte 1 pode ser consultada aqui.

1)     5) Portugal é um país inseguro e as minorias étnicas e raciais são as principais responsáveis por essa insegurança. Portugal não é um país inseguro. Segundo o Global Peace Index, publicado pelo Institute for Economics and Peace, Portugal é o país mais seguro da União Europeia e o terceiro país mais seguro do mundo. De igual modo, não há nenhuma ligação direta entre a criminalidade violenta e a origem racial dos indivíduos que cometem esses crimes. Segundo dados de um estudo publicado pelo Observatório da Imigração, uma vez colocados em “condições equivalentes de masculinidade, juventude e condição perante o trabalho, os dois grupos tendem a tornar-se perfeitamente equivalentes”. Sustentar e difundir estas duas ideias só interessa à estratégia da extrema-direita, para quem é fundamental mobilizar o ódio contra um grupo social, culpando-o de todos os males, no lugar de atacar a verdadeira raiz dos problemas e desenhar soluções.



2)      6) O CHEGA não é racista. A prova disso é que até tem elementos racializados nas suas listas. Há duas formas pouco eficazes de avaliar se alguém ou alguma organização é racista. A primeira é perguntar-lhe. Convenhamos que ser racista é uma coisa que não fica bem e, por isso, poucos aceitam o rótulo. Há sempre um “não sou racista, mas…”. Não admira, com efeito, que o CHEGA não se declare racista. A outra forma pouco eficaz de o avaliar é ver se tem amigos que são de uma minoria racial. O “até tenho amigos que são” é um péssimo critério. Porque o que essa frase denota é que essas pessoas se prestam a dar com uma pessoa de uma minoria racial apenas porque consideram que elas são diferentes do comportamento padrão que atribuem ao grupo de que provêm. É como se essa pessoa tivesse combatido um quase determinismo de ser inferior por provir de um determinado grupo e se tivesse superado, tendo como prémio o ter o privilégio da amizade das pessoas de bem. Quem é que nunca ouviu a expressão: “O (…) é um grande amigo. É preto, mas até parece que é branco”. Não há expressão que melhor condense o racismo paternalista bem enraizado na sociedade portuguesa. De igual modo, de pouco vale uma organização ou um partido argumentarem que têm membros que pertencem a minorais raciais. Em todos os regimes segregadores de base colonial, os grupos repressores cooptaram membros das minorias subjugadas para a fazerem parte da administração pública colonial. Embora a necessidade de expandir a administração colonial para além das restrições populacionais dos colonos fosse um fator, a integração de autóctones funcionou também como estratégia de propaganda, demonstrando como a ação civilizadora do colonizador podia resgatar da sua natureza primitiva parte dos locais, que conseguiam por essa via civilizar-se, escapando à sua natureza inferior. As organizações racistas irão sempre procurar mostrar que integram segmentos da sociedade que atacam de forma explícita, assim como sempre haverá membros das comunidades atacadas que se irão prestar a esse papel, por ingenuidade ou por esperarem proveito próprio futuro, mesmo implicando o sacrifício dos seus. Resta-nos a terceira e única forma de avaliar se uma organização é ou não racista: olhar para o conteúdo do seu discurso e das suas propostas. Comecemos pelo conteúdo do discurso, porque este é o mais revelador. Como pretendem sempre escapar ao rótulo explícito, o expediente passa por fazer insinuações ou omissões no discurso. No caso das referências à subsdiodependência (sempre presente no discurso do CHEGA) os visados são os membros da comunidade cigana, embora isso não seja sempre referido. Há a sugestão de que beneficiam de regras de atribuição de subsídios diferentes dos restantes portugueses, quando, na verdade, o RSI é uma prestação cujos critérios de atribuição e fiscalização são iguais para todos os cidadãos. Outro dos alvos preferenciais são os migrantes e os refugiados. Em 2015, em plena crise dos refugiados, quando crianças, mulheres e homens morriam aos milhares no Mediterrâneo, André Ventura publicava um artigo no CM onde, apesar de ser favorável ao acolhimento de refugiados (ainda não tinha feito o coming out da xenofobia em pleno), logo se aprestou a semear a dúvida: é preciso