A Grécia foi confrontada com um ultimato na reunião do Eurogrupo. Sem rodriguinhos. Ou amocham ou estão fora do clube. Ou continuam a aplicar a política que os gregos enxovalharam nas urnas ou serão esmagados. É exatamente disto que se trata. Nesta fase, já não é possível acreditar em equívocos. Se o Eurogrupo for por diante com a sua intransigência, e tudo o indica, trata-se da expulsão da Grécia do Euro. Uma expulsão de facto, porque os tratados não permitem expulsões formais.
A confirmar-se, será o cúmulo da irresponsabilidade e o princípio do fim da Zona Euro, tout court. Mario Draghi disse há cerca de dois meses a quem o quisesse ouvir que era uma ilusão pensar que se podia permitir a saída da Grécia do Euro sem que isso tivesse um efeito dominó. Pelos vistos, os governos da Europa, os da direita como os socialistas, estão disponíveis para arriscar.
O que o eurogrupo está a tentar impor é a continuação de uma política que destruiu a economia e sociedade gregas. O método é consistente com a atuação das instituições europeias: total desprezo pela democracia, pelos direitos sociais ou mesmo pelo único órgão democrático da própria UE, o Parlamento Europeu, nem tido, nem achado, nem falado em todo este processo. Quem apostava na refundação democrática da União Europeia, bem pode tirar o cavalinho da chuva. Quem manda é a Alemanha, ponto, parágrafo.
Pelo contrário, o governo grego não pode, não deve e não vai aceitar semelhante barbaridade. Uma coisa é negociar e fazer cedências, coisas que só o governo grego fez em todo este processo, Outra coisa seria trair de forma grotesca o seu principal compromisso eleitoral. Tsipras e Varoufakis já confirmaram que não o farão. E é exatamente por isso que têm 75% de taxa de aprovação do povo grego. É esse o saldo destes dias. A democracia europeia sempre foi fraquíssima e está a receber o golpe de misericórdia. A democracia grega, pelo seu turno, está a renascer com o governo do Syriza.
Se o agravamento da sua própria miséria, a condenação do seu próprio país, impostas arbitrariamente por déspotas muito pouco iluminados, forem as únicas coisas que os gregos podem esperar da União Europeia, então estou convencido que os gregos preferirão escolher em liberdade o seu caminho. Será um caminho bem difícil, mas eles, ao contrário de nós, terão a vantagem de o percorrer com um Governo que tem dado todos os sinais de que não desistirá de defender o seu país e aqueles que o elegeram.
Esse Governo e esse povo poderão esperar muita solidariedade, se não dos governos, dos muitos cidadãos que, por essa Europa fora, se fartaram de promessas sempre adiadas e se batem por políticas decentes, agora. Não andarão sozinhos.
Milhares de anos depois a Grécia volta a ser o berço da humanidade e da democracia
ResponderEliminarWishful thinking.
ResponderEliminarOntem caíu a máscara a esta União. No dia de uma reunião decisiva do Eurogrupo, o Ministro das Finanças alemão julga adequado começar o dia dando uma entrevista em que declara o governo grego de ser um grupo de irresponsáveis. Depois é o volte face nas negociações que decorriam desde quinta-feira, subjugando a Grécia à prorrogação do memorando que tão bons resultados tem dado.
ResponderEliminarGostei da frase de Schauble, ao fim do dia, dizendo algo como: enquanto o governo grego não aceitar não haverá alternativas. Ou seja, primeiro capitulem, depois negociamos. Deve ser a democracia à moda alemã.
"Quem apostava na refundação democrática da União Europeia, bem pode tirar o cavalinho da chuva."
ResponderEliminarA realidade destrói sempre as ilusões reformistas e pacifistas. Sempre. Contudo, as ilusões reformistas e pacifistas renascem depois, no seio das classes mais hesitantes, que esperam um acordo para as salvar da catástrofe. Arrastam as outras classes atrás de um programa que promete sol na eira e chuva no nabal. Agora têm que escolher:ou a dívida odiosa e a UE, ou as políticas económicas keynesianas de relançamento.
