segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
Como é que se diz mesmo democracia em grego?
Sem a complacência dos europeístas rendidos ao ex-Goldman Sachs Mario Draghi, considerado o promotor da salvação dos povos europeus, ainda que por caminhos ínvios como os da sua última decisão soberana (sim, o soberano, incluindo na capacidade de definir a regra e a sua excepção, no decisivo campo monetário é uma instituição antidemocrática controlada pela finança), o povo que saiu à rua em Atenas leu bem as mensagens, brutalmente complementares, enviadas por Frankfurt e por Berlim, pelo BCE e pelo governo alemão, à Grécia, a que se junta esta semana o cerco de um eurogrupo onde a Grécia corre o risco de ficar isolada: “Não à chantagem! Não capitulamos! Não temos medo! Não voltamos atrás! Venceremos!” Chantagem, capitulação, medo, regressão e derrota são mesmo os outros nomes da economia política do euro.
Gostaria – e é mesmo o indispensável optimismo da vontade a falar – que Luís Rodrigues viesse a ter razão no seu comentário ao excelente texto do Jorge Bateira: “Creio que o Governo Grego, sabendo da impossibilidade de convencer os alemães e restante Europa a fazer o que é certo, quer primeiro demonstrar que fez tudo ao seu alcance para o conseguir. Quando a impossibilidade for demonstrada perante todos, o povo grego estará preparado para sair do Euro.”
Neste contexto, a observação de Frédéric Lordon, inspirada numa distinção feita recentemente por Varoufakis, aponta na direcção certa (minha tradução): “Entre a vida austera e a austeridade há um abismo que separa uma forma de vida plenamente assumida da submissão a uma tirania técnica. É certo que a saída do euro não será um chá dançante, mas a política, no sentido mais profundo do termo, consiste em dar voz ao povo e colocar nas suas mãos os termos de uma escolha: até podemos ser, por uns momentos, mais pobres, mas com outra repartição dos fardos e sobretudo num contexto onde a vida austera teria o significado profundamente político de uma restauração da soberania, talvez mesmo de uma mudança de modelo socioeconómico.”
Contra o “Não e Nada, as duas palavras da democracia-europeia-segundo-os-tratados…” (democracia em grego é outra coisa),
ResponderEliminarTsipras não dá mostras de abdicar do plano para tirar a Grécia da austeridade falhada, e já afirmou que não pensa em defraudar a esperança daqueles que votaram Syriza.
Só duas palavras: reconhecimento e apoio!
Muito dramatismo para uma evidência: um país falido que readmite 10.000 funcionários públicos não quer estar no euro nem na UE.
ResponderEliminarBoa viagem...
O mesmo lhes dirá a curto prazo o povo grego.
A história de um "mal menor",
ResponderEliminartem de ser irradiada do campo de decisão dos "representantes",
obrigando a consulta ao...
POVO SOBERANO.
Como quem não quer a coisa, levam os "centros de decisão" para Marte - paraíso dos nomeados -
impondo... "sentido único"!
Para os portugueses o preço a pagar é bem empregue: por 280€ cada eleitor vamos conferir na realidade o que seria se saissemos do euro.
ResponderEliminarQue logo a cabeça nos iria custar 30% de desvalorizçao - o que para um salario anual de 10 mil euros seria 3000€.
O resultado futuro vamos ter tempo de conferir, mas acho que vale a pena o preço que vamos pagar.
Mario Draghi é o grande salvador das empresas norte americanas. Impostos, e tal...
ResponderEliminarÉ que ainda ninguém reparou que a europa ocidental está completamente refém dos interesses norte americanos; políticos, económicos, e de defesa.
É que ainda ninguém reparou que a europa ocidental foi invadida pela USArmy DUAS VEZES no século passado. As consequências só podiam se estas.
O Poder está, e sempre esteve, na ponta das armas...
Apesar de algumas cortinas de fumo, que reclamam por reestruturações da dívida, conferências internacionais sobre a dívida, ..., os últimos dias têm demonstrado que o cerne do problema e das reivindicações do novo governo grego não está directamente relacionado com a questão da dívida. Aliás, neste mesmo blog, essa (falsa) questão já foi desmistificada (http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2015/01/e-se-divida-nao-for-o-problema.html).
ResponderEliminarA questão central (mas escondida pela insistência na questão da dívida pelo próprio governo Grego) está precisamente na última frase deste post: "uma mudança de modelo socioeconómico".
O que não é de estranhar face ao enquadramento ideológico do Syriza e, nomeadamente, do seu ministro das finanças. Convinha apenas que os princípios do novo modelo socioeconómico pretendido fosse melhor explicitado, incluindo se, por exemplo, tem alguma semelhança com o modelo socioeconómico seguido na Venezuela. É que algumas medidas tomadas parecem ir nesse sentido. E aí sim, a escolha dos eleitores (nomeadamente noutros países) seria mais informada.