ter muito cuidado, porque nesse processo podemos estar a acolher milhares de jihadistas. A morte no Mediterrâneo transformar-se-ia na morte nas cidades europeias por via do terrorismo. Vale a pena analisar este artigo de um André Ventura com um perfil ainda em formação, porque permite demonstrar o quanto um objeto discursivo que aparenta não ser racista pode cumprir o seu propósito. O essencial do artigo é criar a dúvida: “com os refugiados poderão vir jihadistas que o poderão matar a si e aos seus”. A partir do momento em que essa sugestão é criada, o que o resto do artigo diz não importa. Qualquer laivo de empatia pela desgraça daquelas pessoas é convertida em ódio e receio pelo que elas poderão representar. O que resta do artigo também pouco importa para quem lê – é apenas útil para o emissor se ilibar de apelo explícito à xenofobia. Em relação à comunidade negra, o racismo manifesta-se no desprezo pelos crimes com motivações racistas do qual esta comunidade é alvo, por veicular a ideia de que se vitimizam e por sugerir que a criminalidade violenta tem nesta comunidade a sua maior prevalência. Casos evidentes desta atitude foram o movimento organizado nas redes sociais de desvalorização das agressões sofridas por Cláudia Simões, na Amadora, após detenção policial, ou a difamação de Bruno Candé, sugerindo que este teria agredido previamente o seu homicida e que o homicídio nada tinha de racista, ainda que antes de disparar o homicida tenha gritado “volta para a sanzala!”. As afirmações e sugestões de caráter racista são sempre estrategicamente ponderadas e têm intensidade variável em função da perceção do ressentimento face à comunidade a atingir. Como a ciganofobia é a mais generalizada das manifestações racistas em Portugal, os ataques a esta comunidade são mais explícitos. O mesmo se passa com a denominada “ameaça islâmica”. Como a probabilidade de alguém conhecer um muçulmano é baixa, a capacidade de o desumanizar, demonizar e minorar os seus problemas é maior. Com a comunidade negra a estratégia tende a ser mais sofisticada – lamentam a agressão e o homicídio, mas a motivação não foi racista; são pela igualdade, mas os negros é que gostam de se fazer de vítimas. Havendo uma maior prevalência desta comunidade na sociedade portuguesa, diminui a capacidade de a desumanizar. É uma geometria variável em que se movem numa estratégia de comunicação às apalpadelas na tentativa de maximizarem a sua implantação e o seu processo de normalização. É manipulação pura. Mas, se é verdade que é no tom do discurso que se deve extrair o essencial do caráter racista do CHEGA, também é verdade que o conteúdo do seu programa tem referências explícitas a propostas que visam atingir minorias raciais e de género. O CHEGA propôs a repatriação imediata de todos os imigrantes ilegais e a sua incapacidade de legalização. Quando se sabe que milhares de trabalhadores ilegais são vítimas da sua condição para serem explorados por empresários sem escrúpulos (sobretudo nas áreas da construção e da agricultura intensiva), fazer este apelo é ignorar o drama destas pessoas, ignorar o seu contributo para a produção da economia portuguesa e favorecer ainda mais a exploração e o trabalho ilegal. De igual modo, o CHEGA propõe o aumento abono de família, mas apenas para crianças com nacionalidade portuguesa. Sabendo que, resultado de uma lei da nacionalidade restritiva, muitas crianças nascem em Portugal sem nacionalidade portuguesa, esta é uma medida que adiciona discriminação e dificuldades a essas crianças, a somar a outras que já possuem ao longo da sua vida. O programa do CHEGA também discrimina explicitamente a comunidade LGBT, defendendo que a escola pública não tem o direito de ter conteúdos que ensinem a tolerância face à diferença de orientação sexual. A ideia de que a intolerância em relação a escolhas sexuais é do domínio da opinião e que o Estado não a deve combater através do sistema público de ensino é mais uma bandeira da extrema-direita importada pelo CHEGA. Finalmente, o CHEGA tem a proposta delirante de que Portugal deve equacionar o abandono da ONU, devido à sua política para com os refugiados e por ser um veículo de difusão do marxismo cultural. O racismo (e o delírio) são inegáveis.