E acabem lá com esse cinismo de pressupor uma democracia que não existe. Tudo nesta vida são relações de poder.
Cumprimentos
Daniel Carrapa, para mim, a mascara da UE já caiu há muito tempo. Desde que começei a querer perceber o porquê das coisas.
ResponderEliminarA União Europeia nunca lidou bem com a democracia.
Esta UE é uma afronta para todos os cidadãos da Europa, até para os alemães. Está ao serviço do sistema financeiro e contra os cidadãos. O curioso, é que tal já é tão evidente que espanta muita gente ainda não ter conseguido vislumbrar isso.
JF
Ou todos carneiros ou saiam do curral.
ResponderEliminarViva o IV Reich.
Nada que já não se sabia antes mas agora feito pelo IWkoeln torna-se mais...oficial?
ResponderEliminarhttp://www.iwkoeln.de/de/infodienste/iwd/archiv/beitrag/eurozone-gute-medizin-schmeckt-bitter-208612
JL
Se a Grécia tivesse que sair do euro haveria certamente perturbação, mas não haveria efeito dominó.
ResponderEliminarÉ o mesmo erro da imagem do "jogo do cobarde", dois carros em rota de colisão um com o outro a ver quem se desvia primeiro, de que se tem abusado até à naúsea.
Os choques de um evento desse tipo são extremamente assimétricos para a Grécia e a União Europeia.
Na verdade, a verdadeira imagem seria a de um pequenino Smart em rota de colisão com um TIR de 40 toneladas.
a tempo de avançar já está a recolher assinaturas para uma petição ao governo grego para que ele ceda. o siryza não leu os posts do daniel oliveira sobre bluff com o ps. a ana draghi está impressionada com o facto de não haver bluff nenhum do siryza. ela que estava exultante com a cedência sobre a nato. afinal não há mais cedência nenhuma.
ResponderEliminarIndependentemente da análise que façamos ao resultado da reunião de ontem, é um facto que as decisões foram tomadas por unanimidade (excepto da Grécia) dos 18 ministros das finanças de 18 países democráticos.
ResponderEliminar“A democracia europeia sempre foi fraquíssima e está a receber o golpe de misericórdia.” Assim o espero.
ResponderEliminarDepois daquela figura sinistra, o Schäuble, ter dado o mote logo antes do encontro com o Eurogrupo, dizendo que o governo grego era irresponsável, não esperei “grandes acordos”. Mais, é inacreditável como todo um país e uma região, estão dependentes dos humores e frustrações do personagem. Perigoso!
Tudo isto é bizarro, a democracia tornada farsa. As pessoas votam para um governo, na esperança de escolherem uma mudança para as suas vidas, e dizem-lhes que isso “não vale de nada”. Há um Eurogrupo, que ninguém elegeu, mas que decide tudo.
Por fim, deixo uma interrogação algo provocadora àqueles que defendem este status quo, que não é seguramente o caso da Grécia: não valeria mais pôr as pessoas a votar para o governo alemão, que é quem manda, em vez de perderem tempo e dinheiro em eleições nacionais?! Pensem nisso.
"Há um Eurogrupo, que ninguém elegeu, mas que decide tudo."
ResponderEliminarHá 18 ministros das finanças eleitos por 18 países que representam esses países no Eurogrupo. E que tomaram a decisão de ontem por unanimidade.
Tudo se encaminha para que se confira, sentado no sofá, se a defesa de que estar no euro é pior para nõs, ou seria melhor; bastando perguntar aos meus amigos gregos daqui a meia dúzia de meses, sem precisar de acreditar nos oráculos, que se têm enganado vezes de mais para o meu gosto.
ResponderEliminarOs responsáveis da Grecia têm feito declarações que me parecem deselegantes, para com quem se vaô falar daĩ a umas horas; aceitáveis talvez no tempo das caravelas que só chegariam daĩ a meses, mas ignóbeis no nosso mundo online.
