«Não será preciso muito para se chegar à conclusão de que a culpa (...) é do Governo e das instituições políticas europeias. Ou, ainda melhor, que a culpa é de uma ideia que ainda governa parte da Europa e, em particular, este desgraçado país. E essa ideia tem uma origem e um nome. (...) A origem está nos tempos de Bush II e o nome é trickle down economics (a economia do pingo). Trata-se da tese segundo a qual os grandes devem ter tudo pois, ao terem tudo, deixam pingar recursos para baixo, para o resto da economia. Se não forem tributados, se puderem amassar o máximo de massa possível, acumularão recursos que depois serão largados na economia. Uma ideia com tudo de falso, que esteve nas mentes da troika e do governo por ela assessorado, e que permitiu a Ricardo Salgado andar de um lado para outro sem que ninguém o incomodasse. É importante notar que essa ideia tem muitos apoiantes entre jornalistas, "economistas" (as aspas é que nem todos o são, verdadeiramente) e fazedores de opinião.»
Pedro Lains, O BES e o pingo que não pinga
«Nada há de menos transparente do que a origem e o fluxo do dinheiro numa economia. A opacidade não resulta só dos segredos que são a alma do negócio, mas também de uma má compreensão, teórica e prática, dos mecanismos de criação monetária, que afeta tanto o comum dos mortais, como os supostos especialistas. Parte da opacidade é deliberada. Uma frase, atribuída a Henry Ford, dá conta disso mesmo: "Ainda bem que a maior parte dos Americanos não sabe como na realidade funciona a banca, porque se soubesse havia uma revolução amanhã de manhã." Outra parte é consequência de ideias e teorias económicas erradas. Opacidade deliberada e ideias erradas concorrem para que a atividade financeira, incluindo a do Banco Central, decorra longe do escrutínio público. As decisões dos bancos privados e do Banco Central condicionam o destino coletivo, mas são tomadas à margem de qualquer controlo democrático porque são difíceis de entender e porque as instituições foram desenhadas para as eximir desse controlo.»
José Castro Caldas, Não há dinheiro?
«O escol neoliberal, onde pontifica Carlos Moedas, (...) recentemente agraciado com a comenda de comissário europeu, (...) "explica-nos", todos os dias, que o Estado não deve dispensar tantos recursos com a educação, a saúde, o rendimento mínimo ou o subsídio de desemprego. Pobre é pobre, não precisa de protecção. Também o senhor primeiro-ministro, quando o Tribunal Constitucional recusa propostas governamentais de diminuição de salários ou de pensões de reforma, vocifera contra os juízes e a Constituição. (...) Os exemplos desta "doutrina" são destilados todos os dias: O Estado não tem dinheiro para alimentar, com subsídios, desempregados que não querem trabalhar, como disse o ex-banqueiro Ricardo Salgado; ou os portugueses aguentam muito mais pobreza, como disse o banqueiro Fernando Ulrich. No entanto, o "Estado mínimo" (...), o Estado que não quer aturar gente pobre, nem "tem vocação para economia", está sempre disponível para salvar a banca privada. (...) Esta crise que tudo devora começou, há seis anos, a partir dos desmandos e fraudes do mundo financeiro. Ou se percebe que é aí que reside a maior podridão do sistema imoral em que vivemos ou não há cura que nos salve desta desgraça.»
Tomás Vasques, Imoralidades
Mesmo que se continue no essencial a não passar para lá da espuma das coisas, deixando praticamente intocado tudo o que as alimenta e perpetua, vão sendo cada vez mais perceptíveis, aos olhos de todos, as ideias e as estruturas que nos conduziram até aqui. Os romances sedutores que fizeram o seu caminho (como a «economia que pinga para baixo», quando liberta de interferências públicas e de mecanismos de escrutínio democrático, na senda da gloriosa supremacia dos mercados) e que foram protegidos por um manto, tão vaporoso como eficaz, de ideias falsas (como o «Estado ineficiente», a austeridade purificadora e o «viver acima das possibilidades»), estão a esboroar-se perante as opiniões públicas. Lentamente, demasiado lentamente, o nevoeiro que encobre essas ideias e estruturas vai-se dissipando, deixando assim crescentemente expostas, nas suas contradições, as malhas que de facto tecem, desde há muito, o nosso tempo.
As ligações do BES ao PPD/PSD, já vêm de uma época em que este Partido Político ainda não existia, eu explico, ainda antes do 25 de Abril o Sistema Financeiro comprava os favores dos Políticos, por exemplo, através da facilitação de créditos para compra de acções altamente lucrativas...
ResponderEliminar-Vejam o Caso Sá-Carneiro.
Recuem a 1980 e leiam o que se escreveu nessa altura, sobre esta matéria.
Sempre os mesmos critérios, sempre as mesmas estratégias, os meios utilizados podem ser ligeiramente diferentes, mas os princípios são exactamente iguais, hoje, se calhar, ainda mais promíscuos...
meirelesportuense, desculpe, o que se escreveu em 80 sobre esta matéria. desculpe. procurei e não encontrei
ResponderEliminar-Caso BESCL/Sá-Carneiro.
ResponderEliminarTeve direito a Processo Judicial muito comentado e foi manchete durante muito tempo nos jornais diários da época.
Envolvia Créditos "oferecidos" ainda no antes do 25A a alguns "prometedores" deputados da UN para gestão de sucessiva aquisição e venda de acções em Bolsa e os montantes em dívida -na época, uns largos milhares de contos- nunca foram devidamente pagos ao Banco...Só foram do conhecimento público porque a Banca foi Nacionalizada em 1975 e as CTS meteram o "nariz" onde "não deviam"...Essas dívidas foram sucessivamente "transferidas" da conta inicial aberta em nome de Sá-Carneiro para outras, inclusivé do seu próprio irmão, até desaparecerem completamente...José Roquete esteve metido no assunto até ao tutano...As coisas foram esquecidas por acção natural da morte do próprio Sá-Carneiro.
Mas quem quiser efectivamente saber algo mais consegue descobrir.
ResponderEliminarRui Ochôa (www.expresso.pt) |
9:00 Quarta, 1 de Setembro de 2010
O telejornal da RTP, das 20 horas do dia 20 de agosto, anunciava a expulsão de quatro diplomatas soviéticos, ordenada pelo governo da AD, presidido por Sá Carneiro.
No dia seguinte, cumprindo as ordens do governo, os diplomatas soviéticos apresentaram-se de armas e bagagens no aeroporto, a fim de seguirem para Moscovo. Arnold Kalinine, o embaixador da URSS em Lisboa desde 1974 (na fotografia com os expulsos), acompanhou-os até à saída, perante o alvoroço criado pelos jornalistas e a curiosidade dos passageiros que ali se encontravam.
Este caso, rotulado por Sá Carneiro de "Watergate Vermelho", ocorria em pleno período pré-eleitoral - de eleições legislativas, em outubro, e presidenciais, em dezembro -, e causou grande controvérsia nos meios políticos e jornalísticos. A expulsão dos quatro diplomatas, acusados pelo governo de "interferências em assuntos internos", foi considerada pelos partidos de esquerda como uma resposta de Sá Carneiro ao célebre caso - que o envolvia - das "dívidas" à banca, lançado pelo jornal "O Diário", e classificado de "Watergate português".
O certo é que a expulsão não era virgem, pois já em 1977 o adido naval soviético havia sido considerado indesejável, a par de um outro incidente com um caixote carregado de material de transmissões, que se destinava à embaixada da RDA em Lisboa.
Texto publicado na revista Única de 28 de Agosto de 2010