3)    7) Portugal não é um país racista. Comecemos por estabelecer algumas premissas básicas neste ponto. Quando se diz que “Portugal é um país racista” não se está a afirmar que todos os portugueses são racistas. Por isso, se não é racista, não tem nenhum motivo para ser sentir ofendido com a afirmação. O que se pretende assinalar é que Portugal é um país estruturalmente racista, em que os sentimentos e atitudes em relação a minorias raciais não são neutras e que essa diferença tem reflexos negativos na vida dos indivíduos pertencentes a essas comunidades. Esse racismo pode ter diversas estratificações, mas isso não o torna menos grave. Pode não conhecer muitas pessoas que estejam dispostas a dizer abertamente “preto de merda, volta para a tua terra”, mas talvez já conheça mais pessoas a quem o insulto sairia se fosse precedido de um momento de discussão. Também já poderá ter ouvido afirmações racistas, que são até acolhidas com bonomia. Existe sempre o clássico “Anda lá com quem quiseres, mas não me apareças cá com um preto em casa”. Mas, para que o racismo seja uma realidade com impactos concretos, ele não precisa de ser manifestado: basta ser sentido, estar latente e influenciar perceções. Segundo um estudo coordenado por Jorge Vala, já amplamente difundido, que analisa dados do European Social Survey para Portugal, 52.9% dos inquiridos acreditam que há raças ou grupos étnicos que nasceram mais inteligentes e trabalhadores do que outros. Enquanto 54.1% mostrava acreditar que, no mundo atual, havia culturas intrinsecamente melhores do que outras. Em face destes dados, não há alternativa a reconhecer que Portugal tem um problema de racismo e este deve ser combatido por meio de todos os instrumentos de política pública disponíveis. Ao tentar distorcer esta realidade, o CHEGA demonstra conviver bem com os sentimentos racistas ainda existentes na sociedade portuguesa e ser cúmplice com o sofrimento e desigualdades que criam em milhares de cidadãos.

4)    8) A esquerda só defende os ciganos e os pretos que vivem da subsidiodependência. A mim ninguém me dá nada. Vivemos, felizmente, num Estado Social. Isso significa que, enquanto comunidade, criamos mecanismos que previnem que pessoas em condições particularmente difíceis tenham um suporte mínimo para a sua existência. Parte essencial do Estado Social são as transferências sociais. Elas são uma importante causa de diminuição do risco de pobreza na sociedade portuguesa. Em 2018, a taxa de risco de pobreza antes de transferências sociais foi de 43,4%, diminuindo para 17,2% após essas transferências. Existem prestações como o subsídio de desemprego, com atribuição condicional em descontos prévios para a Segurança Social com base nas remunerações do trabalho, e o Rendimento Social de Inserção, criado com a função de garantir um rendimento mínimo a pessoas que não têm outra fonte de rendimento. Isto é, para que ninguém esteja totalmente desamparado dentro da comunidade que representa a democracia portuguesa, criam-se mecanismo de garantia mínima de dignidade dos seus membros. Não é despesismo, é humanismo. É uma rede de solidariedade que garante que ninguém fica totalmente deixado para trás. Ambas as prestações têm sido alvo de ataques por parte do CHEGA. Do ponto de vista do conteúdo, exige-se que a ambas a prestações correspondam a serviço comunitário. O programa não explicita, mas supõe-se que tenham em mente o habitual “se querem receber, é pô-los a limpar as matas e a trabalhar nos lares”. O problema com este argumento é que, se existe trabalho socialmente útil e o Estado acha fundamental que alguém o desempenhe, então deve contratar as pessoas por um salário condigno, que corresponda, pelo menos, ao salário mínimo nacional. Aquilo que é indigno fazer é transformar pessoas numa situação de fragilidade num instrumento de desvalorização do trabalho, obrigando-as a trabalhar por valores abaixo fixado por lei. Ninguém enriquece com estas prestações. O RSI, que carece de apresentação de condição de recursos, tem uma prestação média de cerca de 155€ por pessoa e de, aproximadamente, 260€ por família. Alguém consegue mesmo defender que é possível ter uma vida faustosa com estes valores? O que o CHEGA faz, mais uma vez, é virar os remediados e os pobres contra aqueles que são ainda mais pobres. A mobilização do ódio à pobreza e à promoção de medidas que desvalorizam o valor do trabalho só beneficiam aqueles que verdadeiramente apoiam o CHEGA. Enquanto se instiga à vigilância sobre a vizinha que recebe o RSI e gastou 0.6€ num café, não se causa alarme pelas centenas de milhões de euros que todos os anos saem para offshores. A privatização da saúde, da educação e das pensões, bem como a demonização das prestações socias, favorecem os mais poderosos do sistema. O CHEGA dá-lhes jeito porque cidadãos consumidos pelo ódio não olham para a verdadeira raiz da desigualdade. Outro argumento é que existem prestações sociais que são exclusivas para determinados grupos étnicos. O RSI, dizem, é só para os ciganos. Mentira. O RSI é atribuível a qualquer cidadão que reúna as condições elencadas para a atribuição. Como qualquer outro programa, é sujeito a fraude. Mas a solução não é eliminá-lo, lançando dezenas de milhares de pessoas para situações de indigência, mas antes aumentar os mecanismos de fiscalização. De igual modo, deveria ser óbvio que não é, felizmente, possível excluir ninguém de uma prestação social com base na sua origem étnica. Seria inconstitucional e indigno.