I rest my case: ninguém elegeu o Eurogrupo.
ResponderEliminarQuando muito, elegeram-se deputados para o Parlamento Europeu, “que nem é tido, nem achado, nem falado em todo este processo”.
Parece já não restarem muitas duvidas que a Europa se encontra hoje debaixo de um regime político monolítico ,aquilo a que em França chamam "o pensamento único". o qual já tinha sido previsto há cerca de 40 anos pelo filosofo francês Jean -Paul Sartre. quando proferiu: "A Europa pode vir a transformar-se numa América Latina."Naquela altura esse subcontinente encontrava-se quase todo ele repleto de de regimes autoritários de extrema direita.
ResponderEliminarAs recentes declarações do Ministro das finanças alemão em relação à Grecia são altamente preocupantes, o que demonstra que aAlemanha de hoje já nada tem a ver com a Alemanha de wylly Brandt, prémio nobel da paz e grande amigo dos países subdesenvolvidos.Talvez possamos perguntar ao Ministro Alemão quem pagou os custos da reunificação da Alemanha.
Os mesmos "muitos cidadãos que, por essa Europa fora", elegeram livremente 18 governos que unanimemente dizem não ao populismo. ao oportunismo chico-esperto.
ResponderEliminarOs gregos não me merecem nenhuma confiança, desde há séculos. Bem sei que não foi este governo que cometeu dislates e crimes económicos (ainda), e que merece ser ouvido, como está a acontecer, por estar em "estado de graça" e com aparentes boas intenções. Mas cuidado, o país é o mesmo, é aquela Grécia falida e corrupta. Limpem a casa primeiro, ou pelo menos comprometam-se a limpar a casa. Ainda não se ouviu nada disso.
!8 governos de 18 democracias representativas valem muito mais que um par de demagogos. E muitíssimo mais que os grupelhos da esquerda falida e mentirosa.
Para mim a grande lição a tirar é que nos momentos decisivos a social-democracia europeia escolhe sempre o lado do capital contra os povos. Onde estva Hollande? E Renzi? Que dizer do Martin Schultz (SPD) e Dijsselbloem (dos trabalhiistas holandeses?
ResponderEliminarNos momentos chave a social-dmocracia europeia alinha sempre (agora como no passado) com os mais poderosos.
Que diz o António Costa e o que dizem os que o querem "empurrar o PS para esquerda" como o Rui Tavaraes ou o Daniel Oliveira?
O governo do SYRIZA está a dar uma enorme oportunidade à democracia. Cabe-nos a nós aprender a lição.
Zé Mexilhão
Oh zé mexilhão, o Tempo de Avançar não tem de responder estas coisas. Só tem de responder pelas partes boas do Syriza apesar da Tempo preferir mesmo é o Dimar. Mas o que a tempo de avançar defende é que tem de haver compromissos e cedências. A democracia é isto. É muito mais realista. Os povos não podem ter tudo de uma vez. As revoluções devem ser feitas com moderação (Daniel oliveira), ninguém está para tempestades, as coisas tem de ser aos bocadinhos. Por isso na Tempo de Avançar, do que eu percebo, e vou votar nas diretas para deputados, defende-se que é preciso ver as prioridades. Ora, a prioridade é dinheiro neste momento, por isso o syriza deve ceder em toda a linha para ter dinheiro nos cofres. Em melhor momento conseguirá ir fazendo coisas. Mas não pode querer tudo de uma vez, tem de se chegar a um consenso para ter uma identidade comum na união europeia (Rui Tavares). E ceder é o melhor caminho. Veja-se a maturidade que a Syriza teve em dizer que isso da Nato não interessa (Ana Drago). É escolher uma prioridade, ceder no resto, e fazer pontes para um consenso europeu, para alcançar as melhores capacidades e possibilidades (manifesto da Tempo).
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