quinta-feira, 30 de abril de 2020

Do Estado multibanco


No último texto, o Nuno Serra falou do Estado multibanco no contexto da posição dos capitalistas na TAP. Estes gostariam de socializar o risco, retendo o monopólio da gestão.

A CIP vem agora tentar propor a generalização desta lógica, com jornalistas entusiasmados, papagueando a nova linha patronal para estes tempos. A CIP quer que o Estado crie um fundo que ajude as empresas, entrando e saindo do capital em função das conveniências patronais:

 “o Estado garanta posições de entrada e saída e um custo gerível para as empresas, sem interferir na gestão, e que as empresas garantam que não pagam dividendos e haja bons critérios de escolha”.

Sem interferir na gestão é realmente todo um programa, todo um imenso topete, toda uma aspiração a um multibanco para acalmar os nervos patronais em contexto de incerteza. É a tal volátil aspiração à liquidez, que de resto refuta sempre a fantasia económica convencional acerca da neutralidade da moeda numa economia monetária de produção.

Afinal de contas, quando as coisas apertam só o soberano pode agir, enfrentando, como nos ensinou Keynes, as forças obscuras do tempo. O problema é que este Estado não é monetariamente soberano. Terá de voltar a sê-lo, claro, uma coisa de cada vez.

Entretanto, o Estado empreendedor tem mesmo de nacionalizar e de gerir um conjunto de sectores. Com a entrada no capital, vem alteração das relações de poder, que dependem sempre, mas sempre, das regras fixadas pelo Estado. Este poder deve ser redistribuído dentro das empresas parcial ou totalmente nacionalizadas.

Há muito conhecimento válido por mobilizar dentro de tantas empresas e muito conhecimento que pode ser trazido de fora. Se o capital é uma relação social, então o capital de todos tem de implicar novas relações sociais. Isto realmente não pode ser um Estado multibanco.

15 comentários:

  1. Interferir na gestão não é solução, só significa pôr a boyada a fazer disparates e a empregar a matilha.

    Tivesse o Estado estabelecido a responsabilização dos gestores em vez de lhes garantir a quase total irresponsabilidade, e a proposta da CIP não seria disparatada.
    O que serviu para manter empresas com capitais negativos, na falsa pretensão de manter empregos, vai agora ser pago com um desastre monumental.

    A TAP é um caso diferente: o Estado tem grande poder na TAP e entrou com plena aceitação de um projecto que falhou; vir agora armar-se em salvador da gestão é tão só ridículo!

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  2. Tchtchtch

    Boyada?

    Que vocabulário próprio de uma estribeira. Privada,ao gosto da CIP?

    Teve azar Jose, Expressava há pouco a sua convicção da mão invisível,enquanto se atirava duma forma incontinente e caceteira contra o que é público

    Assim desta forma tão visível:

    "Dizer público é dizer incapaz de sobreviver em concorrência.
    Ou o consumidor ou o contribuinte têm que lhe suportar a ineficiência e o compadrio."

    Teve azar Jose.

    O patronato, o grande patronato é que é incapaz de sobreviver. E procura no Estado que lhe paguem a ineficiência e o compadrio. Socialize-se os prejuízos para depois se receber os lucros a haver. Enquanto se proclama o seu ódio ao que é publico

    Jose teve azar em ser a própria CIP a desmontar-lhe o faduncho carunchoso que arrasta atrás de si.

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  3. Há todo um programa de fados neste programa de Jose

    Por exemplo,o da gestão

    Interferir na gestão privada de privados interesses, que se consubstanciam com o contributo do dinheiro público?

    Isso nem pensar.

    Os gestores privados são de uma enorme competência. A comprová-lo temos o BPN e o Totta e o Espírito Santo e o Banif...

    Então como se poderiam rentabilizar estes rombos provocados por gestores impolutos...mas privados?

    Qual foi mesmo o termo utilizado por Jose?
    Boyada?
    Um nome feio para qualificar tais gestores,a fazer disparates e a empregar a matilha


    Eis o desastre monumental de ter uma economia baseada apenas no lucro uberalles, em que o deus mercado comanda a vida e preside ao saque

    Mais claro é difícil. Mais não resta a Jose que fazer estas fitas em torno da "responsabilização" dos outrora comparsas, que se alimentaram e alimentam esta trampa neoliberal.

