domingo, 1 de abril de 2018
Descrucificar
«Numa entrevista de 1978, Eduardo Lourenço mostrou a verdade da nossa condição, na própria referência cristã: "Cristo é o momento (sem limite de tempo) em que a humanidade tomou forma humana. (...) Foi crucificado, não por querer ser deus, mas por ensinar o que era ser homem. Dois mil anos passaram sem que esquecêssemos nem aprendêssemos a lição".
(...) A cruz, a sentença de morte mais bárbara e cruel, fazia parte do mundo que Jesus queria mudar. (...) Ao contrário do que se repete há séculos, Jesus Cristo não desejou nem santificou a cruz. Alterou-lhe, porém, a significação de forma radical. Foi-lhe imposta, num julgamento iníquo, por ele recusar trair o seu projecto. Tornou-se, deste modo, o símbolo da fidelidade inquebrantável, o signo da extrema generosidade. A presença de sinais da cruz, desde o baptismo até à morte, diz que é preciso dizer não à crucifixão da vida e dizer sim à generosidade libertadora, no dia-a-dia.
Tudo isto vem confirmado no trecho do Evangelho (...): estava Jesus sentado junto ao mar da Galileia e uma grande multidão veio ter com ele e lançou-lhe, aos pés, coxos, aleijados, cegos, mudos e muitos outros. Se o mestre fosse um pregador de sacrifícios dizia-lhes: estais mal? Ainda bem. Assim podeis santificar-vos e, um dia, sereis muito felizes no céu. (...) Jesus não acreditava nessa mística. Curou-os e organizou, com pouca coisa, um grande banquete popular. (...) Poder-se-á dizer: porque não deixou a fórmula? Seria uma alternativa muito barata dos serviços de saúde, públicos e privados. Mas ele não veio para nos substituir. (...) A sua prática é um desafio à imaginação de todos os homens e mulheres, de todos os tempos, a usarem os seus talentos, as suas capacidades, não para cavar distância entre ricos e pobres, mas para as eliminar, pois não suporta ver uns à porta e outros à mesa, uns em banquetes requintados e outros na miséria.»
Frei Bento Domingues, Jesus nasceu para descrucificar
A propósito deste excelente texto de Frei Bento Domingues, publicado em dezembro do ano passado e que surge em vivo contraste com a liturgia dominante da culpa e do sacrifício, lembrei-me de uma intervenção de Miguel Baptista Pereira numa edição dos Encontros de Filosofia, em Coimbra, nos anos noventa. Questionado sobre que noção de «Homem» atravessava o pensamento marxista, o então professor na Faculdade de Letras referiu-se ao «Homem das dores», às vítimas da injustiça, do sofrimento, da desigualdade e da opressão, perante as quais o marxismo se assumia como projeto emancipatório (ou, regressando ao cristianismo e a Frei Bento Domingues, de descrucificação).
Um excelente artigo.
ResponderEliminarFrei Bento
ResponderEliminaré meu irmão
Muito bom.
ResponderEliminarO apelo à dádiva é tão velho quanto o impulso de ser para além de si.
ResponderEliminarA religião promove-o negando a felicidade eterna aos relapsos à dádiva e prometendo-a aos desprovidos.
Os políticos assumem-se como promotores da dádiva criando a figura do dador involuntário através de impostos.
Até que chegam os que dizem ser defeito tudo que trouxe o homem à dominação do mundo, salvo se tiver por desígnio a dádiva que assegura a igualdade entre os homens. Seguramente são políticos. Seguramente querem dominar. Seguramente visam promover a dádiva dos outros.
Tanto paleio hipocrita escondido através da “ dádiva” e dos impulsos” a irem mais longe do eu e outras cabotinices em torno dos “ desprovidos”(?) e das religiões.
ResponderEliminarPara se desembocar naquele registo generalista dos políticos e dos “ impostos”
Seguramente quer manter o saque e o seu produto em bordéis tributários?
Outros registos de aristocratas a promover o direito a ser mais do que os demais
Compare-se com o transcrito no post de Nuno Serra. Este José é daqueles beatos género formatura do Estado Novo em versão César das Neves a querer o regabofe da vampiragem acima denunciada
Comparar um politico como Salazar, que mandava executar adversários com as suas vítimas como o político Humberto Delgado é seguramente dum político que seguramente quer continuar a dominar, que seguramente quer promover as dádivas dos outros para o bolso dos que regurgitam de riqueza
ResponderEliminarHá quem já tenha feito um desenho para facilitar a compreensão...
ResponderEliminarhttps://www.rijksmuseum.nl/nl/collectie/RP-P-1891-A-16457
S.T.
Sempre as almas generosas com o dinheiro dos outros ligam os alarmes quando se lhes toca no mantra da igualdade.
ResponderEliminar"Almas generosas e o dinheiro dos outros mais os alarmes e a igualdade".
ResponderEliminarEis a que está reduzido jose, um vetusto político que seguramente quer continuar a dominar, que seguramente quer promover as dádivas dos outros para o bolso dos que regurgitam de riqueza.
Tão simples como. Enfiou o denunciado até às orelhas. Sobram-lhe aqueles tiques de superioridade néscia, tão habituais entre uma aristocracia tão decadente como impotente. Com cheiro a eugenia pura e dura
Mas, tovarich José, o mantra não é só igualdade.
ResponderEliminarEstava e está nas moedas francesas:
Liberté - Égalité - Fraternité
Eu acrescentaria algumas explicaçõezinhas:
Liberdade de pensamento e consciência.
Igualdade politica e perante a lei.
Fraternidade económica e solidariedade entre os homens (e mulheres!).
S.T.