15 comentários:

  1. O CHEGA é obviamente uma fraude, não é uma fraude qualquer, é uma fraude que tem representação parlamentar, ou seja, que tem o reconhecimento da republica portuguesa como partido idóneo e capaz de respeitar os mais altos valores da nossa constituição, é disto que se trata, parece que esta "leve" incoerência incomoda pouco a esquerda.
    O CHEGA tem uma enorme representação mediática dada por grande parte dos media e isto é o mesmo que dizer que tem uma grande representação dada pela elite económica deste país, este pormenor parece incomodar pouco a esquerda.
    O CHEGA no essencial apresenta casos de um enorme realismo, casos que não têm qualquer intenção de os resolver, não apresentam qualquer solução para nenhum dos problemas que apontam apenas pretendem apenas exercer o poder e a sua ideologia, que é a força dos mais fortes.
    A esquerda acredita que vai convencer as pessoas que ser humanista é prezar o multiculturalismo e a igualdade entre povos ao mesmo tempo que aprofunda as desigualdades num mesmo território e aceita pacificamente o "dumping" laboral que hoje é norma.
    O CHEGA tem um projecto que se for eleito o aplica no dia seguinte à eleição, a esquerda não, aponta para um futuro melhor, nunca um rompimento com o presente, sempre com uma boa dose de caridade e a isto chama decência e dignidade.

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  2. Caro Anónimo,

    Parto das suas inquietações sobre a relação entre o CHEGA, as elites e a resposta da esquerda serão abordados numa parte futura desta série. Espero que possa corresponder às suas inquietações.

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  3. Uma grande vergonha o chega vermes que se alimentao de cabeças podres.

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  4. Um excelente e apurado trabalho de Diogo Martins sobre o racismo

    Pedagógico e instrumental

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  5. Porque será que não ensinam o português básico na Holanda?

    Isto é para alguém se fazer passar por quem?