    É o capitalismo, estúpido

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  4. Quanto ao caso da TAP

    Mais tchtcchtch a pontuar a aldrabice do discurso de Jose. Dirá este: "o Estado tem grande poder na TAP e entrou com plena aceitação de um projecto que falhou blablabla"

    Tem?

    Os últimos 10 anos foram marcados por profundas alterações na gestão e por uma intensa luta ideológica em torno da TAP, entre os que a queriam entregar aos grupos económicos privados e os que a queriam manter na esfera pública. A TAP foi privatizada em 66%, tendo-se revertido parcialmente essa privatização com o Estado a deter hoje 50% do capital.

    Só que o Estado prescindiu no entanto do controlo público da gestão da empresa.

    A actividade dos gestores privados a quem serviu?
    O que é que a CIP agora quer?

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  5. O que se pretende com isto é aumentar a transferência de dinheiro do contribuinte e de ativos do estado para os bolsos dos 1% que são a CIP, a CCP e a CAP.
    Já vimos os primeiros episódios desta rábula, desde 1980.
    O último episódio custou ao contribuinte a bela quantia de 25 biliões de euros, que permanece no passivo do estado, porque ninguém a consegue pagar.
    Agora, teremos mais falências e talvez a saída forçada do euro.
    Lembro que a Grécia esteve quase a ser expulsa do euro em 2010-2012.
    Os bancos fecharam e os multibancos dos 99% ficaram fora de serviço.
    É altura de colocar o "multibanco" dos 1% fora de serviço.

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  6. «“o Estado garanta posições de entrada e saída e um custo gerível para as empresas, SEM INTERFERIR NA GESTÃO, e que as empresas garantam que não pagam dividendos e haja bons critérios de escolha”.»

    Eis a hipocrisia neoliberal, em toda a sua plenitude. Passam a vida a defender que o Estado tem que ser gerido como uma empresa -- Durão Barroso, por exemplo, usava muito esse argumento para defender que deviam ser gestores a gerir os hospitais e outras infra-estruturas públicas, porque só os gestores, defendia Barroso, sabiam "criar riqueza".

    Mas agora, querem que o Estado viole um dos preceitos fundamentais de uma economia de mercado: que injecte dinheiro nas empresas, mas que se abstenha de qualquer interferência nas mesmas. É quase como se reconhecessem que os mercados não sabem tudo, e não podem tudo -- que blasfémia!! -- e que existem situações nas quais apenas os estados são capazes de actuar (blasfémia ao quadrado!!).

    Não direi que isto seja uma forma de socialismo para os ricos -- porque há muita pequena empresa por esse país fora que não o é. Mas é certamente uma espécie de socialismo empresarial, agora defendido por quantos normalmente abominam o socialismo... quando este é aplicado aos indivíduos!

    Bem pregava Frei Tomás...

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  7. Ontem tínhamos o pimentelferreira, vulgo paulinho das feiras,perdão paulorodrigues, em cima da ponte a dizer que não era de esquerda nem de direita.

    Hoje papagueia uma vulgata berdadeiramente rebolucionária,embora com aquelas fífias próprias de lições mal aprendidas

    Diz o holandês de trazer por casa:
    -"transferência do dinheiro do contribuinte"?
    Contribuinte? Está-lhe tão infiltrado o seu paleio fo Observador, que vem para aqui queixar-se nos mesmos termos?

    Não foram estas coisas que queriam substituir a palavra "cidadão" por"contribuinte"?

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  8. Os bancos, o Estado, deviam atuar como empresas de capital de risco. Quando não o fazem, perdem o controlo da forma como o seu dinheirinho é aplicado...
    Se o senhor empresário diz que necessita dinheiro, €10.000, para um balcão frigorífico, o banco deve primeiro avaliar a viabilidade desse investimento, e não é só a probabilidade contabilística de a empresa conseguir pagar. O banco devia comprar títulos de dívida emitidos pela empresa, como aumento de capital social, e nomear um fiscal com poder para ver as contas da empresa sempre que pedisse, e poder para vetar decisões que ponham em causa o pagamento futuro da dívida.
    Quem empresta o dinheiro devia ter capacidade para fiscalizar a sua utilização, não vá o empresário comprar um balcão frigorífico em terceira mão por €3.000 e com a diferença trocar de carro, em geral um BMW.
    É que um balcão velho não gera fundos para pagar o empréstimo de um balcão novo...
    Quando a empresa entra em incumprimento no pagamento do empréstimo, o banco, aí, já tem pessoas para tratar da penhora...
    O Banco (ou o Estado) não segue a regra de prudência "Mais vale prevenir que remediar"...