Liberté - Égalité - Fraternité
ResponderEliminarEu acrescentaria algumas explicaçõezinhas:
Liberdade de pensamento e consciência - sempre houve; a liberdade manifesta-se pela expressão do pensamento.
Igualdade politica e perante a lei - a igualdade perante a lei não inclui a liberdade política que se manifesta pela expressão livre do pensamento.
Fraternidade económica e solidariedade entre os homens (e mulheres) - 'entre os homens' só voltou a não incluir as mulheres na recente pireza do corretês feminaço; adjectivar a fraternidade já leva o tique comuna dos direitos a almoços grátis.
"pireza do corretês feminaço"
ResponderEliminarIndependente doutras coisas, este é o espectáculo da mediocridade marialva e machista dum vetusto personagem. Impotentes argumentos com que tenta tirar desforço do "feminaço" que o aguilha na sua pseudo-virilidade de canastrão rural ( Eça apanhou muito bem estas "coisas". O conde de Abranhos é seu parente literário)
Este é o "politicamente incorrecto" dum tipo que papagueia de forma suspeita o César das Neves, por sua vez papagaio de outros tiques.
Esta é a imagem de marca dum patronato espantosamente caceteiro e troglodita, que não se veda pelos almoços grátis, à custa de quem explora e esmifra, mas que arredonda o ventre à medida que prossegue o seu saque.
São para estes os tais almoços grátis. Mas enxameiam os jornais e os comentários com estas pieguices paridas lá nos antros suspeitos com que tentam esconder a sua medonha pança.
Interroguemo-nos como a mediocridade vive paredes meias com a iliteracia.
ResponderEliminar(Os patrões do tempo de Salazar deviam ter cuidado melhor da educação dos seus descendentes. Educaram-nos em colégios privados ou mandaram-nos "estudar" para o "estrangeiro" e saíram verdadeiros patos-bravos)
"Liberdade de pensamento e consciência - sempre houve"
Apetece perguntar como o fazia de forma idiota alguém noutro post, se não há uma"estatística" que demonstre esta calinada. Se de facto não há machado que corte a raiz ao pensamento ( esta canção-poema irritava sobremaneira os esbirros fascistas), a realidade choca de frente com os mantras deste jose.
Socorramo-nos da vulgar Wikipedia:
"Liberdade de pensamento (liberdade de consciência, liberdade de opinião ou liberdade de ideia) é a liberdade que os indivíduos têm de manter e defender sua posição sobre um fato, um ponto de vista ou uma ideia, independente das visões dos outros"
A tal liberdade de pensamento e a sua reivindicação como direito fundamental não tem o estatuto "criacionista" como o apresenta este jose. Será também por estas coisas que este defendia um ensino baseado no senso-comum. Insistirá ainda que o sol gire à volta da terra?
Voltemos à wikipedia:
ResponderEliminarA liberdade de pensamento consta na Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu artigo XVIII, que expressa que "todas as pessoas têm direito à liberdade de pensamento, consciência e religião".
É diferente e não deve ser confundida com a liberdade de expressão.
A liberdade de consciência é complementar e está intimamente ligada a outras liberdades, como a liberdade de expressão e a liberdade religiosa. É tão importante para a democracia que consta da legislação de vários países, como a Primeira Emenda à Constituição dos EUA (1791), a Lei da Separação entre a Igreja e o Estado na França (1905), o artigo 3 º da Constituição do México (1917), a Constituição Interina do Nepal (2007), além de constar de leis e decretos em momentos revolucionários, como em Portugal, Rússia e Bolívia".
Jose ainda está ao nível do salazarismo obscurantista. A atirar poeira para os olhos, enquanto desta forma tão enternecedora revela a pireza da ignorância machista e ultramontana
E como a educação adequada parece que não foi um legado paterno procuremos ver mais longe:
O Dia Mundial da Liberdade de Pensamento ocorre anualmente a 14 de julho.
A liberdade de pensamento é um direito consagrado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, adoptada a 10 de Dezembro de 1948. Segundo o artigo 18: “Todo homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou colectivamente, em público ou em particular”.
Ser livre para pensar é o expoente da liberdade individual. Neste dia apela-se à reflexão sobre o significado de liberdade de pensamento e à extinção do fosso existente entre esta liberdade e a liberdade de expressão: entre os pensamentos interiores e as manifestações exteriores dessas visões pessoais.
O artigo 19 da mesma declaração refere: “Todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”.
A data alude à Queda da Bastilha, que assinalou o início da Revolução Francesa.
Exala como aroma pestilento o rancor que Jose tem à Revolução Francesa.
Mais valia que jose, em vez dos humores suspeitos em volta do feminaço, se tivesse dedicado a estudar um pouco mais.
ResponderEliminarPorque a seguir vem outra "pérola"
"a liberdade manifesta-se pela expressão do pensamento"
A tal liberdade, que para jose sempre a houve, manifesta-se pela expressão do pensamento. Ficamos no entanto sem saber como classificar a não autorização da expressão do pensamento. Ou não haverá liberdade, o que é um contra senso do mantra invocado pelo jose, ou a manifestação da dita cuja não passa pela liberdade, o que é no mínimo estranho
De repente lembramo-nos que jose já manifestou a sua admiração pela profissão de censor, duma forma em que se adivinhava a inveja e a saudade.
Estaremos para além da ignorância,no reino da farsa?
Há mais.
ResponderEliminarFica para mais tarde
Mas não se pode deixar de realçar a forma como jose, à custa da ainda maior deterioração da sua própria reputação, tenta desviar para canto o denunciado de forma notável neste post.
ResponderEliminarDeve-lhe fazer espécie ver-se assim tão bem retratado.
E, no fundo, denunciado