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  6. 5) O país é seguro quanto à ordem pública, pelas qualidades do seu povo e por mérito das instituições policiais, e inseguro pela ineficiência de um sistema judicial, sem medida de eficiência conhecida, sem meios bastantes num quadro legislativo instável, prolixo, impreciso e de qualidade decrescente dos seus agentes. O desenhar soluções vai em 46 anos de ‘mais do mesmo’ que se mantém representado com esmagadora maioria nos órgãos de Estado competentes para o efeito.
    6) O único meio sério de definir o racismo é identificarem-se características rácicas que determinem um qualquer estatuto de superioridade ou inferioridade.
    Não sei de ninguém, que não seja um qualquer grunho, com semelhante convicção.
    Que há na sociedade portuguesa minorias que a uma cultura e comportamento diferenciados associam características rácicas diferenciadas, é uma evidência.
    É puro oportunismo dar relevo à cor da pele quando sempre se ignoram as diferenciações culturais ou comportamentais, ou pior ainda, se induz que cabe às maiorias assimilarem como próprias essas culturas e comportamentos.
    A campanha do anti-racismo sempre iguala indivíduos pela cor da pele o que é o postulado da própria definição de racismo
    7) « os sentimentos e atitudes em relação a minorias raciais não são neutras e que essa diferença tem reflexos negativos na vida dos indivíduos pertencentes a essas comunidades»
    Que é essa TRETA de ser neutro?
    Será que tenho de ser neutro em relação a quem não conheço ou não reconheço?
    Será que não saberei, com margem de erro que tenho por tolerável, reconhecer sinais da natureza de pessoas que por feições, postura e gestos tenho por identificáveis? Gente a quem abro a porta e gente a quem não o faço?
    Neutro!
    Proponhamo-nos acções sérias de avaliação, proporcionemos oportunidades de aproximação. E é tudo para toda a raça.

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  7. Jose está agastado

    Ele, logo ele que não se interessava pelo coiso, tem este trabalho imenso para defender assim desta forma o coiso

    Mas está com azar:

    Diz ele:"O país é seguro quanto à ordem pública"

    Factos: "Portugal não é um país inseguro. Segundo o Global Peace Index, publicado pelo Institute for Economics and Peace, Portugal é o país mais seguro da União Europeia e o terceiro país mais seguro do mundo"

    O que faz jose perante os factos? Apascenta idiotices a esboçar a exaltação da raça: "pelas qualidades do seu povo"

    Por acaso estou a lembrar-me duma grande qualidade que este povo teve ao dar um chuto no fascismo a 25 de Abrl de 1974...

    Ah, e também por outra coisa: "por mérito das instituições policiais"
    Repare-se como mais uma vez jose se descai e revela a justeza do apontado pelo autor do texto

    Vai em 46 anos do mais do mesmo, diz jose. E nem o alvo das cartas de jose a Paulo portas o faz sossegar na sua cruzada anti-Abril

    Moral da História. Perante um país seguro, jose faz coro com o chega. De forma menos primitiva, mas mais ideológica. Assim mais de acordo com os que não se contiveram a 25 de Abril e molharam miseravelmente os seus fatinhos

    "O país não é seguro" gritam em coro o coiso e o jose

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  8. Diz jose:

    "O único meio sério de definir o racismo é identificarem-se características rácicas que determinem um qualquer estatuto de superioridade ou inferioridade"

    Antes de disparar o homicida gritou :“volta para a sanzala!”

    Segundo a definição "séria" de jose, isto não é racismo. Ou não é sério para definir racismo. Ele,o homicida, não identificou "características rácicas que determinassem um estatuto de superioridade ou de inferioridade"

    Bora agora ver se sanzala é um upgrade ou um downgrade.

    Isto não pode ser a sério, pois não? Isto é a miséria intelectual a que chegam os ideólogos a chegarem-se ao chega

    Este é o padrão intelectual destas coisas. Como advogado de defesa do coiso é particularmente devoto da coisa

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  9. Diz jose

    "Não sei de ninguém, que não seja um qualquer grunho, com semelhante convicção".

    Vamos ver grunhos?

    Armindo Monteiro, fascista, Ministro das Colónias de Salazar entre 1931 e 1935, num discurso proferido em primeiro de julho de 1933, teve a oportunidade de assim se referir sobre as sociedades africanas: "Nenhum sopro de ambição as anima. Diante do milagre da penetração da selva pelo homem branco permanecem insensíveis. A sua nudez externa é o espelho da sua nudez moral. Estará ainda o europeu a tempo de salvar essas sociedades, que parece só por ela esperam? Julgo que a selecção natural irá operando os seus efeitos e que, dentro de poucas dezenas de anos, da face da terra terão desaparecido as raças negras que não puderam escalar as ásperas sendas da civilização"

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  10. Diz jose:
    "O único meio sério de definir o racismo é identificarem-se características rácicas que determinem um qualquer estatuto de superioridade ou inferioridade.
    Não sei de ninguém, que não seja um qualquer grunho, com semelhante convicção"

    Jose faz-se de tontinho

    Salazar num discurso em 1935:
    “Devemos organizar cada vez mais eficazmente e melhor a protecção das raças inferiores ..."