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  9. Toda a questão se coloca em relação a uma óbvia consequência da pandemia e recessão: despedimentos em massa!
    Sendo o despedimento o regulador canónico da quebra da actividade, só por si já fará que muitas empresas optem pela falência, solução canónica da inviabilidade económica ou financeira

    A esquerdalhada que vem com o seu canónico discurso de nada conceder ao privado, terá de volta desemprego e quebra de impostos, taxas e taxinhas.

    É fazer as contas!

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  10. Ao João Rodrigues: como autor do artigo no PÚBLICO, venho aqui dizer-lhe que era escusado tentar enxovalhar-me, mimoseando-me com essa referência a “jornalistas entusiasmados” que “papagueiam”. Obviamente, isto diz mais de si do que do meu trabalho, dos meus 20 anos de trabalho, que tal como neste caso, não é, nunca foi e não será, limitar-me a engolir o que diga A ou B. Fica claro que não gostou da mensagem - não lhe dou o direito de atirar sobre o mensageiro, despersonalizando-me e sugerindo que estou ao serviço. Tenho um nome, o meu nome, respondo pelo meu trabalho, sempre com a minha cara, e fiz o que me competia, o contrário do papagaio entusiasmado que debita linhas seja de quem for: ouvi o presidente da CIP, confrontei as ideias dele com outras fontes, quer documentais quer viúvas, e contextualizo, explicando que a ideia da CIP de ir buscar dinheiro à IFD nem sequer é possível e que a situação da IFD não é a que ele menciona. Agradeço a publicação deste meu comentário.

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  11. Nesta minha convicção que o Estado, incapaz de produzir em mercado de concorrência, não adiantei a mais acarinhada solução de esquerda:
    Nacionalizem e produzam pregos, portas, caldeiras, sapatos, mobiliário...
    Oportunidade excepcional! Saldos espectaculares!

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  12. Jose está um pouco fora de si

    É o 25 de Abril... o Primeiro de Maio...o azar de Jose... os seus gestores e a birra porque não lhes deixam as mãos livres...os gestores seus e a birra porque lhes deixam as mãos livres... as aldrabices soezes sobre a TAP

    E agora volta, mais uma vez, confirmando que de facto não está bem.

    Agora como pregoeiro assim para o estranho.

    Estão em saldo os seus comentários.

    (E não só estes)

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  13. Um excelente comentário resposta de João Rodrigues

    Quer no assumir das desculpas, quer na forma como desmonta uma peça jornalística, que é um exemplo de como a informação olha só para um lado.

    Depois não se admirem que tal jornalismo cause mesmo repulsa

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  14. Manuel Galvão e o estado e o banco e a penhora e o BMW e o fiscal

    Confessemos. Que paupérrima defesa da trampa que são as negociatas do Capital, aqui convertidas em ridículas coisinhas comezinhas para ver se assim passa no crivo da crítica de quem o lê.

    A mediocridade de João Pimentel Ferreira sempre a pontuar desta forma tão característica

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  15. O jornalista Victor Ferreira defende a sua honra e critica a minha adjetivação do seu trabalho, acusando-me de atirar ao mensageiro.

    Reconheço que os termos por mim usados são fortes, talvez demasiado fortes. Posso ter sido levado pela repulsa em relação à mensagem e se o fui resta-me pedir desculpa.

    Mas, como leitor, a peça não satisfaz por três razões.

    Em primeiro lugar, António Saraiva “recorda”, “explica”, “refere”, “insiste” e “garante”. Só há António Saraiva. Corrijo: também há “uma fonte do Governo”, anónima, que confirma que tudo é legal. Isto enquadra a questão de uma forma favorável.

    Em segundo lugar, dada a cambalhota, a CIP devia ter sido bem mais escrutinada, quer do ponto de vista qualitativo, tendo em conta a tradição patronal, quer quantitativo.

    Em terceiro lugar, deveria ser dado espaço a quem esteja envolvido neste debate sobre o papel do Estado, com concepções diferenciadas, referindo outras propostas em cima da mesa; propostas do movimento sindical, por exemplo.

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