Depois de muitos anos, o Instituto Nacional de Estatística (INE) volta a publicar regularmente, desde o 2º trimestre deste ano, informação sobre o desemprego em sentido lato, agora designado-o por indicador de subutilização do trabalho.
O INE publicava já os valores de cada uma das parcelas que constituem esse indicador, mas não os agregava num indicador.
Ou seja, a subutilização do Trabalho agrega agora os desempregados oficiais (seguindo o critério oficial
de desemprego), os empregados que gostariam de trabalhar mais horas do
que aquelas que trabalham, os inactivos disponíveis mas que não
procuraram emprego e os inactivos indisponíveis para trabalhar na semana em que o INE fez o inquérito.
A nova designação segue as indicações do Eurostat, que segue a metodologia do US Bureau of Labour Statistics, que segue a recomendação da 19ª Conferência de Estaticistas da OIT... de Outubro de 2013!
Trata-se de uma importante informação que, por acaso, há muito tempo muita gente - sindicalistas, economistas, sociólogos, etc., incluindo os autores deste blogue e, há bem mais pouco tempo, o FMI e o Banco de Portugal - já vinha a chamar a atenção, por se tratar de um retrato importante de um novo fenómeno que os indicadores até então oficiais deixavam de fora. Um novo fenómeno que explica porque os salários têm caído tão abruptramente mesmo com uma recuperação da criação de emprego. São mais de 900 mil pessoas que, ainda no 2º trimestre deste ano, gostariam de ter um emprego a tempo completo (16,6% da população activa).
Aliás, se o INE alerta para que este novo indicador pode sobreavaliar a dimensão dos "subtilizados", valoriza a dimensão daqueles que não são abrangidos pelo conceito de desemprego oficial. A taxa de subutilização do trabalho "tem vindo a aumentar" face à taxa oficial de desemprego.
Depois de aumentada devidamente a população activa, verifica-se que a taxa de subutilização do trabalho tem subido, quando comparada com os valores da taxa de desemprego. No 2º trimestre deste ano, era quase o dobro (de 16,6% face a 8,8%), quando um ano antes era inferior (de 19,3% para 10,8%).
Ou seja, o emprego criado parece ter tem absorvido mais "desempregados oficiais" do que "desempregados não oficiais", revelando um problema que a actual situação do Trabalho está a gerar junto de camadas extensas de trabalhadores: a incapacidade do regresso ao Trabalho depois de uma prolongada situação de desemprego.
E isso acontece sobretudo entre as trabalhadoras. A diferença entre a taxa de subutilização do trabalho das mulheres e dos homens é bem maior do que a diferença entre a taxa de desemprego entre homens e mulheres.
Ou seja, a taxa de desemprego não reflecte verdadeiramente muito da desigualdade de género que se passa presentemente em Portugal.
É, pois, de aplaudir esta decisão. Agora, espera-se uma maior consciência política deste fenómeno e, consequentemente, políticas que aproveitem esse novo indicador.
António Costa disse que há menos emprego precário, era bom que provasse o que afirmou! Duvido que o faça...
ResponderEliminarA "União Europeia" diz que a crise acabou pela milésima vez... Agora sim, deve ser verdade!
Já era mais que tempo. Apesar de por cálculo indireto ser possível detetar a elevada subavaliação do desemprego real (vd. Eugénio Rosa, por exemplo), esta informação aqui apresentada é extremamente útil para uma perceção verdadeira da realidade.
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