    Jose a chamar grunho a Salazar... ainda é despedido de detergente do regime

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  11. Jose já repetiu ipsis verbis este discurso manhoso de desculpabilizador do racismo e dos racistas.

    Ou seja, jose antes de estar interessado no coiso , já repetia as coisas do coiso.

    Um avant-coiso este jose

    E agora vem a parte cómica
    Diz jose:" há na sociedade portuguesa minorias que a uma cultura e comportamento diferenciados associam características rácicas diferenciadas, é uma evidência"

    Por exemplo a cultura e comportamento dos porno-ricos associa-se a que característica rácica?

    Brilhante, não é? Da idade ou apenas a fúria militante de ajudar o coiso?


    A coisa continua:
    "É puro oportunismo dar relevo à cor da pele quando sempre se ignoram as diferenciações culturais ou comportamentais"

    Puro oportunismo dar relevo à cor da pele?
    Mas são os coisos do coiso a fazerem-no. Os racistas.Os xenófobos.

    Há aqui confusão da grossa. Deve-se não dar relevo às questões da pele, mas sim às diferenciações culturais ou comportamentais? Ser racista não com base em factores biológicos mas com base no discurso do ministro fascista de salazar que fazia exactamente isso?

    Ser racista assim deste jeito. Ele merece ser expulso, não porque é negro, mas porque é diferente culturalmente. Ou então, ele merece cacetada valente , não porque é negro, mas sim porque não tem os comportamentos adequadoa a lidar com os terratenentes do jose.

    Há aqui algo de abjecto.

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  12. Tiremos o retrato dum xenófobo:

    "em sociedades legalmente antiracistas, e em que a norma do anti-racismo nas interacções quotidianas é saliente, as representações sociais sobre as diferenças entre povos deslocaram-se do eixo explicativo da raça para o eixo explicativo da cultura"

    Com um perfil já completamente formado, Jose demonstra o quanto um objeto discursivo que aparenta não ser racista pode cumprir o seu propósito. O de um racismo latente e repugnante


    E jose continua:
    "pior ainda, se induz que cabe às maiorias assimilarem como próprias essas culturas e comportamentos."
    O coiso falava que nos refugiados podiam vir milhares de jihadistas. Jose fala pelas maiorias. E revolta-o, coitado, que caiba a estas assimilarem como próprias as culturas e comportamentos dos outros

    Bom, a distorção do discurso é típica de treteiros. Sem vergonha, mas treteiros. Sem escrúpulos, mas treteiros. Ideologicamemte motivados, mas treteiros.

    As maiorias assimilam as culturas alheias como próprias? Não consta que tal aconteça. O processo de aculturação é, pelo contrário, um processo que se verifica sobretudo nas minorias. O que faz jose virar o bico ao prego?

    Fazer propaganda xenófoba e racista. Gerar medo. "Eles" querem mudar a nossa cultura. "Eles" querem que passemos a adorar os seus deuses.A tomarem conta dos nossos negócios. A mancharem com o seu sangue, o sangue dos nossos povos.

    O outro que é diferente, não se respeita porque é diferente. Mas por ser diferente, é alvo da boçalidade dos armindos monteiros do presente, fazendo-se apelos à integridade do corpo rácico,para não ser conspurcado pelos outros

    Isto é racismo puro, montado ideologicamente para funcionar ao jeito duma le pen em França.Um discurso que um Kommandantur não desdenharia para levar as massas a uma nova noite de cristal

    Com uma agravante. Não consta que este cuidado com a integridade cultural dos povos, estivesse na mente dos colonialistas que se instalaram, roubaram saquearam ,pilharam as culturas que "evangelizavam"

    Também por isso este discurso é simplesmente abjecto.

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  13. Continua jose:
    "A campanha do anti-racismo sempre iguala indivíduos pela cor da pele o que é o postulado da própria definição de racismo"

    Já percebemos que jose não gosta que haja anti-racistas.

    O que ainda não tínhamos percebido é que o discurso de jose tem a mesma lógica intrínseca dos "discursos claros e lúcidos" do idiota que ele idolatra

    Vejamos. Há pouco "o único meio sério de definir o racismo é identificarem-se características rácicas que determinem um qualquer estatuto de superioridade ou inferioridade"

    Passa agora a ser a cor da pele. Deixou-se de paleio idiota. O tipo do Ku Klux Klan já não se tem que preocupar com a identificação das características rácicas que determinam que o negro é inferior.Pode enforcar imediatamente o tipo, só porque é negro.

    Vejamos ainda. O anti-racismo, combate o racismo. Combate a ideia da discriminação pelo tom da pele (e não só). Combate os racistas que dizem que a cor da pele interessa. Ora quem combate os racistas e aponta a incongruência destas atitudes é que iguala os outros pela cor da pele? Não deveriam combater os postulados racistas, igualando os indivíduos independentemente da cor da pele?
    Será esta a tal igualdade, que jose postula como "indefinição e impossibilidade", o pretexto para jose se revoltar contra quem iguala os indivíduos,estando-se nas tintas para a cor da pele?

    Há uma outra hipótese. Os tais anti-racistas deveriam igualizar os indivíduos pelas iniciais dos seus nomes. Tal seria o postulado da definição da idiotice

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  14. Temos finalmente direito à encenação histriónica de jose.

    Jose não é neutro.Escusava era de se armar em prima dona e berrar assim, floreando as suas frases com aqueles pontos de exclamação tão histriónicos

    Os sentimentos e atitudes em relação a minorias raciais não são neutras. E tal pode ter reflexos negativos na vida dos individuos

    Como argumenta jose?

    Avançando com o seu umbigo e tomando as dores duma sociedade inteira, como se fossem as dele. Ninguém lhe pede para ser neutro. Ele não o é.Já o sabíamos.

    E como reage jose?

    Com o discurso vitimizador da ordem, centrado nas margens de erro do sujeito, do que é tolerável para ele ou não, das posturas e dos gestos e das feições que ele autoriza e todo aquele seu paleio de treteiro histérico aí em cima debitado

    O que temos nós todos a ver com a neutralidade ou não de jose? O que é que isto contradiz a frase citada do autor do texto? Que mixórdia é esta, em que se parte das tretas (legítimas) pessoais, para a produção dum discurso globalizador? Jose não é neutro? Isso sabíamos nós. Jose tenta, utilizando o seu umbigo, justificar a falta de neutralidade para com os outros.Andam todos atrás das margens de erro,do que é tolerável ou não, das posturas e dos gestos e das feições. E se não for pela raça , é pela cultura. E se não for pela cultura, é pelos comportamentos. E se não for pelos comportamentos, é pelos gestos, pelas posturas, pelas feições

    Um branqueador racista dos racistas

    Leva o coiso ao colo. Já levou as balls do outro

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  15. Há mais?



    Voltemos à afirmação de jose sobre a segurança do país:

    "O país é seguro quanto à ordem pública, pelas qualidades do seu povo e por mérito das instituições policiais"
    Deixemos para lá este piscar de olhos às instituições policiais,este lambe-botismo às fardas, já denunciado pelo autor do texto

    Jose fala nas "qualidades do povo"

    Quando a "geringonça" foi para a frente, tivemos direito a estas pérolas histéricas de jose, sobre a qualidade de tal governo

    "A maior cambada de fdp que alguma vez foi servida por uma cambada de carneiros mansos!"

    A qualidade do povo foi-nos na altura elucidada por jose: "uma cambada de carneiros mansos"

    Jose é não só tudo o que está à vista, como também tem um discurso de geometria variável, de acordo com os seus objectivos político-ideológicos

    E de facto é também um aldrabão e um treteiro

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